Yuima Nakazato e a guerra olímpica de Unveil
Yuima Nakazato transforma Paris na Grécia Antiga com sua coleção Unveil na Semana de Alta Costura Outono/Inverno 2024-25
O estilista Yuima Nakazato, em sua coleção Unveil, remonta o palco do espetáculo da ópera de Mozart, Idomeneo. Com teatralidade e espiritualidade, os espectadores navegam por uma guerra contemporânea, podendo ver muito tricô e esculturas de cerâmica.
Vamos juntos desbravar a Unveil e ver como foi o desfile!
A coexistência reverbera na Alta Costura de Yuima Nakazato
Em um clima de Jogos Olímpicos, contrapondo-se às guerras que estão ocorrendo no mundo, Yuima Nakazato apresentou uma obra regada de espiritualidade e teatralidade, que, inegavelmente, se volta à natureza de uma humanidade imutável, frágil e complexa.
A coleção Unveil desfilou no Palais de Tokyo, em Paris, e propôs uma espécie de coexistência harmônica dos povos porque, como o próprio estilista diz: “Todos os seres humanos têm o vermelho dentro do corpo“, afirmou Nakazato. É como se fizesse uma súplica às autoridades globais, para que relembrem o porquê celebramos os Jogos. Um pedido de paz.
Alfaiataria, tricôs e estampas foram o norte de Unveil (Fotos: Reprodução/Instagram @yuimanakazato)
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Unveil e Idomeneo re di Creta: moda e arte andam juntas
Sua coleção foi norteada pela inspiração no seu recente trabalho nos figurinos da Ópera de Mozart, Idomeneo re di Creta. Na obra cênica, que aborda a guerra e as relações humanas na Grécia Antiga, as armaduras dos soldados deram lugar a incríveis “armaduras contemporâneas”. Feitas em alfaiataria ou estilo de vestes cerimoniais, elas cobrem peças tricotadas manualmente em um delicado fio vermelho.
Além disso, com a intenção de apagar a funcionalidade nas vestes dos guerreiros, Yuima Nakazato transforma sua criação em obras puramente decorativas. Ele inverte o sentido das roupas, como se quisesse frear os conflitos, remontando tudo em um palco sagrado para a união.
Deus mora nos detalhes de Unveil
As delicadas cerâmicas feitas em argila japonesa, pelo atelier de Yuima Nakazato, se assemelham ao aço das armaduras da obra. Combinadas com roupas de malha, espartilhos e cintos, remontam os trajes de guerra de uma forma poética no ballet. Aliás, o conjunto veste os dançarinos que compõem o cenário e, ao comando de Sidi Larbi Cherkaoui, coreógrafo que colaborou com o estilista na peça de ópera, recriam o “som da guerra”. Uma sonoridade que orna e arranha a musicalidade clássica do desfile, quase como um ritual.
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Por outro lado, o styling dos modelos é guiado por tricô e alfaiataria em conjunto com preto e vermelho. Tudo é muito bem adornado por joias de pérolas negras feitas pela Mikimoto, empresa japonesa centenária focada em joalheria. Além disso, as estampas presentes foram feitas em impressão digital e a beleza ficou encarregada pelo artista Hirofumi Kera.
Detalhes de Unveil (Fotos: Reprodução/Instagram @yuimanakazato)
A cenografia do desfile
Dentro do Palais de Tokyo, em Paris, o cenário transformou-se em uma tensão ritualística ao espectador. Tudo envolto pela escuridão com pontos de luz vermelha ornamentais, remetendo os cordões vermelhos da ópera de Mozart, reconstroem o Mar Mediterrâneo. A iluminação central fraca, somada com a presença de espelhos ovais no chão, nos faz pensar que estamos olhando a guerra sob a luz da lua refletindo no mar. Certamente, isso se intensifica mais ainda com o barulho das cerâmicas do corpo de dança, onde o exército principal são os modelos em sua marcha rítmica perfeita.
Novos caminhos para Yuima Nakazato
Esperamos novos desdobramentos do estilista. Dessa forma, para onde vamos viajar no futuro? Serão novos desfiles em estilo ritualístico como os de agora? Ou haverá forte presença de sua cultura nipônica?
Sendo assim, é incrível quando entramos na história contada por Yuima Nakazato. Nos deparamos com o original significado das olimpíadas sendo confrontado pelas constantes guerras que nunca cessaram desde Creta à contemporaneidade. Parece até mesmo um circo, onde a farsa e a arrogância das grandes nações são as protagonistas.
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Escrito por: Felipe Pereira / Editado por: Clara Molter Bertolot
Um comentário
Bruna
Ameiiii, análise perfeita como sempre