Sunnei: Na contramão do óbvio mais um vez
Na temporada passada, eu me aproximei um pouco mais pela Sunnei e com o passar do tempo a minha admiração nasceu, cresceram os galhos e floresceu. Apenas para refrescar a memória, a Sunnei, naquele momento trouxe um fashion show interativo, em que os modelos se lançavam na plateia que levavam eles como que em uma onda, um mar de gente. Com uma alfaiataria minimalista, a casa italiana surpreendeu a todos e remonta à marcas como Avavav, em que lixos eram lançados nos modelos pelos convidados, criando dinamicidade no desfile.
O Impacto
Em 2024, a Sunnei causou um burburinho no seleto mundo da moda. Com um casting composto exclusivamente por idosos, sim, você não leu errado, a marca foi assunto por todo globo. E em uma situação como essa é impossível manter a impessoalidade jornalística que o ato de reportar o fato, exige de nós, profissionais do texto. Por alguns segundos, me permita dizer, de mim mesma, o quanto esse feito é incrível. Eu fiquei extasiada por ver aqueles modelos tão compenetrados na passarela, tão adequados a linguagem corporal que o fashion exige, confesso.
Foi uma quebra de expectativa (quando o assunto é semana de moda, sempre esperamos mais do mesmo, principalmente se tratando de corpos) mas ao mesmo tempo uma reconstrução, isso porque foi uma demonstração clara de que para essa profissão não há barreiras embora muitas tenham sido construídas quase que de titânio (como é difícil remover os marcos).
A Lição
A grife demonstra que não devemos nos prender a certas marcas, em um mundo em que a capacidade criativa é a mãe de todas as coisas. E a criatividade é diversa e não pode ser medida, contida, enquadrada, ela apenas é o que é, simples assim. Ela pode o que a gente quiser. É como uma argila nas mãos do artesão, de acordo com o desejo dele terá uma forma.
A Sunnei moldou muito bem a sua argila nessa temporada. Os artesãos? Simone Rizzo e Loris Messina, os diretores criativos e fundadores que comemoraram os 10 anos da marca com louvor.
O casting deu aquele toque todo especial à coleção que evocou esses conceitos de velho e novo que nos atravessam o tempo inteiro, e no mundo da moda não é diferente. Em um dia, uma tendência surge, novinha em folha, com aquele frescor que reservamos apenas aos mais jovens, contudo, os meses passam, e se torna datado, antigo, velho. Percebe?? Por que precisamos dar essa volta e transportar peças para esse lugar velho? Aliás, por que nós precisamos envelhecer completamente e desistir de lutar e conservar aquela nossa parte jovem? É possível equilibrar o passado, o presente e o futuro.
E é justamente para ajustar esse equilíbrio que a coleção foi criada. “[…] A ideia era celebrar a passagem do tempo”, afirmou Messina à Fashion Network. De acordo com ele, comemorar uma década da marca foi uma mola propulsora para a produção do que vimos na passarela na semana passada. “Depois de 10 anos neste negócio, sentimos que vivemos muito mais, como uma vida longa. Durante esse período, a nossa moda mudou, evoluiu conosco. O casting foi escolhido com base na nossa identidade visual que é marcada pela diversidade e multiculturalidade […]”.
A Coleção em Si
A Sunnei, naquela primeira olhada, mesmo para quem não tem afinidade com os pilares da marca, é quase que intuitivo perceber o futurismo, o moderno e as formas nas peças. Não é simplesmente minimalista, é algo mais. É um encontro intermediário, uma harmonia entre o clean, o moderno, o colorido, ou sóbrio, a assimetria com a simétrica. Alfaiataria com um toque esportivo, estampas diferentes, jeans com lavagens belíssimas. O balonê (o retorno da peça que remonta os anos 2010 tão comentado nos últimos tempos) foi executado de maneira única que deixou aquele vestido laranja ainda mais brilhante.
Durante o desfile esse volume aparece de diferentes formas, em sobreposições.
Os Acessórios
Nomeados como PELOTÍSSIMA, os sapatos exibidos pareciam confortáveis, não só pelo material escolhido para construí-Los, como também por causa das molas que há abaixo que acredito ser um fator que ajuda e muito a deixar a caminhada mais fácil.
Basicamente é o tipo de sapato que quando você usa, parece que você não tem nada nos pés. Quando bati os olhos neles, na hora me lembrei do Nike Shox, confesso. Maxi bolsas, chinelos, plataformas, óculos, estavam presentes na composição dos looks.
A Seda
Nessa temporada a seda marcou presença mas fez isso de modo mais exclusivo. No Instagram da marca há várias fotos, com desenhos diferentes, que foram feitas por nada mais, nada menos, que Marylène Fantoni, durante a década de 80. As mãos da mãe de um dos fundadores da Sunny constroi essa ideia de uma distopia futurista que encaixa com a ideia que sustentou essa temporada.
A nível de curiosidade, uma informação: a inteligência artificial foi cotada para ser a desenhista dessas sedas, mas o resultado foi um fiasco. Dito isso, tem certas situações que nada substitui um belo par de mãos humanas.
A Spring Summer 2025 Show da Sunnei aconteceu na Lia Rumma Gallery, em Milão, e realmente fez juz ao nome, foi um show.
Escrito por: Isabella Jacoud | Editado por: Flávia Pereira