Stéphane Rolland apresenta “Origens”, uma homenagem ao legado de Joséphine Baker e Constantin Brâncusi
Na coleção primavera/verão 2025, o designer destaca a liberdade de expressão como essência da moda, unindo arte e história em uma narrativa de criatividade e inovação.
No icônico salão de concertos Salle Pleyel, localizado na 252 Rue du Faubourg Saint-Honoré, em Paris, Stéphane Rolland revela de forma intimista sua coleção de alta-costura primavera/verão 2025.
Ao som delicado de um piano, a voz doce de Joséphine Baker (1906-1975) ecoa pelo espaço, evocando a fraternidade e a diversidade que sempre defendeu. A artista, dançarina e ativista negra, homenageada na coleção, construiu sua “Tribo Arco-Íris” ao adotar 12 filhos de diferentes nacionalidades, personificando sua crença em um mundo unido pela inclusão e pelo amor.
Outra grande referência da coleção é Constantin Brâncuși (1876-1957), o escultor romeno que revolucionou a arte ao reduzir formas naturais à sua essência. Suas obras, como Bird in Space, Sleeping Muse e The Endless Column, não buscavam a reprodução fiel da realidade, mas sim capturar sua alma e movimento. Essa busca pela pureza da forma dialoga diretamente com o trabalho de Rolland, conhecido por suas silhuetas arquitetônicas e volumes esculturais.
Isso não é apenas uma teoria. Nas grandes temporadas de moda, é comum que os designers contextualizem suas coleções, seja por meio de uma narrativa sobre o processo criativo ou das referências que os inspiraram. No caso de Origens, Stéphane explica:
“Como dois seres conquistaram o mundo com sua liberdade de expressão. Pioneiros e figuras de vanguarda; Joséphine dança e canta, Brancusi esculpe e Paris é incendiada. Ambos levaram sua arte à sua essência mais fundamental.”
A Maestria da Construção de Rolland
Em um ambiente escuro, com apenas cortinas brancas suavemente iluminadas por onde as modelos adentravam ao desfile, Stéphane Rolland constrói uma atmosfera dramática, em que pedaços de tecido ganham vida em criações que traduzem movimento e imponência.
A paleta de tons terrosos – branco, preto, marfim e dourado -, reforça a sofisticação da coleção. Definitivamente, não é a mais colorida do designer, mas isso se torna irrelevante diante da execução impecável. Vestidos esvoaçantes, ombros ousados, franjas, transparências e joias tão brilhantes quanto as que Baker usava em suas performances de estética art déco. Um exemplo perfeito é sua personagem no filme francês mudo La sirène des tropiques (1927).
O brilho dos acessórios remete a Joséphine, enquanto suas formas, precisas e fluídas como penas, evocam diretamente a escultura Bird in Space, de Brâncusi. Além disso, os bordados delicados em gazar e cetim ébano, combinados com cortes minimalistas, expressam a silhueta de maneira absoluta, como se o próprio escultor os tivesse executado. A estética geométrica se estende também à beleza das modelos, cujos penteados, meticulosamente esculpidos, ampliam a sensação de harmonia e domínio técnico.
Alta-costura Beneficente
Mostrando-se à frente de seu tempo, o estilista francês decidiu transformar o desfile em um movimento solidário. O evento foi realizado no âmbito da Opération Pièces Jaunes, e todo o lucro foi doado à Fondation des Hôpitaux, organização que apoia projetos para melhorar a vida dos mais vulneráveis nos hospitais franceses.
A arrecadação resultou da venda de convites, que custavam entre vinte e cinquenta euros, tornando possível a participação de um público além do tradicional circuito de luxo em um evento extraordinário do universo da moda.
O Grand Finalé
Como um último suspiro, a modelo canadense Coco Rocha encerra o desfile vestindo uma verdadeira escultura viva. O vestido de noiva, majestoso, se desdobra em penas que se projetam do tecido, sugerindo asas abertas, prontas para alçar voo, em um símbolo de liberdade e autenticidade.
Escrito por Giovanna Bassi | Editado por Flávia Pereira