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Por Trás do Glitter: Como Chappell Roan Está Redefinindo o Pop

Quando Chappell Roan entra em cena, não é apenas uma cantora que aparece — é um universo inteiro. Com perucas exuberantes, maquiagem exagerada e figurinos que parecem saídos de um baile drag dos anos 1980, com pitadas de nostalgia dos anos 2000, a artista transforma cada palco em uma extensão de sua própria mitologia pop.

Mas por trás do glitter e da teatralidade, há uma narrativa pulsante: a de uma mulher queer contando histórias com humor, dor, desejo e empoderamento. Seu estilo, tão marcante quanto suas letras afiadas, é mais do que estética — é narrativa em alta voltagem, onde moda, música e identidade se entrelaçam para criar uma das vozes mais autorais da nova geração do pop.

Origem e Conquistas de Chappell Roan

Chappell Roan estourou nas paradas de sucesso após sua apresentação no Festival Coachella de 2024, depois de lançar seu primeiro álbum, “The Rise and Fall of a Midwest Princess”, em 2023 — que inicialmente não obteve grande repercussão. Na ocasião do lançamento do segundo álbum de Olivia Rodrigo, “Guts”, Chappell participou da turnê como artista de abertura em alguns shows e também colaborou com vocais no disco.

Nascida Kayleigh Rose Amstutz em Willard, Missouri — região conhecida como o “Cinturão da Bíblia” —, Chappell Roan adotou seu nome artístico em homenagem ao avô, Dennis K. Chappel, cuja música favorita era The Strawberry Roan.

Aos 27 anos, a artista já coleciona feitos impressionantes: em 2024, foi indicada a seis categorias do Grammy Awards e levou para casa o prêmio de Melhor Artista Revelação.

Moda como narrativa: A Linguagem Visual de Chappell Roan

Para compreender melhor a relação entre a narrativa de suas músicas, seus figurinos e sua identidade, conversamos com a consultora de Imagem, Estilo e Produção de Moda (IFPR), que também é estudante de Comunicação e Multimeios pela UEL – campus Maringá, Lola Moura.

Jarina: De que forma o visual de Chappell Roan reforça a narrativa presente nas letras de suas músicas?

Lola: Em primeiro lugar, é importante enfatizar que o estilo de Chappell é construído por ela e pela stylist Genesis Webb, de forma que ele seja sempre dramático, em sua essência, o que é reforçado em sua performance artística e sua música, que vão além do pop dançante de Red Wine Supernova e Hot To Go! Ele está presente em diversas de suas canções, como os hits Good Luck, Babe! e My Kink Is Karma, ou as mais amadas pelos fãs, como Casual.

Além disso, ao analisar o que a cantora veste, não podemos deixar de falar sobre as referências à comunidade LGBTQIA +, especialmente as Drag Queens, aos quais ela faz uma ode em sua canção Pink Pony Club.

E claro, por último, mas não menos importante, uma característica sempre presente em seus looks e que se reflete em sua música é a confiança, representada na canção Super Graphic Ultra Modern Girl. A questão é, fabricar alguém na indústria que se veste como a Chappell é possível, mas só sua confiança como artista e performer fazem as roupas significarem o que elas significam.

Jarina: Você acredita que o trabalho dela representa uma nova fase do pop queer? Por quê?

Lola: Acredito que sim, especialmente quando falamos sobre o pop sáfico, que carece de representatividade, e a Chappell traz esse ar de renovação como inspiração para as garotas que amam outras garotas se expressarem artisticamente sobre seus sentimentos.

Na mesma onda de artistas como a Chappell, vem a Reneé Rapp, por exemplo, que assim como ela, trazem consigo uma postura e posicionamentos muito fortes que as destacam na nova geração.

Jarina: Como a teatralidade e os figurinos de Chappell Roan dialogam com ícones do passado e, ao mesmo tempo, criam algo novo?

Lola: Existe um trabalho conceitual incrível em busca de inspiração que Chappell e Genesis Webb fazem. Suas maiores referências estão nas Drags Queens que a abraçaram como parte da comunidade artística, além de obviamente haver a inspiração em artistas como Lady Gaga e Madonna, que são ícones de suas gerações, mas não ficaram no passado, portanto é importante ressaltar que as referências de Chappell não estão numa realidade longínqua, elas continuam na ativa, o que reforça a importância de um visual que não caia apenas na repetição, mas que se cria como inovador e único.

No trabalho de Genesis Webb, ela pesca as referências de Chappell e as mistura num caldeirão, criando uma nova estética que é sustentada pelo personagem, essa imagem é única, feminina, ousada, com toques de estrela do rock, filmes de horror e um bom humor ácido.

A artista não tem medo de assumir riscos e de parecer até cartunesca às vezes. Mas o que é interessante de pensar é que tudo é intencional e serve a narrativa da personagem construída, dessa mulher destemida que está no palco cantando sobre suas vulnerabilidades e enfrentando o mundo como uma mulher lésbica que coloca seu corpo à representatividade da estética de uma comunidade.

Chappell conta que seu estilo é uma forma de honrar sua criança interior, e nada mais poderoso que uma mente que se deixa levar pelos sonhos e mente de uma criança finalmente liberta para ser quem sempre quis.

Jarina: Quais são os elementos mais marcantes do storytelling de Chappell Roan e como eles se destacam na cena atual da música pop?

Lola: Chappell está criando um ambiente em que há uma efervescência da autenticidade e excentricidade, e isso abre portas para que outros possam ocupar esse espaço também.

Em uma era de clean girls e com a crescente do conservadorismo, o pop está carente de certa transgressão e diversidade imagética, e ela pode liderar esse movimento para uma nova geração de pop girls.

Jarina: Como o público responde a artistas que misturam tão fortemente estética e identidade pessoal? O caso dela é um diferencial?

Lola: Apesar da identidade Chappell Roan ser um personagem criado artisticamente, a cantora tem uma personalidade forte e até polêmica, o que se encontra com aquilo que ela expressa esteticamente, no sentido de que às vezes pode causar desconforto e estranhamento.

Mas apesar de causar alguns tumultos com seus posicionamentos e personalidade, acredito que isso também traz uma forte identificação com seu público e essa nova geração, que não aceita condições de trabalho desumanizadoras ou ser tratado como objeto pelas mídias.

Tanto no visual quanto na personalidade, ela constrói uma imagem única e disruptiva, que cativa o público e o aproxima dela, mas que também, com a fama e a atenção, não tem como não conquistar sua cota de haters.

O Fandom e o Impacto Cultural

Para entendermos também a dimensão do público que se identifica com Chappell Roan, entrevistamos a comunicóloga graduada pela UFMA e fã da artista, Ísis Brito.

Jarina: O que mais te chama atenção no estilo da Chappell Roan — visual ou musicalmente?

Ísis: Como ela trabalha a moda para contar uma história como artista e ícone. É uma artista jovem que realmente fez a pesquisa e quer trazer parte da história da comunidade queer para a mídia. Acho que me apaixonei assim que vi ela se apresentando como Divine, uma ícone drag do cinema. Consigo ver muito da Divine e de tantas outras nela.

Jarina: Você sente que as músicas dela contam histórias que te representam ou que falam com sua vivência?

Ísis: De certa forma, sim, ela fala bastante sobre esse não pertencer, mas eu não sinto “coitadismo” disso. Vejo que ela se abraça completamente como artista e mulher. Eu poderia dizer que My Kink Is Karma também.

Jarina: Como você descreveria a estética dela em uma palavra ou imagem?

Ísis: Teatral.

Jarina: Você acha que ela está mudando a forma como artistas pop se expressam hoje?

Ísis: Eu espero que sim. Vejo que existe essa eterna necessidade de lançar artistas cada vez mais jovens e mais alinhados com o que é tendência de consumo no momento. A Chappell é uma mulher que ainda configura certos padrões, mas não vejo isso sendo abraçado ou entendido pelo que ela é. Ela realmente se entende e se vende como uma artista com opiniões e referências próprias. Espero que outros artistas tragam a mesma bagagem para os seus trabalhos. Não precisa gostar de pop para querer que a arte mainstream tenha mais personalidade.

A singularidade de Chappell Roan reside na simbiose entre sua música contagiante e sua persona visual que impacta, criando uma experiência artística que ressoa profundamente com uma nova geração.

Longe de ser apenas um artifício de marketing, seu estilo extravagante e referências culturais atuam como uma extensão natural de suas letras confessionais e empoderadoras, oferecendo um espaço de celebração para a autenticidade e a autoexpressão.

Sua trajetória, marcada por uma recente consagração no Grammy, sublinha o poder de uma visão artística coesa e destemida, capaz de inspirar e influenciar a cena pop contemporânea, ao desafiar normas e abrir caminho para vozes e estéticas mais plurais.

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Escrito por: Jarina Milena  | Editado por: Gabriella Lima

Estudante de Audiovisual, Redatora, Cientista Social e Fotógrafa gótica e indie que ama escrever, criar e estar antenada no mundo da moda, cinema e afins. Moda é comunicação, expressão e vinculação social, portanto ela ama utilizá-la como uma ferramenta para mostrar como está se sentindo no dia, com senso crítico e questionamentos. Ama um sorvete de casquinha mista, viajar e sair da rotina quando possível.

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