
Milan Fashion Week SS25: Fendi mantém linguagem atrelada à linhagem e luxo em nova coleção
A Fendi, prestes a comemorar seu centenário, reafirma sua estética de luxo artesanal e herança familiar em sua mais recente coleção. Kim Jones, um mestre na arte de editar – ou seria remixar? – mergulha na história da casa sem perder a oportunidade de questionar: até onde o “moderno” é realmente novo? Talvez, na moda, o eterno seja apenas uma boa campanha de reedição.



Herança familiar e o artesanato se reafirmam
O desfile abriu com uma série de vestidos de cintura baixa, etéreos, com gráficos Art Déco e bordados de botânicos. Jones, claro, evita qualquer literalidade: não há nostalgia do flapper aqui. Em vez disso, ele reconfigura essas referências como slip dresses dos anos 90 ou híbridos de sportswear, trazendo o passado ao presente como se fosse um ciclo sem fim, ou um truque semiótico calculado para garantir relevância.
O que realmente sustenta essa narrativa visual é a colaboração intergeracional – quase um ritual de passagem familiar – onde o artesanato e a herança feminina tornam-se indissociáveis. Silvia Venturini Fendi cria os acessórios, sua filha Delfina desenha as joias, e no centro de tudo, ecoa a voz de Anna Fendi, discutindo moda e beleza com Silvia, quase como se fossem deuses deliberando sobre a criação. A semiótica do “feminino” aqui vai além de simples parentesco: é um ciclo simbólico de poder e continuidade, onde cada geração de Fendi reescreve e reafirma seu lugar na moda global.



Jones é hábil em manipular os códigos visuais da marca, especialmente o uso da cor. O bege shearling e o Cuoio Romano (aquele ocre icônico da Fendi) aparecem em peças que vão de robes a coletes em malha, remetendo ao DNA clássico da casa. Contudo, há sempre uma torção: o crocodilo branco, símbolo de opulência, aparece disfarçado em T-shirts, questionando o luxo e sua praticidade no cotidiano.
Acessórios icônicos e inspiração feminina
A princípio, falando em ironia, as botas mocassim criadas em colaboração com a Red Wing são um golpe de mestre semiótico. Combinadas com vestidos florais e meias delicadas, elas desafiam a suavidade tradicional do feminino, oferecendo uma visão grunge do que é “família e indústria feminina”. Jones brinca aqui com a contradição: o que é mais feminino, o trabalho manual ou a delicadeza visual? E, mais importante, quem decide?



A Baguette, claro, tem seu momento de glória. Ela volta maior, mais franjada, adornada com curiosidades e joias, quase como um altar de adoração ao comercialismo dos anos 90. Fendi revive sua era dourada de “nirvana comercial” como se estivesse nos lembrando que a moda, no final das contas, é também um exercício de memória seletiva.
Por fim, a coleção reflete a própria ambiguidade do “moderno”, que Jones tanto gosta de explorar: o moderno é apenas uma atualização de algo já visto, ou um ciclo de ressignificações? Em Fendi, o moderno é ambas as coisas, onde cada peça, como cada geração de mulheres na família Fendi, é única, mas complementa a anterior.



A fala de Anna Fendi – “Vocês são como uma mão. Há cinco dedos, todos diferentes, mas complementares” – ressoa como a declaração final sobre o verdadeiro DNA da Fendi. Aqui, o marketing e a semiótica se fundem para contar uma história de continuidade, inovação e, claro, a insistência da moda em sempre retornar ao ponto de partida.
Assista o desfile na íntegra:
Imagens reprodução: Instagram da Fendi
Escrito por: Caroline Menis | Editado por: Flávia Pereira


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