
Acne Studios SS26: recosturando o papel de gênero com couro e rendas
Jonny Johansson apaga fronteiras de gênero em uma coleção ousada, fluida e eletrizante
Em 1º de outubro de 2025, o Collège des Bernardins, com suas abóbadas góticas e atmosfera quase monástica, se transformou em um palco de rebelião sartorial. Ao som remixado de “Robotboy, de Robyn & Yung Lean, a Acne Studios SS26, apresentou um desfile que mais parecia um manifesto. A mensagem era clara: borrar os limites entre o masculino e o feminino, entre o dia e a noite, entre a contenção e o excesso.
Jonny Johansson, cofundador e diretor criativo, deixou claro em suas notas: “Sempre achei que a criatividade consiste em ver o mundo de maneiras que não sabíamos que existiam”. E foi assim que a passarela entregou uma versão aumentada da realidade, onde couro e renda, alfaiataria e transparência, disciplina e sensualidade coexistem.
Peças de destaque da Acne Studios SS26
O desfile abriu com blazers oversized em couro queimado, usados sobre calças de corte reto, num contraste entre poder e casualidade. Logo em seguida, surgiram vestidos de renda desconstruídos, quase desmanchando-se no corpo, revelando uma sensualidade crua.
Outro momento memorável foram os casacos de camurça, seguidos de jaquetas de couro em efeito espiral, jaquetas bikers oversized combinadas a calças brilhantes em uma construção que oscilava entre o intimista e o selvagem.
O tricô ganhou uma reinterpretação numa modelagem bem cavada e com efeito vazado na região peitoral. Uma delas trazia uma imagem estampada de um olho melancólico, que deu um ar conceitual e artístico para uma peça casual. Nos acessórios, as maxi-bolsas, com destaque para franjas e fivelas, reforçaram a atitude ousada, equilibrando peso e brilho.



Jaquetas e blazers oversized, tricôs com detalhes vazados foram destaque da coleção (Reprodução/Acne Studios)
Cores e materiais: o couro como eixo central
O couro foi o grande protagonista do defile de primavera/verão da Acne Studios, mas em versões múltiplas: queimado, em suede, com aspecto molhado, e até reinterpretado em botas de cowboy exageradas, com bicos afiados e cabedais inflados. Essa pluralidade do material revelou o quanto ele é maleável, capaz de se reinventar, da cabeça aos pés.



O couro foi protagonista na coleção de Acne Studios SS26 (Reprodução/Acne Studios)
A paleta transitou entre branco impecável na alfaiataria, o conhaque e tons de bege e nude, preto profundo, e toques vibrantes de brilho metálico, criando um cenário visualmente rico, mas sem perder coesão. As flanelas xadrez, que em alguns looks foi combinada à transparência, adicionaram uma camada de grunge delicado, revelando como Johansson sabe manipular códigos culturais distintos sem perder a sofisticação.



Entre o masculino e o feminino
A casa de moda sueca sempre teve um pé na experimentação, mas, desta vez, Johansson levou o diálogo de gênero a outro patamar na Acne Studios SS26. Looks femininos foram construídos a partir de peças arquetipicamente masculinas, como botas de trabalho e jaquetas estruturadas, mas estilizados de forma a revelar vulnerabilidade e desejo.
As regatas transparentes e as malhas recortadas funcionaram como contraponto à rigidez dos blazers, criando um jogo de opostos que simboliza a dissolução das antigas normas de feminilidade. O resultado é um guarda-roupa que não dita quem você deve ser, mas oferece ferramentas para escrever a sua própria narrativa.
Dessa forma, a SS26 da Acne Studios foi menos sobre roupas e mais sobre possibilidades. Sob a arquitetura gótica do Collège des Bernardins, Johansson construiu uma coleção que rebate os códigos de gênero, algo que também foi explorado na beauty do desfile, com modelos com o cabelo curtinho e repicado e make quase zero.
Couro, renda, alfaiataria e transparência se costuraram para mostrar que a moda é liberdade e lente para enxergar o mundo de outra forma. No fim, a Acne Studios continua seguindo com o seu propósito de servir rebelião.
Escrito por Shayla Gabriela Silva | Editado por Ana Carolina Gomes

