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Xadrez em Cena: Moda que Vai Além da Festa Junina

Nos meses de junho e julho, o xadrez volta com força total ao guarda-roupa brasileiro, afinal, ele é o grande protagonista dos looks de festa junina. No entanto, a estampa vai muito além das tradicionais camisas e vestidos caipiras. Do tartan escocês ao vichy romântico, o xadrez já passou por subculturas, passarelas e street styles ao redor do mundo, e continua se reinventando. 

Agora, você vai descobrir os principais tipos de xadrez e como usá-los tanto nos arraiás quanto em produções estilosas para o dia a dia. Além disso, entrevistamos a designer de moda e professora do Istituto Europeo di Design Vitória Flores, que nos contou como brincar e arriscar nas estampas. Fique por dentro!

Foto: Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil

A origem da estampa xadrez

Não se sabe exatamente quando e onde a estampa xadrez surgiu, entretanto, ela ganhou destaque no século XVI, na Escócia, com o surgimento do tartan.

Caracterizada por uma padronagem de listras horizontais e verticais entrecruzadas, a estampa forma quadros de diferentes tamanhos e cores. Feito originalmente em lã e usado em saias (os tradicionais kilts), o tartan não era apenas uma questão de estilo, mas de identidade e território, já que cada combinação de cores e traços representava um clã escocês, quase como um brasão visual.

Ao longo dos séculos, o xadrez se espalhou pelo mundo, gerando variações regionais e estilísticas como: o Vichy francês, o Madras indiano e os padrões associados à moda inglesa e americana. 

Vitória Flores explica que a estampa é, sem dúvidas, uma das “mais atemporais e versáteis do mundo”. Visto que, ela se mantém presente não apenas na moda, como também no design e até em decorações.

No Brasil, a padronagem chegou com a influência europeia e se fixou como um dos ícones visuais das festas juninas e festas de peão. Nesse sentido, Vitória explica que, no país, “o uso do xadrez ganha um recorte particular devido ao clima predominantemente quente e à preferência por tecidos mais leves”. Confira agora nove tipos de xadrez!

Tartan

Originário da Escócia, o tartan é o xadrez mais icônico. Carregado de história, ele possui linhas horizontais e verticais que se cruzam em diferentes espessuras e cores. Abraçado pelo movimento punk inglês e pela alfaiataria contemporânea, muitas vezes associado a kilts e casacos pesados.

Vitória afirma que o tartan e o vichy são os tipos de xadrez mais utilizados nas festas juninas nacionais. Geralmente, em tons de vermelho, que harmoniza bem com as demais cores presentes na festividade.

A designer de moda explica que, para além de essas duas padronagens assemelharem-se à estética campestre europeia, “sua popularidade também se deve à existência de diversas bases de tecido com preços acessíveis, o que facilita a confecção e torna o uso dessas estampas ainda mais flexível e democrático”.

Além da festa junina, ele é usado em saias, calças, vestidos, blazers e conjuntos e cai super bem com acessórios de couro, como coturnos e  jaquetas, trazendo um ar mais moderno.

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Vichy

O Vichy é um xadrez de quadradinhos pequenos e regulares, geralmente em duas cores, como as toalhas de piquenique. A estampa tem esse nome por ter sido produzida em grande escala na cidade de Vichy, na França.

Nos anos 1950, graças a ícones como Brigitte Bardot, o Vichy ganhou sua fama. O padrão foi usado até no vestido de seu casamento com Jacques Charrier, em 1959.

Para Vitória, o vichy, junto como checkerboard (também conhecido como quadriculado) são os mais buscados pelos brasileiros no dia a dia. Isso porque, “ambos transmitem uma estética mais fresca e leve, podendo ser encontrados em infinitas combinações de cores, ou até mesmo em versões monocromáticas, se adaptando com facilidade às preferências e ao estilo de cada pessoa”.

Atualmente, o vichy está em alto com jeans claros, saias midi e lacinhos para um visual retrô-chique, delicado e feminino.

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Príncipe de Gales

Inicialmente, essa padronagem ganhou destaque quando Edward VII passou a usá-la com frequência. Desde então, passou a ser geralmente associada à alfaiataria clássica, e a mistura de diferentes tipos de quadros e listras em tons neutros, como cinza e preto, é considerada sofisticada.

O xadrez príncipe de Gales costuma ser estampa de conjuntos de blazer e calça ou short. Além disso, quando combinado com tênis e cores vibrantes, esse tipo de xadrez torna-se ideal para o trabalho ou eventos formais.

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Buffalo

O xadrez buffalo possui quadros grandes e bem marcados, geralmente em cores contrastantes como vermelho e preto. Originado nos Estados Unidos no século XIX, ele ficou famoso por ser usado por lenhadores e trabalhadores rurais, explicando sua forte associação ao estilo country e western.

Nas festas juninas, as pessoas usam o buffalo como um verdadeiro curinga, em peças como casacos oversized, saias e vestidos, combinando-o com sobreposições, gorros, tênis e peças em couro.

Pied-de-Poule

O pied-de-poule tem sua origem no século XIX, na França, e sua tradução literal significa pé de galinha. Uma vez que a padronagem assemelha-se às pegadas deixadas por essas aves. 

Esse tipo de xadrez, símbolo de elegância e sofisticação, passou a ser conhecido após Coco Chanel eternizá-lo em suas peças. Normalmente, aparece em preto em branco, mas é possível brincar com as cores.

O pied-de-poule é ideal para o dia a dia de trabalho, looks formais ou como toque vintage em produções com jeans e camiseta. Se quer sair da mesmice, pode usá-lo com peças esportivas, como tênis, shorts e acessórios divertidos.

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Madras

O madras é um xadrez indiano, originário da região de Madras, atual Chennai. Nesse sentido, ele se caracteriza por listras irregulares, quadros assimétricos entre si e cores vibrantes, muitas vezes com uma aparência mais orgânica ou artesanal.

Os estilistas costumam usar algodão leve ou linho para confeccioná-lo, dessa forma, o madras aparece com frequência em peças de verão como saias, camisas e batas. No Brasil, é comum ver essa estampa em camisas e vestidos juninos. 

Vitória revela que o madras é sua estampa xadrez favorita, e o motivo não poderia ser mais estiloso: a mistura vibrante de cores permite composições criativas e cheias de personalidade. 

Ideal para dias quentes, o padrão combina perfeitamente com peças de linho, sandálias, bolsas de palha e bermudas, a fim de garantir um visual tropical chic, que é a cara do verão.

Foto: Adam Lippes/Pinterest

Burberry

O clássico xadrez da grife inglesa Burberry é um dos mais inconfundíveis. Nas cores bege, branco, vermelho e preto, aparecendo inicialmente nos forros dos tradicionais Trench Coats, na década de 20.

A marca patenteou o item em 1924 e, em 1960, inseriu-o no imaginário coletivo da moda. Apenas em 1967 começou a aplicá-lo em outros acessórios.

A ideia surgiu quando Jacqueline Dilleman, uma das clientes da grife, utilizou o forro do casaco para embrulhar as malas de viagem, criando assim uma capa de guarda-chuva.

Segundo Flores, o que mais a encanta no Burberry é a “fidelidade ao padrão original, aliada à capacidade de reinvenção constante, sem abrir mão da identidade visual que o tornou tão icônico”.

Hoje, o xadrez Burberry estampa sapatos, bolsas, roupas e perfumes da marca, sempre associado à elegância e ao luxo que a grife propõe.

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Argyle

Facilmente reconhecida por seus losangos sobrepostos, a estampa argyle muitas vezes apresenta linhas diagonais cruzando o padrão.

Assim como o tartan, o argyle também tem raízes na Escócia, mais especificamente no clã Campbell de Argyle. Seu padrão original, foi usado desde o século XVII em kilts e meias. No entanto, apenas no século XX, quando foi adotado pela marca Pringle of Scotland, ganhou projeção internacional.

É muito comum em suéteres, meias e peças com vibe preppy (universitária) ou peças esportivas, especificamente de golfe. Você pode combiná-lo com outros tipos de xadrez, como o príncipe de Gales, além de peças como meias ¾, camisas, calças de alfaiataria, saias, mocassins e tênis.

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Checkerboard ou quadriculado

Formado por quadros perfeitamente simétricos, o checkerboard, ou quadriculado, geralmente possui duas cores constantes. O clássico preto e branco é o mais comum, mas versões em vermelho, verde, rosa e até neon também são populares.

Embora sua aparência remeta a um tabuleiro de jogo ou à bandeira de chegada nas corridas, sua presença na moda ganhou força no fim dos anos 1970, com a segunda onda do ska, movimento musical originado na Jamaica que dominou Londres.

Usado até como forma de protesto contra a segregação racial, o quadriculado tem uma forte ligação com a cultura pop punk. Posteriormente, ele se tornou ícone nos anos 80 com a ascensão da marca Vans, que lançou o tênis Slip-On checkerboard usado por skatistas e músicos alternativos. 

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Como misturar padronagens de xadrez e usar as cores a seu favor?

Se você se apaixonou por mais de um tipo de xadrez, saiba que sim, dá para misturar estampas diferentes sem errar! Apesar de existir padrões distintos, a forma mais segura de criar um visual harmônico é combinar peças com cores semelhantes.

Um truque está na variação da escala: misturar um xadrez miúdo com outro mais espaçado cria contraste visual e evita que o look fique pesado. “Se a parte de cima possui um xadrez com padronagem menor, vale equilibrar com uma estampa maior na parte de baixo, e vice-versa”, explica Vitória.

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Ainda não se sente seguro para ousar?

Vitória recomenda escolher um único ponto de destaque no look: “Uma boa estratégia é investir em peças básicas, como jeans e camiseta, e deixar o xadrez como ponto focal, presente, por exemplo, em uma camisa sobreposta, um lenço ou outro acessório estampado.”

O xadrez não apenas é uma combinação entre formas, como também é uma ferramenta poderosa de expressão por meio das cores. “A escolha das cores em padrões xadrez influencia diretamente o estilo, a mensagem visual e a adequação da estampa a diferentes ocasiões”, afirma Vitória. 

Segundo ela, tons neutros como preto, branco, cinza e marinho transmitem sofisticação e, por isso, funcionam bem em ambientes mais formais. Por outro lado, os xadrezes coloridos, com presença marcante de vermelho, azul, verde e amarelo, criam uma estética mais jovem e descontraída, perfeitos para festas juninas, streetwear e looks de verão.

Além disso, Vitória também destaca o potencial dos tons terrosos para criar narrativas visuais com mais sensibilidade e conexão com a natureza: “Bordô, oliva, mostarda e marrom conferem uma sensação mais retrô, rústica e acolhedora funcionando muito bem em composições com estilo boho ou em looks de outono”.

A escolha de usar xadrez, no fim das contas, diz mais sobre como você quer ser percebido do que sobre seguir regras. Por isso, cada padronagem, cada paleta, cada combinação tem o poder de contar uma história.

Agora que você já conhece alguns desses estilos, que tal se aventurar? Assim, na próxima vez que for montar um look, seja para arrasar no arraiá ou apenas sair para um café, experimente misturar referências, brincar com texturas e cruzar estéticas. Afinal, o xadrez pode ser tudo… menos previsível.

Escrito por: Larrani Ferreira | Editado por: Júlia Nunes

Veja mais em: fashionlismo.com.br

Jornalista e Mestranda em Comunicação Intercultural nas Organizações.

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