Robert Wun e o vazio de Time em Paris
Robert Wun surpreende na Semana de Alta Costura Parisiense de Outono/Inverno 2024-25 com sua mais nova coleção intitulada Time
Robert Wun com sua coleção Time, em Paris, nos leva em uma jornada para descobrir a beleza no abstracionismo do efêmero, seja na vida humana, seja no natural. O estilista questiona em como podemos buscar o belo em um falso eterno e mostra a verdadeira beleza encontrada naquilo que tem um fim.
Venha ver e entender mais sobre sua coleção e refletir sobre. Respire e mergulhe!
Quando o abstracionismo do tempo efêmero ganha forma
Viajar com a coleção Time de Robert Wun é se perguntar: qual é o nosso tempo e quanto ele dura? Existiram e existem diversos tipos de calendários no mundo marcando noções de tempo e, acima de tudo, como podemos marcar algo como correto, quando a nossa própria existência e todas as coisas do mundo são impermanentes?
Robert Wun, em princípio, também parece desejar brincar nesses questionamentos ao nos pegar pela mão e guiar por sua coleção. Em outras palavras, o estilista exibe, no desfile, possibilidades da passagem de tempo. Além disso, a própria celebração dos 10 anos de existência de sua marca já serve como convite a esse espetáculo ocorrido na Semana de Alta Costura parisiense, no dia 27 de junho.
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“Nada dura para sempre e essa é a beleza disso” — Robert Wun
Se o estilista abre sua coleção couture com um vestido representando a primeira neve, momento que, segundo ele, é de grandes reflexões; eu, por outro lado, abro nossa viagem à Time com essa fala dele citada no título. Sua proposta, que, aliás, não é nada fácil, marca a passagem do tempo. Podemos ver o início e o fim de cada estação, da vida humana e da natureza. Concordo com ele.
Então, como poderíamos apreciar uma estação do ano querida por nós, se ela nunca tivesse um fim? Se nós não precisássemos ansiar pelo seu retorno no ano seguinte? O próprio Robert Wun, por exemplo, nos traz na passarela uma filosofia chinesa, na qual diz que não seria possível encontrar a beleza em uma flor se ela vivesse para sempre. Dessa forma, enxergamos até mesmo a morte como parte da beleza do tempo.
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Composição de looks representando, respectivamente, verão, primavera e outono. (Fotos: Reprodução/Instagram @pauseonline)
Os detalhes de Time, de Robert Wun
Para dar vida à sua coleção, Robert brincou com técnicas e materiais. Usou e abusou de cristais, fez apliques em forma de borboletas, queimou tecidos, fez impressões têxteis e por aí vai. No entanto, o mais impressionante não é o fato de ter usado X ou Y, pois isso qualquer estilista faz. O que torna Wun único e gera o interesse de acompanhar o seu trabalho é o que ele cria a partir de suas técnicas.
Vimos a neve e o fogo, a pele, os músculos e o esqueleto. Sentimos a vida e a morte, ou seja, a passagem do tempo como ele quis nos mostrar. Além disso, entramos no universo bem colorido de Time, onde nosso próprio olhar é o que faz o tempo, de fato, acontecer em sua obra. Robert Wun precisou ter espectadores para poder marcar o tempo.
Analogia à pele, nervos/músculos e a alma. (Fotos: Reprodução/Instagram @pauseonline)
Onde a coleção Time vive
Time transformou Paris. A iluminação fraca, combinada com o telão digital mostrando a vida da coleção e a música em um tom sóbrio, deixou o público em transe com os festivais de cores e texturas apresentados. É como se nós nos tornássemos parte do ecossistema da coleção e apenas a meditação pode trazer esperança em meio ao efêmero. Faz com que nos questionemos a respeito de nosso próprio tempo.
O que estamos fazendo? Estamos vivendo? Pode ser tarde demais e o tempo pode acabar.
Por fim, parabenizo Robert Wun que, em seu 10º ano de marca, trouxe reflexões importantes em meio ao atual caos global. Esperamos que os seus futuros questionamentos nos provoquem, que venham mais aniversários, e que o tempo demore a passar e a acabar.
Veja o desfile abaixo e apenas sinta. Libere a mente e absorva o tempo.
Para saber tudo o que acontece no universo da moda e nos desfiles, confira os conteúdos aqui no Fashionlismo!
Escrito por: Felipe Pereira / Revisado por: Clara Molter Bertolot
2 Comentários
Bruna
Amei!! Excelente análise! Realmente só podemos ver a verdadeira beleza da vida pelos olhos do tempo!! Arrasou!
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