Tendências

O que as marcas brasileiras precisam observar sobre a MFW 2025?

Especialista em negócios de moda e tendências revela como a moda nacional pode transformar suas coleções, inspirando-se no que foi apresentado em uma das mais tradicionais fashion weeks do mundo

Dolce & Gabbana Fall 2025
Foto: Filippo Fior / Gorunway.com
Vogue Runway

A Semana de Moda de Milão Outono/Inverno 2025, realizada entre os dias 25 de fevereiro e 3 de março, na Itália, reforçou a dualidade que rege a moda contemporânea: de um lado, a opulência e o maximalismo como afirmação de identidade; do outro, a funcionalidade e a sofisticação discreta, em resposta à crescente demanda por praticidade.

De acordo com a especialista em negócios de moda e fundadora da plataforma de tendências, New & Now, Symone Rech, grandes casas de moda apresentaram coleções que revisitaram o passado e apontaram novos caminhos para o futuro, oferecendo um excelente termômetro para que marcas brasileiras compreendam os rumos do mercado.

Ela alerta que, se Milão sempre foi sinônimo de refinamento e ousadia, a edição deste ano deixou claro que a moda está cada vez mais diversificada e acessível a diferentes públicos. Com coleções que vão da celebração dos 100 anos da Fendi ao experimentalismo da Prada, passando pela reinvenção da Gucci, as passarelas italianas deram o tom do que veremos nos próximos meses no varejo global.

Tendências que Dominaram as Passarelas

De acordo com Symone, o luxo sem moderação dominou as coleções da Dolce & Gabbana, Versace e Fendi, trazendo de volta a extravagância dos anos dourados da moda.

“Dolce & Gabbana apostou em uma estética maximalista, misturando influências dos anos 1920 e um toque grunge, com muitos brilhos, plumas e rendas. Versace manteve sua assinatura sensual e poderosa, apresentando cortes estruturados, ombros marcados e peças que evocam uma força feminina imponente”, detalha a fundadora da New & Now.
Dolce & Gabbana Fall 2025
Foto: Filippo Fior / Gorunway.com
Vogue Runway

Já a Fendi, que celebrou seu centenário nesta edição, apostou na releitura do luxo clássico, incorporando shearling (pele sintética de alta qualidade) em casacos volumosos, que imitavam materiais nobres como mink e sable.

A proposta trouxe um luxo sustentável e tátil, que pode ser explorado no Brasil em coleções de inverno com tecidos felpudos e materiais sintéticos sofisticados. Mas afinal, por que isso importa para o nosso país?

Segundo a profissional, o consumidor brasileiro tem grande afinidade com o glamour, especialmente em segmentos de moda festa e casual chique. Ela ainda ressalta que o maximalismo adaptado ao nosso clima pode ser explorado por meio de tecidos leves e modelagens que exalam elegância e sensualidade.

Fendi Fall 2025
Foto: Filippo Fior / Gorunway.com
Vogue Runway

O Novo Minimalismo Funcional

Enquanto algumas marcas apostaram na opulência, outras seguiram um caminho mais limpo e técnico, como a Sportmax, que se destacou com uma abordagem futurista e funcional, investindo em modelagens inteligentes e volumes estratégicos. Essa hiper-reinvenção do design provou que a praticidade pode, sim, ser esteticamente inovadora.

“Essa estética tem tudo a ver com o Brasil, onde o consumidor busca peças que transitam bem entre diferentes ocasiões. A funcionalidade, aliada a tecidos tecnológicos, pode ser um diferencial para marcas que querem inovar sem perder a viabilidade comercial”, esclarece a consultora.
Sportmax Fall 2025
Foto: Daniele Oberrauch / Gorunway.com
Vogue Runway

A Reinvenção Comercial da Gucci

Em um momento de transição criativa, a Gucci apresentou uma coleção assinada por sua equipe interna, revisitando clássicos da marca com um olhar mais comercial. O resultado? A marca apresentou uma coleção equilibrada, que soube revisitar ícones sem perder o frescor. Padrões icônicos da casa, como monogramas e estampas geométricas, foram reimaginados em novas proporções e tecidos.

Symone identifica que a mensagem para marcas brasileiras é clara: revisitar o passado pode ser um excelente ponto de partida para criar coleções que mesclam nostalgia e modernidade. Para o varejo, isso significa apostar na valorização de best-sellers e explorar novas leituras de peças icônicas.

Gucci Fall 2025
Foto: Courtesy of Gucci / Vogue Runway

O Futuro Feminino da Prada

A Prada, sob a co-direção de Miuccia Prada e Raf Simons, trouxe uma coleção focada em conforto e fluidez. Saias amplas, vestidos shift oversized e alfaiataria relaxada marcaram presença, criando uma estética que valoriza o corpo sem restringi-lo. Tecidos leves, transparências e drapeados foram os protagonistas.

Para a gestora, a principal lição para as marcas brasileiras é que essa é uma excelente oportunidade de apostar em modelagens soltas e materiais que combinam sofisticação e conforto, alinhando-se à crescente demanda por peças que unem funcionalidade e estilo.

Prada Fall 2025
Foto: Umberto Fratini / Gorunway.com
Vogue Runway

Sofisticação Discreta e Atemporal

Na contramão do maximalismo, Tod’s e Ferragamo trouxeram uma abordagem mais sofisticada e refinada, com peças de couro impecáveis, alfaiataria precisa e um olhar para a longevidade da moda.

Rech ressalta que o slow fashion ganha força nesse movimento, incentivando um consumo mais consciente e duradouro. Essa estética também dialoga diretamente com o público brasileiro, que busca produtos premium e de alta qualidade. Trata-se de uma oportunidade para marcas nacionais investirem em peças-chave atemporais, capazes de resistir às flutuações das microtendências.

Ferragamo Fall 2025
Foto: Alessandro Lucioni / Gorunway.com
Vogue Runway

Cartela de Cores

A paleta de cores desta temporada transitou entre dois extremos: tons naturais e neutros. Giorgio Armani, por exemplo, apostou em beges, marrons, verdes e cinzas, reforçando a conexão com o natural.

Na visão da empreendedora, a Ferragamo transformou o vermelho intenso em protagonista, aplicando-o em peças dramáticas, como vestidos com plumas e franjas. Já os brilhos e metálicos apareceram em tecidos acetinados, veludos e texturas brilhantes, elevando o glamour em peças-chave.

Modelagens e Silhuetas

Alfaiataria oversized foram destaques de marcas como Ferragamo e Prada, com casacos amplos e cortes relaxados. Já os vestidos fluídos foram apostas da Giorgio Armani, com leveza das formas, enquanto Prada investiu na liberdade da silhueta.

Com destaque aos bodysuits e leggings da Ferragamo, que trouxe um visual atlético sofisticado, misturando peças ajustadas ao corpo com elementos mais amplos.

Tecidos e Elementos

Já nas texturas, as peles sintéticas, evidenciando o luxo sustentável, foram destaque na Fendi e na Dolce & Gabbana. Na visão da pesquisadora, essa é uma excelente alternativa para marcas que desejam um toque de sofisticação sem recorrer a materiais de origem animal.

Ela não deixa de destacar Giorgio Armani, que também trouxe tecidos luxuosos com brilho sutil, perfeitos para ocasiões especiais, com veludo e cetim, enquanto Prada e Ferragamo apostaram em transparência nos tecidos etéreos e jogos de “revela e esconde”.

Giorgio Armani Fall 2025
Foto: Filippo Fior / Gorunway.com
Vogue Runway

O que as marcas brasileiras devem observar

A Semana de Moda de Milão Outono/Inverno 2025 mostrou que estamos em um momento de transição: a moda flutua entre o desejo pelo exagero e a necessidade de funcionalidade. Diante desse cenário, Symone Rech lista algumas direções estratégicas para o mercado brasileiro:

Atenção à Opulência: o maximalismo tem apelo comercial para segmentos específicos, especialmente moda festa e ocasiões especiais.

Aposta na Funcionalidade: peças versáteis e confortáveis, que transitam entre diferentes ambientes, são essenciais para o mercado brasileiro.

Uso Inteligente das Cores: tons neutros podem ser um pilar da coleção, mas contrastes vibrantes como o vermelho devem ser usados estrategicamente para atrair o olhar do consumidor.

Exploração de Texturas: tecidos brilhantes, acetinados e leves podem ser inseridos para agregar valor e diferencial aos produtos.

Modelagens Estruturadas e Oversized: a alfaiataria contemporânea ganha força, com volumes amplos e cortes sofisticados.

Symone finaliza com maestria, ressaltando que a grande sacada da temporada é equilibrar inovação e comercialidade. O consumidor de moda está cada vez mais exigente, e a chave para o sucesso está em traduzir essas referências para a realidade do Brasil, oferecendo um mix de produtos coerente e com forte apelo emocional.

Escrito por: Letícia Elisa | Editado por: Giovanna Té Bassi

Acreditando na comunicação como ferramenta de transformação, sou formada em Jornalismo pela FMU FIAM FAAM com atuação no amplo universo de Relações Públicas. Intermediando entre os dois horizontes, sou apaixonada por arte, cultura, moda e diversidade. Sempre atenta às tendências do cotidiano, busco entender o comportamento humano por meio da escrita, enquanto vivo na caótica e vibrante cidade de São Paulo.

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