O Impacto do Figurino na Série Beleza Fatal
Muito além da estética: o que os looks icônicos contam sobre os personagens da série?
Não é novidade que Beleza Fatal, nova produção da Max, está fazendo sucesso. A trama estreou em 27 de janeiro na plataforma de streaming e, desde então, liderou o catálogo por cinco semanas consecutivas.
É quase impossível navegar pelas redes sociais sem se deparar com memes, spoilers e discussões sobre a série. Além do enredo cativante, das reviravoltas e dos personagens carismáticos, Beleza Fatal também chama atenção pelos figurinos. Nesta matéria, o foco será o vestuário das personagens interpretadas por Camila Pitanga (Lola) e Camila Queiroz (Sofia).
Mas será que esses looks impactam na construção do storytelling da série?
Para contar essa história dramática, a novela vai além dos diálogos e se apoia fortemente no figurino dos personagens para reforçar as mensagens que deseja transmitir. Por meio dos elementos visuais, como as roupas, a trama revela a personalidade, a trajetória e os conflitos de cada um, contribuindo para a construção da narrativa.
Se engana quem acha que o figurino serve apenas para situar o telespectador no espaço e tempo da série. Também é um equívoco considerá-lo apenas um detalhe comparado ao roteiro, a atuação e a montagem de uma produção audiovisual. Por isso, é necessário destacar a importância e o impacto de um bom figurinista nas produções.
Aquela que os Lolovers amam
A primeira personagem a ser analisada é a Lola, interpretada por Camila Pitanga. A Lola é a grande vilã da novela. Sua ambição e autenticidade refletem nas roupas que veste e na imagem que quer passar, de forma muito consciente e intencional.
Quando era apenas uma secretária, usava roupas comuns, menos extravagantes, mas sempre tentava adicionar alguns detalhes para elevar o look. Cenas dela colocando acessórios, passando perfume e se maquiando são momentos em que a série mostra suas tentativas de se encaixar no mundo que quer pertencer para chegar no seu objetivo.
Para a revista Claúdia, a figurinista da série, Kika Maques, contou que Lola se inspirava nas “Peruas da Barra da Tijuca”. E que seu maior desejo era uma bolsa Michael Kors, símbolo de poder e dinheiro na época.
Como dona da clínica de estética Lolaland, a Lola da segunda fase é uma fashionista. Usa looks coloridos, sensuais, abusando dos decotes, das fendas e dos acessórios. As etiquetas das peças no seu guarda-roupa sempre tinham estampadas marcas de grife como Miu Miu, Céline, Fendi, Valentino, Dior e Balenciaga.
Ela tem um estilo único na série, que destoa dos demais personagens, e que não abandona até mesmo nas cenas mais dramáticas, tristes e tensas. Seu estilo pode ser definido como Loud Luxury, que é caracterizado por roupas extravagantes cheias de personalidade, com materiais especiais e de qualidade.
Tendências e extravagância
Nascido na década de 80, o Loud Luxury é um estilo que destoa completamente das últimas tendências.
Se você conhece os visuais discretos, polidos e monocromáticos, típicos das clean girls, já sabe que uma personagem como a Lola de Beleza Fatal não se encaixaria. O que combina com ela são peças que misturam estampas e texturas, acompanhadas de acessórios que chamam a atenção e roubam a cena. Mas não apenas isso, características como tons de pedras preciosas, animal print e modelagens ousadas são típicas dessa tendência de vestuário.
Vale lembrar que o Loud Luxury não está diretamente relacionado com a ostentação de riqueza material. Não é um visual moldado a partir da exposição excessiva de logos de marcas e da reafirmação do poder de compra. Atualmente, temos um estilo que está muito mais associado com os símbolos de marcas de luxo por toda a peça. Muitas pessoas na internet chamam de Fubangacore. Ainda que tenham características parecidas, estão associados a estilos diferentes.
Em contrapartida com esse estilo excêntrico de Lola, temos o visual sóbrio, discreto e muito sofisticado da família de Benjamin. Esse é o Quiet Luxury, o luxo que sussurra e que está, geralmente, associado a famílias que têm dinheiro geracional, de herança. É o famoso “se você sabe, você sabe”, pois não são roupas que claramente custam 12 mil dólares. Elas passam despercebidas pela maioria das pessoas e isso é proposital. A alfaiataria, por exemplo, é típica do Quiet Luxury.
Assim, o figurino estabelece mais uma camada nessa série, e dessa vez, para a família Argento, que é rica e não é de hoje. Todos os integrantes têm uma vida luxuosa graças a clínica que leva o nome do pai de Benjamin e que é conhecida e respeitada na área da medicina estética. Não precisou ser dito que o visual da Lola difere do Benjamin porque ela era classe média, e ascendeu socialmente por conta própria. Já ele é um herdeiro. O figurino foi construído para passar essa ideia ao público.
A vingança veio com estilo
Por fim, chegamos na personagem interpretada por Camila Queiroz, Sofia. De uma garota humilde para o clone da Lola, a Sofia passa por diversas transformações relacionadas ao seu caráter, à sua moral e ética, e todas essas mudanças podem ser vistas no guarda-roupa da personagem.
As roupas básicas não muito arrumadas, o cabelo escuro liso não estilizado e a falta de maquiagem da personagem, nos primeiros episódios da produção, passam uma mensagem. Todos esses atributos remetem a pessoa ingênua, jovem, que vem de um lugar simples. Mas, isso não se mantém por muito tempo, pois, para dar início a sua vingança, a mocinha precisa fazer algumas alterações no visual. Ela inicia a sua transformação tirando a sua cicatriz na bochecha, ocasionada por um incêndio, e pintando o cabelo de loiro.
Ao passo em que ela vai se aprofundando no seu plano de vingança e entrando cada vez mais na personagem criada por ela mesma, nomeada Julia, seu visual vai mudando para algo mais maduro e elegante. Quando começa a frequentar a casa dos Argento, ela mantém seu estilo dos primeiros capítulos, adicionando um toque de business woman nas roupas. Blusas de botão, cores sóbrias, calças arrumadas e alguns acessórios singelos aparecem primeiro no guarda-roupa.
Ao longo da série, algumas características do vestuário e da personalidade da Lola são incorporadas na Sofia. Contudo, é apenas a partir do momento em que a dona da Lolaland oferece algumas de suas roupas para ela, que o cenário começa a ficar mais evidente. Nessa outra fase da série, a transição visual da personagem simboliza uma postura mais agressiva em relação à ascensão e a tomada de poder na narrativa de vingança contra Lola.
O comportamento da protagonista passa a ser constantemente comparado ao de Lola pelas pessoas ao seu redor. Cada atitude tomada para destruir a vilã acaba refletindo em si mesma, e isso se traduz também no figurino.
Aos poucos, Sofia adota roupas semelhantes às de Lola e incorpora traços de sua personalidade. Por fim, ela se transforma, de certa forma, na própria vilã. Seu visual passa a ser marcado por peças de alfaiataria, roupas de grife, cores vibrantes, acessórios chamativos, recortes estratégicos, blazers e sapatos de salto alto.
A construção do figurino reforça o que está sendo dito e interpretado pelos atores e torna a produção mais verídica e interessante. Não é atoa que os looks da Lola se tornaram febre na internet juntamente com os bordões.
Por ser uma série atual em muitos sentidos, inclusive na vestimenta, é interessante observar as tendências deste período na tela e como elas desempenham, também, um papel narrativo. As roupas não servem somente para enfeitar os personagens, quando se presta atenção no trabalho do figurinista, a história apresentada ganha mais camadas.
Escrito por: Gabriela Vinhaes | Editado por: Giovanna Té Bassi
Gabriela Vinhaes
Oii pode me chamar de Gabi! Eu sou estudante de jornalismo, carioca e sommelier de doce nas horas vagas. Sou apaixonada por moda, gatinhos e filmes, mas não sei usar o Letterbox. Uso muito as redes sociais então consigo entender muitas referencias desse mundo online.
Você pode gostar
Clássico reinventado pela Loewe
Viagem no tempo: a moda anos 90 voltou!
