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Numa sociedade autoritária o look do dia sempre será uniforme

As saias ficam mais compridas, os saltos dos sapatos mais altos e a estética do momento é baseada no “Clean”, “Old” e “Quiet”. Como a moda ficou tão conservadora e minimalista? 

O mundo fashion é extremamente social. Apesar de parecer que as tendências nascem somente das passarelas sendo criadas por designers que visam apenas a inovação, o estilo e a identidade das marcas, na prática, não é bem assim. Acontecimentos sociais, históricos e políticos de uma sociedade em determinado tempo influenciam as roupas exibidas nas semanas de moda e usadas pelas influencers nas redes sociais.

O que temos visto com mais frequência ultimamente são roupas lisas, pretas e brancas, com tons neutros e cortes retos. Basicamente, o minimalismo e as peças ditas “clássicas e atemporais”, ou seja, mais básicas.

Para exemplificar com dados o que pode ser observado nas ruas e na internet, temos o Pinterest Trends, uma ferramenta que mostra o histórico dos principais termos de pesquisa na plataforma em regiões e países diferentes. De acordo com o site, houve um aumento de 2.500% na pesquisa de “estilo easy chic” no último ano. Isso quer dizer que a procura por inspirações de roupas baseadas na alfaiataria, cores sóbrias e peças básicas aumentou. 

Mas qual é a relação entre moda e política, e por que o mundo fashion está como está?

Bom, fatores como nacionalidade, religião e idade afetam o uso do vestuário e da moda como forma de expressão identitária. Da mesma forma, o contexto político e social também o influencia diretamente.

A onda do conservadorismo está acontecendo em vários países do planeta. A reeleição de Donald Trump e as diversas pautas que repensam direitos conquistados por grupos minoritários ao redor do mundo refletem a atual conjuntura mundial. No Brasil temos a presença de vários políticos de extrema-direita na câmara e no senado, acompanhando o movimento internacional. Nas redes sociais os discursos de “retomada das tradições” juntamente com o aumento de seguidores e da popularidade dos ideais da religião cristã compõem esse o cenário. É necessário pensar o motivo de tantos jovens progressistas e conectados estão, talvez sem notar, adotando uma estética que remete a valores bastante conservadores.

Na internet, estilos de vida como “esposa troféu”, ou “trade wife”, ganharam destaque, assim como a estética Clean Girl e Cottage Core, que se refere a uma vida mais simples no campo. Num piscar de olhos as pessoas começaram a remover tatuagens, rejeitar extensão de unhas e cílios, tirar os piercings e adotaram a saia jeans longa. Vimos também o crescimento de marcas básicas no cenário fashion como a Brunello, Loro Piana e a The Row.

Essa onda de conservadorismo chegando também na moda pode parecer algo superficial e inofensivo, apenas simbolizando a volta de tendências minimalistas e estilos de vida mais tradicionais. No entanto, promove diversos valores que vão resultar no contexto político futuro. Isso ocorre porque esses ideais que são expressos nas roupas e nos hábitos de produtores de conteúdo para a internet estão cada vez mais difundidos entre os jovens. Assim, podemos ver a intensificação de padrões extremos de corpo e pensamentos preconceituosos.

Mas o que pode acontecer no futuro?

Quer dizer que não posso mais usar roupas neutras e básicas? Tenho que comprar roupas coloridas e extravagantes? E agora, o que fazer com o meu guarda-roupa? Calma. É possível usar roupas sem estampa, consideradas mais sérias, minimalistas, que combinam com tudo. A ideia é criar seu estilo próprio e descobrir o que funciona. Escolher o que de fato gosta, se inspirar em looks e tendências, mas adaptando para o estilo pessoal. Para isso você precisa acumular referências, porque nosso olhar fica viciado no que está em alta, dado que as tendências estão em todos os lugares: nas redes sociais, nas lojas de departamento, nas ruas, nos grupos de amigos, etc. 

Mas se o seu objetivo é se distanciar dessa dinâmica, o que recomendamos é a contracultura. Esse movimento vai de encontro com valores e as normas dominantes estabelecidas pela indústria da moda, expressando uma visão alternativa e muitas vezes contestatória através da vestimenta e da estética. Dito isso, aqui vão algumas marcas brasileiras para te inspirar nessa jornada subversiva: Dario Mittmann, João Pimenta e Lino Villaventura. Mas se o que te chama a atenção são referências internacionais, a maioral é a Vivienne Westwood

Imagem: reprodução/Instagram @Dario Minttmann

Independentemente do que está em alta nas lojas e nas redes sociais, o importante é pensar no que funciona para você, baseado em estilo próprio, ocasião e clima. As tendências, vem e vão, a moda é cíclica e está sempre retomando estilos do passado como base. Inclusive, fica a dica para não ficar jogando as roupas fora porque, além de ser prejudicial para o planeta, também pode te fazer falta no futuro. Outra questão importante para pensar é como nossos valores aparecem na forma como nos vestimos e quais mensagens nossas escolhas acabam comunicando. Não é sobre julgar quem escolhe se vestir dessa forma, e sim questionar o porquê de um determinado estilo ser tão promovido, exaltado e repetido.

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Escrito por: Gabriela Vinhaes | Editado por: Gabriella Lima

Oii pode me chamar de Gabi! Eu sou estudante de jornalismo, carioca e sommelier de doce nas horas vagas. Sou apaixonada por moda, gatinhos e filmes, mas não sei usar o Letterbox. Uso muito as redes sociais então consigo entender muitas referencias desse mundo online.

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