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De íntimo a indispensável: como a lingerie conquistou espaço nos looks do dia a dia

As semanas de moda ao redor do mundo têm revelado uma tendência ousada: marcas como Dior, Giambattista Valli, Chanel e, no Brasil, Alexandre Herchcovitch apostaram em hot pants e vestidos com recortes estratégicos que destacam calcinhas e sutiãs como protagonistas dos looks. Essa abordagem transforma peças íntimas em elementos centrais da inovação nas passarelas.

Como parte da história da moda, as lingeries nunca deixaram de ser relevantes. Ao contrário, elas se reinventam constantemente para acompanhar as mudanças de estilo e comportamento ao longo do tempo. Mas como as mulheres utilizavam essas peças no passado? E o que motivou essa transição de uma função puramente íntima para um destaque nos looks contemporâneos?

Na Antiguidade, mais especificamente Grécia e Roma, as mulheres utilizavam faixas de tecido, conhecidas como strophium ou mamillare, para sustentar os seios. Já na Idade Média, as roupas íntimas tinham um caráter mais funcional, com camisas de linho usadas para proteger as vestimentas externas.

Foi a partir do Renascimento e do Barroco, no século XVI, que os corsets começaram a ganhar destaque. Considerados os precursores das lingeries modernas, esses modelos rígidos eram projetados para moldar a silhueta feminina, mas ofereciam pouco conforto às usuárias.

Durante o século XIX, a lingerie começou a se tornar mais refinada e associada à feminilidade. Os corsets foram gradualmente substituídos por modelos mais flexíveis e a palavra “lingerie” passou a ser usada para peças mais sensuais, muitas vezes produzidas com rendas e sedas, passando a se assemelhar com as que conhecemos atualmente. 

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Dos anos 20 aos anos 2000

No período em que estava acontecendo a Primeira Guerra Mundial, a moda teve uma grande mudança. Com mulheres assumindo trabalhos que antes eram realizados por homens, as vestimentas passaram a ser mais funcionais para realizar tais trabalhos.

No período pós guerra, o espírito de liberdade e celebração dominou a moda. O período ficou conhecido pela ascensão das “flappers”, mulheres que desafiaram as normas sociais da época. A lingerie refletiu esse espírito rebelde com sutiãs que achatavam os seios, seguindo a tendência de silhuetas mais retas. 

Nos anos 30 e 40 as curvas das mulheres já começaram a ser mais valorizadas. Os sutiãs começaram a realçar e definir os seios, enquanto as lingeries incorporavam detalhes delicados e uma estética mais sofisticada. Essa fase foi marcada pela busca de elegância e delicadeza, traduzindo-se também nas peças íntimas.

Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, as lingeries precisaram se adaptar àquelas circunstâncias. Devido a falta de tecidos e roupas, as mulheres começaram a desenhar costuras nas pernas para simular meias. 

A década de 1950 foi marcada por um glamour clássico e uma ênfase na feminilidade. As pin-ups, ícones da cultura popular que simbolizavam sensualidade, ganharam grande visibilidade, influenciando estilos e comportamentos. Nessa época, a lingerie acompanhou essa tendência, utilizando tecidos leves como nylon e designs que valorizavam as curvas femininas, consolidando o charme característico da moda retrô.

Nos anos 1960, o cenário mudou com a ascensão da juventude e da liberdade de expressão. A moda tornou-se mais descontraída e ousada, e as lingeries incorporaram estampas vibrantes e materiais inovadores, como a lycra, que ofereciam maior conforto e funcionalidade. Essa década trouxe experimentação e criatividade, refletindo as transformações culturais e sociais do período.

Mulheres usando lingerie com o passar dos anos

O período dos anos 70 circulava entre a ascensão do movimento de retorno à natureza e de ativismo social. Com cores inspiradas na terra e tecidos naturais, as peças exaltavam a forma feminina de maneira simples e orgânica, refletindo a valorização do natural e a crescente consciência ambiental.

Os anos 1980, por sua vez, trouxeram uma explosão de poder e individualidade. A moda íntima foi ousada e inovadora, incorporando materiais como couro e látex em designs arrojados, além de combinações contrastantes que reforçavam a liberdade de expressão característica da década.

Já em 1990, tivemos a criação dos tão famosos corpetes e bralettes. Durante esse período extremamente significante, surgiram as Angels, modelos da Victoria’s Secrets que desfilavam com sutiãs e calcinhas de renda, além de camisolas sensuais. A criação do Fantasy Bra, que são sutiãs únicos, muitas vezes feitos de diamantes ou pedrarias, em que uma única Angel é escolhida para apresentar a peça ao mundo. 

A moda da lingerie nos anos 2000 ganhou novos contornos ao se tornar uma forma de expressão pessoal. O conceito de underwear as outerwear(“roupa íntima como roupa externa”) revolucionou os looks da época, permitindo que essas peças fossem exibidas como elementos centrais do visual, em vez de ficarem escondidas.

Deixar sutiãs, bralettes ou até detalhes de calcinhas à mostra tornou-se um marco estilístico, evidenciando a integração das peças íntimas à moda casual e sofisticada. Foi um período onde as lingeries deixaram de ser apenas funcionais para se tornarem ferramentas de expressão e moda.

Atualmente, famosas como Dua Lipa, Kylie Jenner e Kim Kardashian, trouxeram de volta a tendência dos slip dresses, que marcaram os anos 90. Um truque de estilistas é apostar nas sobreposições, que podem ser com diversas meias-calças ou até mesmo anáguas, dando ênfase nas lingeries que sempre se mantiveram no universo fashion

Escrito por: Carolina Ferraz | Editado porGiovanna Té Bassi

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