Afinal, influencer de moda pode ter stylist?
Quantas vezes já não tivemos a ilusão de encontrar uma influenciadora de moda perfeita, com um estilo aparentemente único, coerente e marcante, para depois descobrir que por trás daquela imagem existe um stylist cuidando de cada detalhe da estratégia visual. Em muitos casos, o próprio influenciador prefere esconder essa presença, mantendo a narrativa da espontaneidade. Afinal, ser visto como autêntico ainda é uma das moedas mais valiosas da era digital.
Nas últimas semanas, especialmente com a temporada de Fashion Weeks, esse assunto, que volta e meia ressurge no universo da moda, ganhou força novamente entre fãs e microinfluenciadores. Muitos deles se dizem traídos ao descobrir que aquela criadora de estilo que admiravam e tomavam como referência, na verdade, nem sempre tem plena consciência sobre as roupas que veste. O encanto pela autenticidade se quebra no instante em que o público percebe que o estilo pessoal pode ter sido apenas mais uma boa estratégia de imagem.
A polêmica abrange diversos aspectos além do universo da moda, como viabilidade, otimização de tempo e o valor agregado a algo que, muitas vezes, não é considerado símbolo ou necessário. Foi divulgado que algumas influenciadoras chegam a pagar em média R$ 60 mil por look para que um stylist trabalhe com elas. Levando em consideração que o salário mínimo no Brasil em 2025 é de R$ 1.518, esse valor equivale a aproximadamente 39 salários mínimos, um investimento significativo que reflete a busca por uma imagem impactante e alinhada às tendências internacionais.
Além disso, existem influenciadoras que investem na própria formação em moda para fortalecer sua autoridade no setor. Um exemplo é Maria Braz, que participa de eventos internacionais como o Festival de Cannes e conta com o stylist Pedro Sales para compor seus looks de maneira estratégica. Outra referência é Thássia Naves, que também alia conhecimento acadêmico em moda e curadoria de styling para consolidar sua presença no mercado e nos eventos em que atua. Esses casos mostram que, para muitas influencers, formação e styling são ferramentas complementares na construção da imagem.

Fonte: @thassianaves
A questão da otimização de tempo é central. Preparar-se para eventos de grande porte exige atenção a cada detalhe da produção, desde a escolha das peças até a composição visual completa. Nesse contexto, o stylist não atua apenas na seleção de roupas, mas na construção de uma narrativa visual que fortaleça a presença da influenciadora. No caso de Maria Braz, por exemplo, o apoio de Pedro Sales foi essencial para criar um look marcante e historicamente referenciado durante o Festival de Cannes, mostrando que a profissionalização da imagem pode ser um instrumento de autenticidade percebida pelo público.

Fonte: @mariabbraz
Querendo ou não, esses influenciadores são um grande canal para abrir portas para o Brasil na área da moda. Dessa forma, a profissão, que já é historicamente desvalorizada, acaba sendo totalmente banalizada para quem não é referência ou grande nome no setor. Muitas vezes, pessoas que se dedicam a buscar conhecimento e aprimorar sua formação precisam criar conteúdos que, teoricamente, deveriam ser produzidos pelos próprios profissionais de moda, exercendo funções que deveriam ser naturais ao trabalho de styling e curadoria. Além disso, na maior parte dos casos, os influenciadores que alcançam visibilidade e sucesso são herdeiros de privilégios ou condições que permitem investir na própria imagem, enquanto outros, mesmo tendo acesso a oportunidades de aprendizado e formação, escolhem não buscá-las.
A discussão surge porque a impressão que fica é que pessoas com condições financeiras privilegiadas, que podem ou não se interessar pelo universo da moda, simplesmente decidem criar conteúdo para essa área sem qualquer embasamento. Isso acaba desvalorizando aqueles que realmente buscam conhecimento e informação. Essas influenciadoras passam a ser vistas como “manequins”, já que funcionam basicamente como um corpo sem mente, contratando profissionais para moldar e construir uma imagem ou persona para elas. O resultado é uma percepção de falta de autenticidade, que gera críticas e questionamentos sobre o valor real do conteúdo produzido.
Claro que existem exceções de influenciadores de moda no mercado que possuem conhecimento e autenticidade no que postam. Exemplos como Verena Figueiredo e Silvia Braz mostram que é possível construir uma imagem sólida e coerente com estilo próprio. Mesmo que eventualmente utilizem o trabalho de stylists para momentos pontuais, essas profissionais possuem senso estético apurado e conhecimento profundo sobre a área, o que lhes permite manter autenticidade e autoridade em seus conteúdos.

Fonte: @verenafigueiredo

Fonte: @silviabraz
No fim, a discussão sobre influenciadores de moda e o uso de stylists revela que autenticidade e estratégia não são necessariamente opostos, mas sim elementos que coexistem de forma complexa no universo digital. Enquanto muitos recorrem a profissionais para construir uma imagem impactante, outros demonstram que conhecimento, senso estético e preparo pessoal continuam sendo decisivos para transmitir credibilidade. O que se percebe é que, mais do que parecer autêntico, o público valoriza coerência, consistência e relevância. O verdadeiro desafio para quem atua nesse mercado é encontrar o equilíbrio entre a espontaneidade aparente e a construção consciente da própria imagem, respeitando tanto sua identidade quanto a percepção de quem consome o conteúdo.
Escrito por Brenda Rio | Editado por Ana Carolina Gomes


