Alta costura outono/inverno 2023: Tudo o que você precisa saber
Outra semana de Alta Costura aconteceu e assistimos as marcas apresentarem suas coleções de outono/inverno 2023, que começou oficialmente no dia 3 (segunda-feira) e foi até o dia 6 (quinta-feira) de julho em meio ao turbilhão social que aconteceu na capital francesa.
Tumultos, protestos e milhares de prisões reacenderam o debate sobre o racismo e dominaram as manchetes após a morte de um jovem de dezessete anos, baleado por um policial nos arredores de Paris, e certamente levantou questões sobre se os desfiles de alta costura deveriam ir em frente enquanto o país estava caminhando para um estado de emergência.
Entretanto os desfiles aconteceram normalmente, apenas Celine cancelou o que seria o primeiro desfile de alta costura de sua diretora criativa, Hedi Slimane. Como de costuma, quem abriu oficialmente o calendário foi Schiaparelli. Então, confira agora os destaques desta semana tão aguardada – e tumultuada.
Segunda-feira, 03 de julho:
Schiaparelli – A arte em fazer Alta costura
A alta costura é inegavelmente comparada à arte, e às criações de Daniel Roseberry para Schiaparelli sempre fazem jus a isso. E dessa vez não foi diferente, com a coleção intitulada “… And the Artists”.
Uma coleção que se aventura, explora e ousa. Trazendo uma galeria de artistas de épocas diferentes e uma enorme mistura multicultural cheia de energia exuberante da África ao chique parisiense; inspirando nos looks, detalhes e jóias.
Havia notavelmente menos dourado do que as coleções anteriores, mas que foi compensado com pinceladas do azul de Yves Klein, pintado nos corpos das modelos e espirrado sobre os tecidos.
Os mosaicos de pedaços de espelho de Jack Whitten se transformam em um conjunto de cardigã e saia. Era roupa? Era arte? Certamente ficou difícil de diferenciar.
Oscilando entre volumes esculturais e formas próximas ao corpo, a coleção se desenvolveu como arte vestível, criando uma “interpretação surrealista do guarda-roupa essencial de uma mulher”.
Enfim, as jóias eram exuberantes e não somente finalizaram as roupas como interagiram diretamente com várias delas. Como o fecho de um casaco em formato de orelhas, os broches de flores que substituem botões em um top e as mãos de madeira que arrematam um casaco volumoso.
Iris Van Herpen – E seus seres da água
Iris van Herpen sempre se destaca em fazer roupas de outro mundo, certamente agora não seria diferente.
Sua mais recente coleção foi inspirada na arquitetura aquática e, especificamente, em Oceanix, a primeira cidade flutuante do mundo que está sendo construída na Coreia do Sul.
Van Herpen diz que está particularmente interessada no futuro deste tipo de arquitetura. “Estamos abaixo do nível do mar, então é algo em que tenho pensado muito”, disse ela nos bastidores.
Seus vestidos arquitetônicos flutuavam por toda a passarela, enchendo os olhos do público.
Dior – O culto a deusa e a simplicidade
A exaltação do feminino e da simplicidade tem sido uma constante no trabalho da diretora criativa Maria Grazia Chiuri para Dior.
Assim, ela olha para o arquétipo das deusas e dialoga com o trabalho de Marta Roberti, que estudou as iconografias de várias deusas.
Se inspirando nas poses, itens como o plissado, túnica, peplum, capa e estola surgem como pontos-chave de seus designes. A paleta de cores foi composta por branco, bege, prata e dourado.
Dessa forma, a diretora criativa inverteu o roteiro da alta costura, apresentando uma coleção que estava mergulhada em simplicidade. Certamente passando uma ideia de que é algo muito puro, muito elegante. Resultando numa coleção celestial.
Thom Browne – Estreia com dramaticidade
A estreia de Thom Browne na alta costura foi uma extravagância teatral, sob a luz cinza de suas criações ele nos levou para a icônica casa de ópera.
Certamente Browne tem talento para o drama, gerando expectativa o público foi conduzido pela entrada dos fundos da ópera, até a opulenta passarela no meio do palco. Invertendo os papéis, o estilista colocou os convidados no palco e, no lugar da plateia, trouxe uma legião de modelos de papelão com rostos brancos.
Modelos emergiram lentamente, em sapatos plataforma, passando por um bando de pombos cobertos de tecido e parando sob um enorme sino cinza pendurado acima do set.
Querendo representar a moda americana na semana da alta costura, combinou conjuntos de ternos cinza, tweed e saias plissadas com casacos longos bordados com pombos assim como motivos de mar. Apostando na silhueta exagerada e no styling diferente em todas as suas peças.
Brincando com o elemento de fantasia, Browne inovou nos acessórios, com modelos usando chapéus em forma de pomba bem como perucas grisalhas inclinadas para o lado.
Terça-feira, 04 de julho
Chanel – Evidenciando clássicos parisienses.
A diretora criativa da Chanel, Virginie Viard, sabe que muitas pessoas são obcecadas com a estética Parisiense, afinal seu último desfile de alta costura trata-se disso. O que a parisiense veste, o que ela lê e pensa, sua própria atitude perante a vida.
O desfile realizado ao ar livre, nos paralelepípedos ao longo do rio Sena, foi aberto pela embaixadora de longa data da Chanel, Caroline de Maigret, que literalmente escreveu um livro intitulado “Como ser parisiense onde quer que você esteja.”
Assim, esta foi uma coleção que trouxe os grandes sucessos do estilo parisiense, desde terninhos até as cestas de vime e blusas camponesas. Sempre brincando com contrastes e equilíbrio, assim como força e delicadeza. Tweed X chiffons, rendas X organzas, motivos florais X gráficos, masculino X feminino. Chapéus e sapatos Mary-Jane em preto e dourado também ajudaram a finalizar os looks, afim de acentuar o charme parisiense.
Quarta-feira, 5 de julho
Balenciaga – E seu retorno a alta costura
Depois de ter ficado fora da última semana de alta-costura por conta das polêmicas, a Balenciaga e Denma retornaram e continuam com sua missão de manter o foco nas roupas. A marca nos apresentou uma coleção inspirada nos clássicos da casa e na alta costura totalmente atemporal.
Talvez quase como um pedido de desculpas para relembrar o grande legado que a marca carrega, Demna referenciou Cristóbal Balenciaga. As cinturas afuniladas, uma referência aos originais de Cristóbal. Como o visual que abriu o desfile, uma reinterpretação de um design original de 1966, modelado por Danielle Slavik, uma das modelos favoritas do criador. O vestido de veludo preto afinal tem um lugar na história da moda, já que Grace Kelly escolheu usá-lo em sua festa de 40 anos.
Demna também carregou sua coleção de alta costura de metáforas disfarçadas de roupas. Os casacos e cachecóis se projetando para a frente em formas congeladas e varridas pelo vento pareciam dizer que um furacão havia passado. Sem dúvida o escândalo era esse furacão e havia passado.
Assim como todas as impressionantes peças trompe-l’oeil, onde jeans, jaquetas de tweed e casacos de pele eram todos feitos de lona pintada, uma maneira de dizer que nada é como parece.
Sua versão de Joana d’Arc impressa em 3D que fechou a coleção certamente foi uma afirmação poética, fazer roupas e focar nas roupas tornou-se a armadura e o escudo contra as críticas. “Cristobal costumava dizer que sua profissão era sua armadura – e ela é o lugar onde eu me reconecto comigo mesmo”, explicou Demna. “Uma proteção; um lugar seguro.” E deu certo desde o início do ano o nível de requinte nas roupas ficou mais sofisticado e a coleção Alta Costura Outono 2023 é seu ápice.
Jean Paul Gaultier – Em algum lugar entre Jean Paul e Paco
Esta já é a quinta vez que um designer é selecionado para reinterpretar o trabalho de Jean Paul Gaultier nas semanas de alta costura, sendo o Julien Dossena, diretor criativo da Paco Rabanne, o convidado da vez. Duas lendas da moda com suas próprias características.
Dossena trouxe malha de metal evocando Paco Rabanne e nos dando sua própria versão de Gaultier, assumindo alguns dos designs mais memoráveis da casa e subvertendo-os. Isso incluiu suas interpretações do vestido nu, do sutiã cônico da Madonna e do terno risca de giz.
O designer disse nos bastidores que Jean Paul o estimulou a mostrar sua coragem com o metal, algo que ele havia experimentado com moderação ao longo de seus cinquenta anos na moda. Nos bastidores, Dossena relatou que Gaultier foi a pessoa que o fez perceber quando criança que uma carreira na moda era possível.
Inspirando-se na histórica e controversa coleção Chic Rabbis do outono/inverno de 1993-1994, trouxe todos os casacos sob medida, pretos e nítidos; chapéus grossos e saias de lã.
De extrema importância ao referenciar as criações de Jean Paul Gaultier, não poderia ser deixado de fora a força e a sensualidade do corpo, bem como um pouco de provocação. Ele também reformulou o espartilho, um item básico no universo Jean Paul Gaultier.
Mas a parte mais interessante da coleção de Dossena foram os pontos onde as referências de Gaultier cruzaram o território moderno de Rabanne. Um banquete visual para os olhos.
Valentino – A essência da Alta costura
Simplicidade e complexidade descreve com exatidão o desejo do diretor criativo Pierpaolo Piccioli para esta coleção.
Desfilada ao ar livre no impressionante Château de Chantilly, a coleção mostra que a essência da couture é simples, ainda que possa sugerir a construção de peças extremamente elaboradas no sentido da perfeição.
O look de abertura, desfilado por Kaia Gerber, resume tudo: camisa branca, jeans e mule rasteira. A calça, um clássico Levi’s vintage, escondia um trabalho elaboradíssimo. A peça era feita de gazar de seda e bordada com miçangas em 80 tons de azul, para enfim se assemelhar ao jeans. Nesse mesmo sentido os vestidos e ternos foram construidos.
Em seguida, vieram pequenos mini vestidos brancos com capacetes de penas, capas e bainhas assimétricas. E enquanto as modelos desciam graciosamente os degraus a coleção culminou em glamour, tantas texturas que era difícil de contar.
Piccioli é conhecido por sua grande atenção às cores, e assim esta coleção não decepcionou nesse aspecto. Havia azul, verde, rosa, o vermelho Valentino, lilás e uma explosão de ouro. Além das cores, o designer finalizou seus looks com acessórios maximalistas.
Certamente, isto resultou em uma coleção de alta costura que aposta na simplicidade, mas também na complexidade acima de tudo.
Quinta-feira, 6 de julho
Fendi – Detalhes minuciosos e jóias
Com detalhes minuciosos, Fendi apresentou sua nova coleção de inverno no último dia da semana de alta costura. Concentrando a atenção na fluidez, no caimento e no brilho das jóias.
Trabalhando num conceito de roupas e jóias únicas e atemporais. Kim Jones, diretor criativo da Fendi, juntamente com Delfina Delettrez, diretora artística de jóias, lançaram a primeira coleção completa da Fendi na alta joalheria, com roupas criadas para amplificar seu brilho impressionante.
As cores vêm dos tons da pele e, também, das pedras: diamantes, rubis e safiras. Há um jogo entre suave e duro e esses opostos aparecem na estrutura da roupa em função do tecido, além da cartela de cores.
Ademais a ideia de simplicidade embala a coleção no sentido da presença de silhuetas descomplicadas, sem espaço para fantasias. Algumas peças contaram com apenas uma única costura. O look rosa totalmente bordado, que fechou o desfile, consumiu 1.200 horas de trabalho manual.
Escrito por: Catarina Lourenço | Editado por: Flávia Pereira
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