Marc Bohan: A história além das décadas
Marc Bohan foi o grande nome por trás das mudanças da Dior, logo após a perda de seu criador, Christian Dior.
O que palavra “legado” remete a você? Na moda, existem duas vertentes para considerar, sendo uma delas quem sucedeu o criador e, a outra, quem modificou, de fato, a marca.
Sendo assim, em relação a Dior, diferente do que as pessoas pensam, o legado não foi deixado por Yves Saint Laurent, sucessor de Christian Dior, após seu falecimento, em 1957, mas sim por Marc Bohan, o grande nome por trás das mudanças que marcaram a história da grife.
A partir de Bohan, a Dior transformou o mercado, e sua história marcou além das décadas.
Marc Bohan se torna Marc Bohan
O designer faleceu no último dia 6 de setembro, mas agora, iremos falar do início de sua vida.
Roger Maurice Louis Bohan nasceu em 22 de agosto de 1926, em Paris, Sceaux. Quando criança, Bohan foi incentivado a entrar na moda por sua mãe, que trabalhava como modista.
Ao mesmo tempo que possuia esse apreço e paixão pela moda, ele estudou finanças, influenciado pelo pai e chegou a trabalhar em um banco em Paris. Começou sua carreira fashion com seu primeiro trabalho na Pateou, de Jean Patou, o qual conseguiu através do Lucien Lelong, presidente da Câmara Sindical da Alta Costura.
Ficou na marca durante nove meses e seguiu, em 1945, com Robet Piguet, onde permaneceu por quatro anos. O interessante é que, nessa época, precisou mudar seu nome, pois, assim como Bohan, o diretor financeiro de Piguet também se chamava Roger e Robert Piguet não queria dois “Roger’s” no mesmo ambiente. Foi assim que surgiu o “Marc”.
O início de Marc Bohan
Em 1949, ele aceitou um emprego como assistente de Molyneux. Em 1953, decidiu fundar sua própria Maison, contudo teve apenas uma temporada, pois não teve o apoio financeiro necessário para continuar. Ficou então desestabilizado financeiramente e mentalmente, pois sentiu-se inseguro quanto ao seu talento e recluso dessa sociedade.
Um dos motivos de sua fama não ser tão alta, quanto, por exemplo, de Yves Saint Laurent é justamente porque ele era mais retido e inseguro, além de não festejar como grandes nomes da moda que hoje são citados.
Em 1954, recebeu uma oferta de emprego na Jean Patou, e com isso, retornou a marca. Bohan desenhava coleções de alta costura e permaneceu lá até abril de 1957.
Nesse momento, surgia sua maior oportunidade da carreira, ao conhecer Christian Dior.
Dior enxergou um grande talento em Marc, todavia, como Yves Saint Laurent já estava na equipe, sendo ali seu assistente sucessor, Christian Dior o convidou para trabalhar em Nova York representando a marca. Em outubro de 1957, os planos mudam com o falecimento do criador da Dior.
Yves Saint Laurent assume a direção, em 1958, e Marc Bohan vai para Londres, a fim de renovar seu contrato como diretor criativo em Londres. Saint Laurent permaneceu à frente da Dior até 1960, pois foi convocado a prestar serviço militar na Argélia, e quando voltou, criou sua marca e não retornou mais à Dior. Deste modo, Marc Bohan toma frente da direção da marca.
A era de Marc Bohan
Em 1961, começa seu mandato na Dior.
Com sua primeira coleção de primavera/verão, seu cargo como diretor criativo durou 28 anos. Bohan possuiu um reinado com muitas histórias, que mudaram a Dior e o tornou expoente de sua época, em um período em que a alta costura estava em decadência e o ready-to-wear começando a ficar em alta.
Um de seus primeiros pilares feitos foi conseguir trazer essa nova era para Dior com excelência. Ele trazia peças com técnica e silhuetas marcadas, pensando muito em suas clientes, com aperfeiçoamento e rigor eram formas que buscava a feminilidade e simplicidade, e renunciava o exagero que era parte da época de Christian Dior.
Bohan mesmo disse que fazia roupas para a mulher usar, e não para uma capa de revista, por isso sua primeira coleção foi um sucesso. Essa linha foi nomeada “Slim”, em referência, justamente, a silhueta fina e simples das peças inspiradas no guarda-roupa feminino dos anos 1920.
Além de conquistar uma gama de clientes fiéis para a marca, Marc estabeleceu também a divisão da Dior e lançou: Baby Dior e Dior Men.
Outro pilar marcante foi a criação da estampa “Oblique”, referência até mesmo atualmente.
Surpreendente e imprevisível
Surpreendente e imprevisível, Marc Bohen era, além de tudo, ousado e desejado tanto pelas mulheres, que precisavam de uma peça do designer, quanto pelos jornalistas, que ficavam a espera da próxima surpresa que aconteceria para o público.
Trouxe a arte juntamente com o conforto, de forma certeira, pois ele conhecia bem as pessoas que estava vestindo. Com isso, conseguia se conectar melhor com o público, levando essa conexão para além do profissional. Além de traduzir de forma simplória o espírito de cada momento e década em seu design.
Em 1984, a empresa dona da Maison, Agache-Willot-Boussac, estava próxima da falência e vendeu sua propriedade para o empresário Bernard Arnault, na qual se tornou parte do seu crescente império de luxo. Em 1989, depois de quase três décadas, Marc Bohan, por pressão de Bernard, acaba saindo da Dior e é substituído por um italiano, Gianfranco Ferré. Isso foi bem marcante na época, principalmente para a gama de clientela fiel, que Bohan havia conquistado ao longo dos anos; chegou a ter protestos sobre “um estranho que tomou controle criativo da Dior”.
Um história longa de muito legado transmitido para gerações. Marc foi inspiração de outros estilistas, além de ter sido eternizado com o livro “Dior by Marc Bohan”, feito pela editora Assouline.
Escrito por: Maria Eduarda Regis | Editado por: Letícia Virgínia