
O terno mais sexy de Paris: Vivienne Westwood desmonta a alfaiataria na PFW
Sob a direção de Andreas Kronthaler, a marca celebra o legado punk com uma sensualidade inesperada para a primavera/verão 2026
A Paris Fashion Week não é apenas uma vitrine, é um teatro de ideias. E quando a Vivienne Westwood pisa neste palco, esperamos um manifesto. No desfile primavera/verão 2026 (SS26), o diretor criativo Andreas Kronthaler não apresentou apenas roupas, mas uma performance sobre o legado da anarquia e do romance. Foi um espetáculo que celebrou o punk que se recusa a morrer, mas que aprendeu a se vestir com sensualidade e ironia.
O espetáculo já começou com ares de uma ópera surrealista. O palco foi montado no clássico Institut de France, mas o contraste era gritante. Sob os vitrais, havia um violoncelista, um guarda-chuva invertido e um tableau silencioso de girassóis morrendo. Essa abertura teatral, que buscou a beleza no caos e na opulência, definiu o tom da coleção. Como o próprio Andreas Kronthaler disse: “A verdade está dentro do seu coração. Boudoir é, antes de tudo, um espaço privado e secreto.”
No front row, a presença de nomes como Paris Hilton, Demi Lovato e Ice Spice confirmou o apelo cult e mainstream da marca.
A alfaiataria que SABE ser sensual
A grande jogada de Kronthaler tem sido refinar o DNA punk da marca em uma alfaiataria que é, ao mesmo tempo, poderosa e fluida. Esqueça os ternos rígidos. O designer, que afirma que “não há nada mais sexy do que um terno”, cria blazers com drapeados estratégicos, que parecem flutuar no corpo. Os blazers são manipulados com aberturas e assimetrias, transformando a alfaiataria em uma armadura maleável que valoriza a pele e o movimento.
A coleção SS26 é uma aula de como misturar o patrimônio sem ser nostálgico. O icônico tartan, os espartilhos e as camisas rasgadas (rip tees) que fizeram a fama de Vivienne seguem presentes, mas ganham uma leveza inédita, com tecidos que sugerem a vida sob o sol. O punk da Westwood, que nasceu nas ruas de Londres, agora viaja para o Mediterrâneo, ganhando uma paleta de cores mais suave, porém igualmente provocadora.
Do ícone ao legado
Os toques teatrais e o ativismo, marcas registradas da fundadora, estão em cada detalhe. A coleção é um manifesto maximalista de misturas e estampas que se chocam de propósito. Vimos vestidos fluidos e peças cobertas por uma alfaiataria felpuda, que trazem o charme e a ironia que são a assinatura da casa. Os acessórios são extravagantemente opulentes, como se tivessem sido roubados de um set de filmagem e usados com total despretensão.
Kronthaler não tem medo de misturar as referências: no FW25, já mostrava seu caminho: ombros poderosos dos anos 80, gravatas longas e uma explícita quebra de gênero, com homens e mulheres usando as mesmas roupas e sapatos de salto-alto. Essa linha de inverno adicionou toques de poá, calças baggy e referências ao esqui, provando que o designer austríaco funde o código britânico de Vivienne com seu próprio estudo de camadas e desconstrução. É um manifesto constante que celebra a autenticidade.
No entanto, o olhar de Andreas Kronthaler transcende a simples homenagem, é uma reengenharia dos códigos da marca. Sua assinatura reside na estratégia da camada e da assimetria, um método de desconstrução onde as jaquetas são desmontadas e as saias ganham recortes inusitados. Isso não é apenas um truque de styling, mas um método para modernizar a história.
O anúncio de que ele pretende retomar os desfiles menswear da marca em Milão é a prova final de seu movimento: ele não é mais apenas o guardião do legado, mas o arquiteto-chefe que consolida a fluidez de gênero da PFW em uma expansão criativa e comercial.
Embed from Getty ImagesO encerramento do desfile SS26 foi um momento de pura celebração: a supermodelo Heidi Klum, um ícone global da moda e televisão, cruzou a passarela ao lado do designer, vestindo um look branco cravejado de brilhos.
Andreas Kronthaler não apenas cuida do legado, mas o injeta com sua própria visão romântica e desarmada. A Vivienne Westwood segue como uma força que nos lembra: o verdadeiro estilo é ter a coragem de ser você mesmo.
Escrito por: Caroline Pereira | Editado por: Giovana Sedano.

