
Zuzu Angel: Moda como resistência
Por volta da década de 1960, quando a moda brasileira vivia sob forte influência europeia, surgia no Rio de Janeiro um nome que ajudaria a moldar uma identidade nacional: Zuzu Angel. Nascida Zuleika de Souza Netto, Zuzu cresceu em Minas Gerais e mudou-se jovem para o Rio, onde encontrou na costura sua paixão e profissão. Mas, após o desaparecimento de seu filho Stuart Angel, em 1971, a trajetória de Zuzu mudou, sua luta passou a ser por justiça, transformando a sua moda em arma de denúncia contra o regime ditatorial.

A carreira de Zuzu se destacava por suas criações que misturavam partes da cultura brasileira, como rendas do Nordeste, bordados de pássaros tropicais e figuras do cangaço, propondo uma moda genuinamente brasileira em um mercado ainda refém da alta costura francesa. Dessa forma, a sua marca rapidamente ganhou notoriedade entre artistas e a elite carioca.
Porém, a partir da década de 1970, sua produção sofreu uma mudança radical de tom. Stuart Angel, seu filho mais velho, militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, foi preso, torturado e desaparecido pelos órgãos de repressão da ditadura. Assim, Zuzu iniciou então uma busca por respostas, enfrentando o silêncio imposto pelo regime e a censura da imprensa.
O desfile que chocou Nova York
Em 1971, poucos meses após o desaparecimento de seu filho, Zuzu realizou o polêmico desfile da coleção International Dateline Collection III no consulado brasileiro, em Nova York. Originalmente pensado para celebrar a beleza tropical brasileira, o evento transformou-se em um grito silencioso contra a violência do Estado. Pássaros que antes voavam livres apareceram presos em gaiolas, anjos, referenciando seu nome, surgiram ao lado de estampas com canhões, tanques e soldados.
A própria Zuzu vestia preto, representando seu luto pessoal e coletivo. Suas roupas-manifesto chocaram a plateia estrangeira, mas quase não tiveram repercussão na mídia brasileira, que silenciou o protesto por conta da censura.

Zuzu Angel morreu em 14 de abril de 1976, em um “acidente” de carro, na saída do Túnel Dois Irmãos, em São Conrado (RJ). Mais de 20 anos depois, em 1998, a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos julgou o caso e reconheceu que Zuzu foi assassinada.
A história de Zuzu Angel mostra que moda vai muito além da estética, pode ser também arma política e expressão de dor e denúncia. Suas roupas-manifesto continuam sendo lembradas como símbolo da resistência contra a ditadura militar no Brasil. Em 2006, a Lei nº 11.464 inscreveu oficialmente o nome de Zuzu no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
Escrito por: Julia Claro | Editado por: Flavia Cavalcante
