Viktor & Rolf: mãos de tesoura
Em sua apresentação de alta costura, na tarde de quarta-feira (24/01), Viktor & Rolf trazem a glamorização juntamente com a desconstrução das peças. Afinal, a arte é muito além da beleza estética, ela é história, concepção, provocação e conceito.
Para quem acompanhou os desfiles passados da marca, deve ter percebido como Viktor & Rolf mesclam o couture com humor, surrealismo e ousadia. Por isso, essas características estão tão presentes em seus desfiles, pois faz parte de sua identidade. Esses elementos podem ser vistos tanto nos biquínis tridimensionais da coleção Fall (2023), bem como nos vestidos colocados de maneiras inimagináveis na coleção Spring (2023).
Alguns podem chamar isso de truques, mas as roupas resultantes tendem a parecer artes bem desenvolvidas com o toque da fantasia. E claro que a coleção de Alta Costura Primavera 2024 da dupla, apresentada em Paris na quarta-feira, não podia ser diferente. A primeira vista, a coleção parece incomumente moderada para Viktor & Rolf, mas ao longo do desfile, o convencional se torna extravagante.
História da marca Viktor & Rolf
A dupla de holandeses Viktor Horsting e Rolf Snoeren se conheceram na faculdade, Arnhem Academy of Art and Design, e por seguirem a mesma linha de raciocínio, se identificaram. Em 1993, após a graduação, fundaram a marca Viktor & Rolf. E assim, foram conhecidos por fazerem uma moda vanguardista, distorcida, escultural, assimétrica e surreal.
O primeiro contato no mundo da Alta Costura aconteceu em 1998, e, a partir dai, os desfiles se transformaram em espetáculos de criatividade e funcionalidade. Em contrapartida, outros fatores também foram fundamentais para que a grife se tornasse o sucesso que é hoje, como por exemplo, a coleção assinada para a rede fast fashion H&M, em 2006.
Esse fato fez com que eles expandissem seu público-alvo, tornando-se acessíveis e, consequentemente, favoritos entre o público jovem. Por conseguinte, acabaram mostrando que, mesmo a moda conceitual pode ser usada fora das passarelas.
O desfile de Viktor & Rolf
Nessa coleção de Alta Costura 2024, celebrando os 30 anos de casa, a dupla fez um storytelling baseado nos costureiros e como as tesouras viram objetos performáticos em suas mãos. Intitulado de “Viktor & Rolf Mãos de Tesouras”, a coleção foi apresentada com 28 looks pretos e simples, porém a parte inusitada foi a forma que a narrativa foi construída, ou melhor, desconstruída.
Houve uma seleção de sete looks pretos de alta costura com acabamentos impecáveis, e para cada um estavam mais três interações do mesmo design. Contudo, modificados e desfeitos pelas tesouras de alfaiate.
Foi um desfile realizado em sete grupos com quatro modelos e roupas em cada. Além disso, resgatou nos vestuários desconstruídos, releituras de peças passadas, que são assinaturas da marca.
A criatividade junto com a espontaneidade de cada peça, feitas com experimentos de cortes decorativos e sem rumo, foram a base para a coleção. Logo, foram feitos de um vestido robusto, com volume e estrutura, vários buracos que, ao longo dos modelos, vão se tornando apenas vãos, sem forma; belos trapos que parecem desgaste do tempo.
Em suma, o caos instaurado e bem orquestrado de Viktor & Rolf mostrou como uma tesoura opera na mão de um alfaiate ousado e sem rédeas. Além de mais um vez abrir o olhar daqueles que fogem do convencional.
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Escrito por: Maria Eduarda Regis / Editado por: Clara Molter Bertolot