Influenciadores negros: invisíveis na Forbes
Este ano, a Forbes deu início ao Top Creators Brasil e chamou atenção por várias coisas, dentre elas, a ausência de influenciadores negros na lista.
Início do Top Creators Brasil e a Ausência de Representatividade:
A Top Creators é uma lista divulgada pela revista estadunidense Forbes, antes de mais nada, que celebra os 50 maiores influenciadores a cada ano. Influência, fortuna e empreendimentos são os pontos avaliados para elencar nomes do mundo todo. Vale lembrar que um nome brasileiro, a Camila Coelho, já esteve na lista em 2022.
A primeira lista internacional da Forbes trouxe vloggers, blogueiras, youtubers, tiktokers e mais uma diversidade de criadores de conteúdo para redes sociais e plataformas digitais. No entanto, ao compararmos com a versão brasileira, já é possível notar uma discrepância. Primeiramente, sobre a atividade fim desses influenciadores. Alguns deles não começaram na criação de conteúdo, levantando questionamentos sobre a definição e avaliação da atividade de influência digital.
Reflexão Inicial: Ausência na Lista da Forbes
Natasha é criadora de conteúdo musical e digital e conta com 28 mil seguidores no TikTok. Ela comenta sobre a falta de representação negra na lista: “A falta de pessoas negras em uma lista como essa denuncia a desigualdade racial do nosso país, que é o tempo todo mascarada por esse mito da democracia racial. E isso é importante. Mas eu acredito que o buraco é um pouco mais embaixo.”
Falta de Transparência nos Critérios da Forbes
Um ponto que merece nossa atenção é a falta de transparência em relação aos critérios de seleção utilizados pela Forbes. Não apenas a revista afirma que houve separação entre os influenciadores significativos dos que apenas se autopromovem ou geram spam, como também cada criador foi avaliado com base em três categorias principais: ganhos, influência e empreendedorismo.
No exemplo do Top Creators 2022, a Forbes destaca que os números de ganhos são estimativas que se baseiam no ano de 2021. Contudo, no top brasileiro, não vemos informações sobre a métrica ou método de cálculo das estimativas. O patrimônio avaliado foi realmente fruto da criação de conteúdo? Obviamente, amamos nossos influenciadores, mas talvez a Forbes tenha falhado em diferenciar criação de influência. Afinal, a influência era apenas um dos critérios para avaliar os criadores. Tornar públicas suas métricas é mais um aspecto que deveria ter sido considerado
Desafios Enfrentados por Criadores Negros na Indústria
Pollianna Silva, criadora de conteúdo digital sobre moda, além de stylist e diretora criativa, acrescenta: “Por um momento, a gente achava que estava evoluindo nesse quesito, que as coisas estavam se alinhando um pouco mais. Colocando pessoas pretas, trans e gordas para aparecerem nos lugares… E isso acabou se reduzindo cada vez mais. Todas as áreas de publicidade e propaganda, arte e moda.”
“Assim que eu vi o Top Creators da Forbes, eu pensei nisso. Eu pensei: mais uma vez, nenhum preto. E o que estou achando curioso dessas últimas movimentações, desses últimos prêmios e o que tem acontecido na indústria do entretenimento, da moda e da cultura, desse último ano para cá, é que realmente todo esse “rolê” de diversidade vem se dissipando. […] E a Forbes, que é uma das revistas mais importantes que a gente tem de relações sociais, culturais, ter colocado uma lista tão branca só reforça o ponto de que questões de pessoas pretas e fora da bolha, pessoas não brancas, só aparecem quando são lucrativas de certa forma.”
A questão que surge é: será que realmente não há influenciadores negros significativos no cenário digital brasileiro? Ou será que, de fato, a falta de transparência nos critérios de seleção obscurece a presença desses influenciadores?
Houve chuva de comentários sobre a ausência de representação negra na lista. Indubitavelmente, muitas questionaram a falta de um nome representativo, num país com maioria negra, segundo o censo de 2022. Como resultado, a falta de representatividade na lista é especialmente preocupante em um país tão diverso como o Brasil.
Natasha: “Em primeiro lugar, a existência de uma revista como a Forbes, que exalta essa desigualdade e influencia as pessoas a acreditarem que o sucesso milionário é uma possibilidade para todos, ignorando de onde essas pessoas vem, é um erro por si só.”
Polianna: “Quando a gente exerce o mínimo da nossa negritude, é excluído dos lugares automaticamente. Então, colocar uma pessoa preta e entender que essa pessoa preta precisa colocar os pontos dela em questão. Muitas vezes que sou chamada para lugares que têm muita gente branca e trabalhos que são feitos só por pessoas brancas, me sinto coagida. Sei que não consigo e não posso dar 100% da minha opinião e nem ser 100% quem eu sou. Na maioria das vezes, sou a única.”
Essa ausência levanta questões importantes sobre representatividade na mídia e no conteúdo consumido por nós, pois é o que afeta o nosso comportamento. Além disso, a falta de diversidade na lista da Forbes não apenas apaga influenciadores negros, mas também perpetua estereótipos e limita as oportunidades para essas pessoas. Estudos mostram que a diversidade na indústria da moda não só reflete a verdadeira pluralidade do país, como também proporciona oportunidades para talentos diversos.
Quando ignoramos a representatividade, distorcemos as percepções e oportunidades, prejudicando as perspectivas de carreira e o acesso a recursos na indústria. Mesmo que alguns resistam à mudança, é essencial perseverar.
Escrito por: Dandara Pios | Editado por: Ana Carolina Marinho
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