
Da quadra para as passarelas: como o basquete influencia a moda urbana
A estética do basquete que dialoga com hip-hop, periferia e passarelas de luxo.
Os corredores que levam da entrada dos estádios até os vestiários viraram verdadeiras passarelas. Antes, os jogadores chegavam discretos, de terno e gravata, focados somente em jogar. Hoje, cada entrada é uma demonstração de estilo. O que antes era apenas um caminho até a quadra, virou desfile. E a pergunta que fica é: quando o uniforme deixou de ser apenas roupa de jogo e passou a ser identidade?

Tudo começou entre os anos 1980 e 1990. Michael Jordan aposentou o outfit social e apostou em peças diferentes e autênticas. Foi um dos pioneiros na junção entre moda e esporte. Lado a lado com o hip-hop, a estética das quadras invadiu as ruas e se fundiu com a música, transformando-se em um código cultural.

Ao lado de Jordan, Dennis Rodman, integrante do “trio de ouro”, chamava atenção por seu estilo autêntico e, de certa forma, excêntrico. Pintava as unhas, exibia cabelos coloridos, piercings, croppeds e peças diversas, sem se importar com gênero. Chegou até a anunciar que iria se casar e apareceu vestido de noiva no dia marcado.

Pulando para 2005, Allen Iverson usou seu estilo streetwear como forma de protesto contra regras impostas naquele ano. As normas proibiam camisetas largas, calças de moletom e joias consideradas “pouco profissionais” durante jogos e coletivas de imprensa.
Ainda que fosse de forma não explícita, as novas regras carregavam uma bagagem racial. O basquete sempre foi um dos pilares da cultura de rua, popular entre jovens negros. A tentativa de David Stern, comissário da NBA da época, era tornar a liga mais “segura e atraente” para patrocinadores brancos.
Corredores viraram as novas passarelas?

Hoje, nomes como LeBron James, Russell Westbrook, PJ Tucker e Shai Gilgeous-Alexander são alguns dos principais responsáveis por manter essa tradição viva. O jogador Westbrook, por exemplo, é conhecido por looks mais ousados e experimentais; PJ Tucker ganhou fama de“o rei dos tênis”, tendo uma das coleções mais valiosas da NBA. Já Shai virou queridinho das revistas de moda, sendo capa da GQ e presença constante nas semanas de moda. Esses atletas consolidaram o pré-jogo como vitrine fashion, elevando o basquete ao patamar de referência global de estilo.
Esse estilo conquistou status e respeito no mundo da moda. Marcas como Louis Vuitton, Off-White e Nike já se uniram em colaborações que transformaram os famosos sneakers em objetos de coleção e desejo.
No Brasil, essa estética encontrou terreno fértil. O funk ostentação e o trap importaram códigos do basquete e os traduziram em linguagem local. Bonés de aba reta, camisetas largas e correntes pesadas são peças indispensáveis. Nas periferias, esse estilo não é apenas uma performance esportiva, mas sim identidade cultural daqueles que estão vestindo.
Da quadra para as passarelas, o jogo mudou. Hoje, quem dita moda não são apenas estilistas, mas também atletas, as ruas e os jovens que utilizam a roupa como linguagem. Porque, no fim, moda é sobre aquilo que queremos comunicar.
Escrito por: Isabelly Godoy | Editado por: Ana Carolina Gomes

