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Jean Paul Gaultier retorna aos holofotes sob a visão de Lantink

O estilista holandês revisitou símbolos marcantes da grife e causou choque nas passarelas ao desafiar convenções de gênero e estéticas.

A Paris Fashion Week deste ano foi palco de um dos eventos mais aguardados do calendário do universo fashion: a estreia de Duran Lantink como novo diretor criativo da Jean Paul Gaultier. 

A marca, que estava afastada do prêt-à-porter (conhecido como “pronto para vestir”) há pouco mais de uma década, retorna agora com um desfile que não apenas revisita o seu legado, como também o tensiona e transforma ao máximo. Em 2014, Gaultier explicou que, devido ao ritmo frenético da criação de peças e falta de abertura para uma renovação criativa, deixaria de apresentar coleções ready-to-wear.

Conhecido pelo apego à desconstrução, o estilista holandês optou por transformar a passarela de um porão industrial mal iluminado em um cenário que remete a clubes e baladas noturnas. Ainda, a trilha sonora deu vida ao que Duran possuía como missão ao desfilar sua coleção na Paris Fashion Week: “incomodar os adultos”, em suas palavras, e honrar o apelido de “l’enfant terrible” (criança terrível) do fundador da marca.

Foto: Reprodução/Instagram/@duranlantinkyo

A reformulação dos ícones de Jean Gaultier

A herança de Paul Gaultier permaneceu presente nas roupas, mas foram reconstruídas e renovadas a “maneira Duran” de ser. O desfile abre com um body laranja com a parte dos seios apontada para as laterais, semelhante ao modelo criado para Madonna na virada dos anos 1980 para os 1990. 

As listras azuis e brancas e o chapéu de marinheiro evocaram o clássico da maison. A aparição de segundas peles com desenhos de tatuagens também é uma assinatura da grife desde 1990. Cada detalhe foi pensado por Duran para homenagear o passado, mas de forma provocativa aos consumidores.

Entre tradições e rupturas

A coleção ainda resgatou temas como gênero e sexualidade. Homens e mulheres desfilaram em conjuntos semelhantes, mas trocados em relação ao padrão social considerado “comum”: homens desfilaram de maiôs, espartilhos e roupas acinturadas, como blazers. Enquanto mulheres apareceram com vestes simulando um corpo nu masculino e super-heroínas.

A coleção SS26 também apresentou recortes diferentes do usual, e não foram reservados apenas para as modelos femininas.

Por enquanto, a mensagem é única e clara: denunciar a noção atual de papel de gênero e preconceitos difundidos (corrigir) ao longo das décadas. Em sua coleção de inverno 2025, Duran já havia colocado uma modelo para desfilar com um top de látex moldado como torso masculino, e um modelo com seios de látex.

Lantink conseguiu resgatar a  imagem de Gaultier e trazer a marca de volta ao centro da conversa mundial, atualizando o espírito irreverente do fundador para a era dos algoritmos e hits. 

Se Jean foi a “criança terrível” da moda, seu sucessor para estar disposto a assumir o mesmo título com todas as letras. Mesmo que, para isso, seja necessário chocar as passarelas de Paris.  

Escrito por Malu De Nigris | Editado por Ana Carolina Gomes

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