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Cannabis sativa veste a nova era da moda consciente

Imagem: Freepik.com

As discussões sobre práticas mais sustentáveis têm ganhado cada vez mais relevância na sociedade, e esse movimento também se reflete no universo das marcas, onde a busca por responsabilidade ambiental se fortalece a cada dia.

No setor têxtil, por exemplo, materiais alternativos como o cânhamo, fibra derivada da planta Cannabis sativa e popularmente conhecido como hemp, vêm se consolidando como uma opção promissora para uma moda mais consciente e ecológica.

Apostando no uso de matérias-primas naturais e de baixo impacto ambiental, a Oriba, marca brasileira de moda masculina sustentável, propõe um novo olhar sobre os excessos do setor.

Seu propósito é claro: incentivar um consumo mais consciente por meio de produtos que respeitam o meio ambiente. Com processos minuciosos e uma curadoria detalhada na escolha de materiais como o cânhamo e o algodão orgânico, a marca busca reduzir os impactos ambientais ao longo de toda a cadeia produtiva.

O resultado são roupas sustentáveis, com design atemporal e alta durabilidade. Um exemplo, é a linha Oriba Hemp que mostra como fibras naturais podem ser elegantes, funcionais e livres de estigmas.

Para Rodrigo Otani, cofundador da marca, a realidade é clara: “Durante décadas o cânhamo foi deixado de lado por razões políticas, culturais e regulatórias. Mas sempre esteve ali, como um clássico esquecido no fundo do armário, esperando o momento certo de voltar.”

A seguir, Rodrigo fala sobre o processo de desenvolvimento da linha, os desafios de trabalhar com o cânhamo no Brasil e como a moda pode ser um agente de transformação. Confira os principais trechos da entrevista:

Como surgiu a ideia de trabalhar com roupas feitas a partir da fibra de cânhamo?

Rodrigo: A ideia surgiu de uma vontade de testar os limites do que entendemos por sustentabilidade na moda. Acompanhamos há um tempo o uso do cânhamo em outras partes do mundo, e vimos nele uma oportunidade de trazer algo inovador para o Brasil, tanto no que diz respeito ao produto quanto à narrativa. Ao mergulhar na pesquisa, percebemos o potencial da fibra: forte, durável, com excelente respirabilidade e uma pegada ambiental muito mais leve. Foi um caminho natural.

Nos últimos anos, vimos um aumento no interesse por materiais alternativos e sustentáveis. Por que você acha que o cânhamo ganhou espaço agora?

Rodrigo: Hoje, com a conscientização crescente dos consumidores e a urgência por escolhas mais responsáveis, essa fibra ancestral ganha o espaço que sempre mereceu. Eficiente, regenerativa, versátil e de baixíssimo impacto ecológico, ela mostra como o passado pode apontar para o futuro da moda.

A fibra de cânhamo ainda enfrenta preconceitos por estar relacionada à cannabis? Como vocês lidam com isso na comunicação da marca?

Rodrigo: Sim, ainda existe um certo tabu, especialmente em mercados menos familiarizados com o tema. Enxergamos isso como uma oportunidade de educar. Por isso, usamos uma abordagem educativa e transparente, explicando de forma clara a diferença entre cânhamo e maconha. O cânhamo é cultivado a partir de linhagens específicas da Cannabis sativa, com baixíssimo teor de THC e sem qualquer efeito psicoativo. Ele é legal, seguro e extremamente eficiente como matéria-prima. Acreditamos que, com informação de qualidade e experiência real com o produto, é possível quebrar barreiras e ampliar a aceitação dessa fibra no mercado.

Como os consumidores estão reagindo às peças sustentáveis?

Rodrigo: A receptividade tem sido muito positiva. O público está cada vez mais atento e exigente, quer entender de onde vêm os materiais, quem fez as roupas e qual o impacto por trás da compra. As peças sustentáveis da Oriba não só entregam essa história, como também oferecem conforto, durabilidade e estilo, o que amplia ainda mais o valor percebido.

Como a Oriba enxerga o mercado para produtos feitos com cânhamo, mesmo com os tabus que ainda existem em torno dessa matéria-prima? E como surgiu a ideia de apostar justamente nela?

Rodrigo: Enxergamos como uma iniciativa ousada e necessária. Acreditamos que marcas com propósito têm o dever de abrir caminhos. O cânhamo reúne tudo o que buscamos: sustentabilidade, versatilidade e um toque único. Mesmo com as resistências culturais, sabemos que o conteúdo certo quebra barreiras e estamos aqui para ser parte desse movimento.

Vocês percebem que o público que busca a Oriba é mais jovem? Existe uma faixa etária predominante entre os consumidores da marca?

Rodrigo: Nosso público é diverso, mas há sim uma presença significativa de consumidores mais jovens, especialmente entre 30 e 40 anos. São pessoas que cresceram com maior consciência ambiental e social, pesquisam antes de comprar, valorizam marcas com propósito e enxergam a moda como uma extensão dos seus valores. Para esse público, sustentabilidade já não é um diferencial, é o mínimo esperado.

Como nasceu a Oriba e qual é o propósito central da marca?

Rodrigo: A Oriba nasceu com o desejo de questionar os excessos da indústria da moda e oferecer um caminho mais consciente. Nosso objetivo sempre foi transformar o consumo em uma ferramenta de mudança tanto ao adotar práticas mais sustentáveis quanto ao investir em educação. No início, a cada peça vendida, um kit escolar era doado. Hoje, investimos 1% das nossas vendas em projetos da UNICEF.

Nesse sentido, ainda que o termo cânhamo possa soar desconhecido para muitos, a Oriba vem quebrando estigmas com propósito e estilo, mostrando à indústria da moda e aos consumidores da marca a importância de repensar o setor com materiais que respeitam o meio ambiente.

Escrita por: Letícia Elisa | Editado por: Giovanna Té Bassi


Acreditando na comunicação como ferramenta de transformação, sou formada em Jornalismo pela FMU FIAM FAAM com atuação no amplo universo de Relações Públicas. Intermediando entre os dois horizontes, sou apaixonada por arte, cultura, moda e diversidade. Sempre atenta às tendências do cotidiano, busco entender o comportamento humano por meio da escrita, enquanto vivo na caótica e vibrante cidade de São Paulo.

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