
O retorno do maximalismo: como a moda cansou do minimalismo e voltou a gritar???
“Menos é mais”? Não em 2025! As passarelas e as redes sociais estão mais barulhentas.

O retorno do exagerado
Depois de anos dominados por cores neutras, cabelos impecavelmente polidos e a estética “clean girl”, aquela combinação entre pele de “glazed doughnut”, tênis brancos e matcha latte que invadiu o TikTok, a moda parece ter cansado de sussurrar. 2025 marca uma virada em que a exuberância volta a ser o motor da autoexpressão.
Em entrevista à Forbes, Daniel Roseberry, diretor criativo da Schiaparelli, criticou a associação entre modernidade e simplicidade, dizendo:
“Estou cansado de ver a modernidade ser constantemente associada à simplicidade. O novo também pode ser trabalhado, barroco, extravagante”.
De lá para cá, volumes exagerados, cinturas cintilantes, estampas gritantes e sobreposições de acessórios foram vistos nos desfiles de Schiaparelli, Marc Jacobs e até de casas tradicionalmente minimalistas, como a Calvin Klein. A máxima “mais é mais” voltou a ditar a moda, e isso não é apenas uma escolha estética.
Do “clean girl” ao caos: quando o minimalismo saturou
A estética clean girl prosperou no pós‑pandemia: pele luminosa, coque alinhado, cores pastel e um ar de quiet luxury que combinava com a ascensão das it girls como Hailey Bieber e Matilda Djerf.
Esse visual, que nasceu como um ideal de autocuidado e sofisticação, acabou se tornando um uniforme imposto.
Em reportagem da Newsweek, pesquisadores de tendências apontam que a Geração Z está abandonando a maquiagem quase invisível e as roupas de luxo discretas para adotar um visual propositalmente bagunçado e autêntico.
A criadora de conteúdo Anne Valois descreve essa virada como “um retorno à personagem” após anos de minimalismo: o visual “clean girl” começou como um ideal calmante, mas se tornou rígido e performático; as pessoas estão exaustas da pressão de parecer e comportar‑se igual a todo mundo.
Angie Meltsner, fundadora do estúdio de pesquisa cultural Tomato Baby, explica que a migração do clean girl para o messy cool girl é uma forma de lidar com a incerteza global: em vez de projetar controle e sobriedade, os jovens desejam “um tipo de energia caótica e subversiva”, abraçando a imperfeição como sinal de autenticidade.
Headphones, bolsas enormes transbordando objetos pessoais e cabelos despenteados deixaram de ser gafe e passaram a ser símbolo de liberdade.
Autoexpressão, liberdade e política visual
O retorno do maximalismo tem um fundo emocional e político. Depois de anos de pandemia, recessão, crises climáticas e instabilidade global, o desejo de se destacar ganhou nova força.
É como se, diante do apagamento coletivo, as pessoas quisessem reafirmar sua existência através da imagem. Vestir-se de forma extravagante virou uma maneira de gritar: eu estou aqui.
Além disso, o minimalismo dos últimos tempos estava cada vez mais associado a padrões de comportamento femininos idealizados: a mulher limpa, controlada, disciplinada, que acorda cedo para tomar suco verde e que nunca erra no look.
O maximalismo responde com liberdade, excesso, espontaneidade e até imperfeição. É uma estética que permite brincar, experimentar e inventar versões de si mesma.
Adotar o maximalismo, portanto, é também um gesto político: rejeitar a uniformização algorítmica de feeds que nos faz parecer cópias uns dos outros, desafiar padrões de beleza rígidos e celebrar identidades plurais.
Esse retorno não se limita às roupas. Na beleza, a tendência também se manifesta. As marcas estão apostando em batons escuros, blushes vibrantes e maquiagens que fogem ao natural.
É o fim da era da pele sem defeitos e o início de uma maquiagem com personalidade. O maximalismo também aparece nos perfumes intensos, nos penteados rebuscados e na estética dos desfiles e campanhas publicitárias.
Celebridades como Chappell Roan, Doja Cat, Olivia Rodrigo e Addison Rae vêm liderando essa mudança visual.
Seus looks frequentemente misturam referências, exageram nas proporções e brincam com o lúdico. O maximalismo virou entretenimento, mas também virou manifesto.
O maximalismo como sintoma e resposta
Mais do que tendência, o maximalismo é uma resposta cultural. Ele emerge da saturação com o discreto, com o algoritmo, com o bom gosto pasteurizado.
É também uma reação à pressão da perfeição digital. Na estética do mais é mais, cabe emoção, memória, erro, volume e caos. É um espaço visual onde tudo é permitido, desde que faça sentido pra você.
O maximalismo não está ditando regras, está quebrando elas! Em vez de seguir um modelo ideal, ele convida à construção de um estilo próprio, onde vale exagerar, misturar, provocar e expressar. E se, no meio disso tudo, alguém achar que está demais, a resposta é simples: ainda não é o bastante!
Mas calma…
Adotar o “mais é mais” não significa comprar compulsivamente ou descartar tudo o que é neutro. Significa permitir‑se experimentar, misturar estampas, resgatar roupas do passado, usar aquele colar exagerado herdado da avó e se divertir com a moda.
Significa vestir‑se para si, não para o algoritmo ou para um padrão inalcançável.
Como toda tendência, o maximalismo passará por transformações, mas seu retorno nesta década nos lembra que, às vezes, é preciso fazer barulho para ser ouvido.
Se o minimalismo nos ensinou que menos pode ser mais, o maximalismo nos convida a celebrar o excesso com propósito, expressando quem somos sem pedir desculpas.
Se você curte refletir sobre moda, comportamento e cultura visual, o Fashionlismo está sempre acompanhando as transformações do agora.
Escrito por: Caroline Pereira| Editado por: Alice Maria

