
O que é o quiet luxury? E será ele tão quieto assim?
Nos últimos dois anos, o termo “quiet luxury” começou a ganhar certa notoriedade nas redes sociais, e desde então, tem sido impossível não trombar com conteúdos desse certo “conceito”. Mas o que esse termo significa exatamente?
Bom, o significado, da maneira mais simplista possível, é: luxo silencioso. Inicialmente, estaríamos falando de uma tendência de moda que valoriza a discrição, roupas de cortes retos, cores neutras, silhuetas atemporais — simples, porém elegantes —, roupas caras, mas sem logotipos gigantescos de marca.
Ainda seguindo esse raciocínio, o quiet luxury seria uma espécie de contraponto à estética mais famosa da década passada, a ostentação. Uma estética regada pelo consumo exagerado, looks com logotipos gigantes, pingentes de grife e muito mais. A ideia era mostrar tudo que se comprava e, assim, receber a validação do maior número possível de pessoas. Tratava-se de um estilo de vida: quanto mais, melhor!

Um estilo de vida
O quiet luxury e seus adeptos, supostamente apreciadores de toda aquela estética old money (termo também popularizado pelas redes sociais), se agradam por pertencer a um grupo seleto de indivíduos. Aqueles que conseguem ler as etiquetas invisíveis, que seriam capazes de reconhecer uma peça Loro Piana de longe, ou uma bolsa da Versace que não possua a estampa mais emblemática… Pessoas que falam uma língua totalmente diferente da nossa, meros mortais.
Mais do que uma tendência, o conceito se torna uma filosofia de estilo de vida. Não é apenas sobre roupas sem marcas visíveis: é uma narrativa de poder silencioso e pertencimento a uma elite cultural, que continua a moldar a forma como o capitalismo se adapta aos novos códigos culturais da era digital.
Como uma jornalista recém-formada, não pude deixar de pensar em Pierre Bourdieu (O CARA quando se trata de comunicação!) e, relendo algumas de suas várias teses sobre o funcionamento da sociedade, notei algumas informações muito importantes e condizentes com essa pauta: Bourdieu entende a moda como uma possível variável a ser considerada. Nesse contexto, a moda funciona como um marcador de capital social, que reforça hierarquias de classe já conhecidas e seu reconhecimento através de códigos de linguagem reservados apenas para a elite.
Quiet luxury e política
Mas como a moda e o capitalismo se encontram nesse conceito? Bom, o movimento não deixa de ser uma evolução do próprio capitalismo. O acúmulo de capital continua o mesmo, mas o modo de demonstrar status se transformou. Aquele consumo extensivo e exibido da década passada deu lugar a uma espécie de código interno, como citado anteriormente, que é entendido apenas por quem pertence a determinados círculos. Trata-se de uma forma de exclusividade, que separa os “iniciantes” dos “pertencentes”.
Além disso, as redes sociais são o epicentro desse conceito. A economia digital começa pelas redes, enquanto as massas são bombardeadas com microtendências descartáveis, o quiet luxury oferece um refúgio para essa elite, um ideal de permanência. Marcas como Loro Piana, The Row e Brunello Cucinelli tornaram-se referências, não por campanhas estridentes, mas pelo investimento em matérias-primas raras, cortes minimalistas e uma comunicação quase silenciosa.
É importante destacar que esse movimento não é um abandono da lógica do mercado. O luxo silencioso não desafia a ordem econômica já estabelecida, ele apenas cria novas barreiras simbólicas e consolida desigualdades sob essa fantasia da discrição.
Agora, por que é importante falarmos sobre isso de forma mais crítica? Porque a moda sempre foi e sempre será política. Ela é diretamente impactada pelas formas de poderes da nossa sociedade — e acompanha todas as mudanças da democracia. Por isso o quiet luxury é tão relevante, porque espelha uma nova forma de poder que estamos vivendo no mundo. O que está em jogo não é a rejeição do consumo, e sim a sua transformação em algo cada vez mais inacessível.
Em suma, a popularização do termo quiet luxury revela a habilidade do capitalismo em absorver críticas — neste caso, à ostentação — e convertê-las em novos modelos que se revelam apenas mais uma forma de distinção social. Se antes o status era gritado, escandaloso, agora sussurra. Mas continua a falar a mesma língua: a do privilégio.
Escrito por: Samara Santiago / Editado por: Maria Clara Machado

