
O que esperar de Matthieu Blazy na Chanel?
O mundo da moda aguarda com grande expectativa a estreia de Matthieu Blazy na passarela da tradicional casa francesa, a Chanel, marcada para o dia 6 de outubro.
Conhecido por sua visão refinada e discretamente disruptiva na Bottega Veneta, o estilista franco-belga agora enfrenta o desafio de reinterpretar os códigos de uma das grifes de luxo mais icônicas do mundo. O que esperar deste novo capítulo da maison?
A nomeação de Matthieu Blazy como diretor criativo da Chanel, em dezembro de 2024, representa um dos momentos mais significativos da moda contemporânea.
Aos 40 anos, Blazy assume a responsabilidade de comandar uma das marcas mais valiosas do mundo, com receita anual estimada em 18,7 bilhões de dólares, segundo dados do The Business Of Fashion, sucedendo Virginie Viard após seis meses de interinidade nos ateliês da maison Chanel.
Trajetória consolidada
Matthieu Blazy construiu sua reputação como designer por meio de uma trajetória sólida nas principais casas de moda internacionais.
Nascido em 1984 em Paris, filho de uma historiadora e de um especialista em arte, cresceu imerso desde cedo no universo criativo.

Formado pela prestigiada escola de artes visuais La Cambre, em Bruxelas, Matthieu estagiou na Balenciaga e na John Galliano antes de iniciar sua carreira em 2007 como designer de moda masculina para Raf Simons.
Em 2011, ingressou na Maison Margiela, onde foi responsável pelas coleções de alta-costura e prêt-à-porter feminino da linha Artisanal. Em 2014, tornou-se designer sênior da Celine, e em 2016 voltou a trabalhar com Raf Simons na Calvin Klein.
Sua passagem mais marcante foi na Bottega Veneta, onde assumiu o cargo de diretor de design do prêt-à-porter em 2020 e, no ano seguinte, tornou-se diretor criativo da marca.
Durante os três anos à frente da grife, Matthieu Blazy revitalizou o seu DNA, sendo elogiado por rejuvenescê-la com coleções e produtos inovadores, como as bolsas Sardine e Andiamo. Além das icônicas peças de couro que imitam materiais como o denim, transformando o conceito de luxo artesanal na moda contemporânea.


Desafios à frente
A chegada de Matthieu Blazy à Chanel ocorre em um momento particularmente desafiador para o mercado de luxo global.
Em 2024, grandes grupos, como LVMH e Kering, registraram quedas significativas em receitas e lucros, refletindo a desaceleração no consumo de produtos de luxo.
Esse cenário tem levado diversas casas de moda a reavaliar suas estratégias criativas e operacionais – incluindo mudanças na direção criativa.
De acordo com fontes como Fashion Network e Vogue Business, a nova maison de Matthieu Blazy registrou uma queda de 4,3% nas vendas, totalizando US$ 18,7 bilhões, e uma redução de 30% no lucro operacional, que caiu para US$ 4,5 bilhões.
Além dos desafios financeiros, a Chanel enfrenta críticas sobre aumentos sucessivos de preços e questionamentos sobre a qualidade de seus produtos.
Bruno Pavlovsky, presidente de moda da marca, afirmou em entrevista à The Business of Fashion que:
“Os aumentos de preços podem se tornar um problema quando a qualidade não corresponde ao custo.”
E destacou que a maison trabalha continuamente para reforçar a excelência de seus produtos.
Neste cenário, a escolha de Matthieu Blazy para a Chanel representa uma aposta estratégica onde se tem uma renovação da imagem da marca, mas sem a perda de sua essência, confiando em sua visão criativa para conduzir a maison em um momento desafiador no mercado de luxo global.
Transformação sutil dos símbolos Chanel
A verdadeira expectativa em torno de Matthieu Blazy para este importante cargo reside em sua habilidade de transformar elementos cotidianos em objetos de desejo genuinamente luxuosos.
Na Bottega Veneta, o designer dominou a arte de reinventar o familiar por meio de técnicas artesanais sofisticadas e inovações tecnológicas. Junto de técnicas artísticas como o trompe-l’oeil, que cria efeitos visuais que confundem percepção e realidade, abordagem essa que aproxima o surrealismo à moda.
Suas calças de couro que simulam perfeitamente o denim tradicional. Assim como peças – também feitas de couro – que simulam outras texturas e materiais, exemplificam essa filosofia: do ordinário, criar o extraordinário.


Essa abordagem pode revolucionar os icônicos designs da Chanel. O tweed, tecido emblemático da maison desde os anos 1920, pode ser reimaginado com as técnicas artesanais que Blazy aperfeiçoou na Bottega Veneta, onde ele trabalhou com texturas complexas e maquetes têxteis, combinando fios, tramas e técnicas para criar tecidos únicos.
Aplicada ao tweed, essa técnica pode gerar peças que mantêm a essência clássica da Chanel e incorporam uma contemporaneidade sutil, flertando levemente com o surrealismo – Ironicamente à maneira da rival Schiaparelli.


As correntes douradas da bolsa matelassê também oferecem território fértil para a inovação característica de Matthieu Blazy.
Sua experiência com metais esculturais, evidenciada na criação da alça de alumínio fundido e folheada a ouro da bolsa Sardine, sugere possibilidades fascinantes para reinterpretar as correntes da Chanel.
O processo de microfusão artesanal que torna cada peça única poderia ser aplicado aos elementos metálicos da maison, criando acessórios com uma exclusividade genuína.

Inovação técnica e artesanal
O domínio de Matthieu Blazy em combinar artesanato tradicional com tecnologia de ponta representa um diferencial crucial para a Chanel.
Na Bottega Veneta, ele explorou técnicas como a impressão 3D aplicada à tecelagem de couro exclusiva da maison: a Intrecciato, demonstrando como a inovação pode potencializar – ao invés de substituir – o trabalho artesanal.


Para a Chanel, isso abre possibilidades inéditas de modernizar técnicas centenárias.
O quilting (técnica de costura artística que consiste em costurar duas ou mais camadas de tecido para criar um acolchoado) fortemente presente nas bolsas da maison pode evoluir por meio de processos tecnológicos avançados, mas mantendo o trabalho manual como base.
Matthieu Blazy já provou sua capacidade de criar texturas surpreendentes, habilidade que pode ser aplicada aos materiais tradicionais da marca francesa.
Sua filosofia de “tornar o básico em algo especial e luxuoso” alinha-se à necessidade da Chanel de renovar peças icônicas sem descaracterizar sua identidade.
Modernização da imagem
O paralelo mais revelador entre o trabalho de Blazy na Bottega Veneta e suas possibilidades na Chanel está em sua capacidade de modernizar marcas preservando sua alma.
Na Bottega, ele conseguiu manter o DNA do luxo discreto enquanto criava objetos de desejo para uma nova geração de consumidores.
Sua abordagem combina elementos aparentemente contraditórios: Tradição e vanguarda, artesanato e tecnologia, simplicidade e sofisticação.
Na Chanel, essa síntese pode resultar em coleções que conversam simultaneamente com clientes fiéis à herança da marca e jovens consumidores em busca de autenticidade contemporânea.
As bolsas Andiamo e Sardine, que se tornaram it bags instantâneas, demonstram sua capacidade de criar peças que funcionam tanto como objetos funcionais quanto como símbolo de status cultural.
Aplicada à peças icônicas da Chanel, como as bolsas 2.55 ou os suits de tweed, essa técnica pode resultar em um design que mantém a personalidade da marca enquanto oferece um frescor genuíno para novas gerações.


Expectativas para a nova era
A estreia oficial de Matthieu Blazy está marcada para o dia 6 de outubro de 2025, durante a Paris Fashion Week, quando apresentará sua primeira coleção prêt-à-porter para a Chanel.
O evento já é considerado um dos mais aguardados do calendário fashion internacional.
Bruno Pavlovsky deixou claro as expectativas da maison:
“Não queremos dar a sensação de que a marca está presa. Queremos que ele se esforce, teste, vá onde acha que é certo”.
Esta declaração indica uma abertura inédita da Chanel para experimentação e renovação. Mas mantendo, é claro, o respeito por sua herança histórica.
Espera-se que Matthieu Blazy traga sua técnica em artesanato refinado e capacidade de criar objetos de desejo genuínos.
Sua habilidade demonstrada de equilibrar tradição e modernidade na Bottega Veneta sugere que ele pode conseguir atualizar os códigos clássicos da Chanel sem descaracterizar a identidade da maison.
O impacto na indústria da moda
A nomeação de Matthieu Blazy representa mais que uma simples mudança de direção criativa. Ela simboliza uma nova abordagem da Chanel ao futuro, buscando equilibrar sua posição como líder no mercado de luxo com a necessidade de inovação constante da indústria.
A expectativa é que Blazy consiga escrever um novo capítulo na história centenária da Chanel, respeitando o legado de Coco Chanel e Karl Lagerfeld, enquanto constrói uma visão própria para o futuro da maison.
Com sua capacidade demonstrada de transformar técnicas tradicionais em criações contemporâneas desejáveis, ele possui as ferramentas necessárias para modernizar os códigos icônicos da marca sem comprometer sua essência luxuosa.
No aguardado debut de outubro, o mundo da moda espera para descobrir como o estilista irá interpretar os icônicos códigos da casa francesa.
E a pergunta que fica até lá é: O que vem agora?
Escrito por: Victória Parente | Editado por: Alice Maria

