Intensidade e fantasia marcam a semana de moda de Londres
Uma temporada marcada pelo equilíbrio entre o experimental e o comercial, com nostalgia, cores vibrantes e texturas excêntricas

A semana de moda de Londres sempre foi conhecida por sua ousadia e experimentação. No entanto, nesta temporada, o evento mostrou um lado um pouco mais comercial – sem perder sua essência vanguardista. De acordo com Paula Bragagnolo, diretora criativa e fundadora da PGB Inteligência, a cidade apresentou um mix interessante entre intensidade e fantasia, trazendo peças que transitam entre o conceitual e o desejável.
A reinvenção comercial da Burberry
Entre os destaques da temporada, Burberry chamou atenção ao reforçar sua nova identidade, equilibrando inovação e tradição. Segundo Paula, essa mudança já era esperada após a presença da marca na NRF (National Retail Federation), onde discutiu a reinterpretação do luxo. “A Burberry veio muito comercial, mas sem perder seus signos icônicos. Os trench coats ganharam movimento com franjas e estampas repaginadas, além de uma cartela de cores intensa”, explica Paula.

Londres mais comercial?
Mesmo estilistas tradicionalmente ligados à experimentação, como Simone Rocha e Thom Browne, surpreenderam com coleções mais comerciais. Ainda assim, o DNA excêntrico de Londres permaneceu vivo em marcas como Paolo Carzana, que manteve a pegada vanguardista com jeans desconstruídos e modelagens inusitadas.
Essa dualidade levanta um questionamento interessante: será que a experimentação está se tornando mais acessível? Ou os estilistas estão buscando formas mais palpáveis de expressar seus conceitos? Para Paula, “A temporada londrina pode estar sinalizando uma nova fase da moda, onde a vanguarda se adapta a um público mais amplo”.

Fantasia e nostalgia: a estética da elite do passado
Apesar da comercialização crescente, o espírito fantasioso e nostálgico se manteve presente nas coleções. Muitos designers buscaram inspiração no passado, revisitando a excentricidade luxuosa de outras épocas. A paleta de cores e os materiais reforçam essa atmosfera. O preto dominou diversas coleções, enquanto tons de burgundy, roxos e azuis profundos evocaram sofisticação. Marrons e amarelos vibrantes, em tons de mostarda, apareceram como um contraste inesperado, enquanto o preto e branco se destacaram em grafismos, especialmente no trabalho de Thom Browne.
“Texturas lúdicas e extravagantes ganharam espaço, com pelúcias e tecidos “fofos” reinterpretando o luxo de forma divertida. A marca Erdem, por exemplo, investiu em um trabalho artístico impressionante, colaborando com um pintor de aquarela para trazer estampas inspiradas em colagens e pinturas, o que adicionou um toque artesanal e sofisticado às peças”, explica Paula.
Ombros dramáticos e comprimentos estratégicos
Outro ponto em comum com a semana de moda de Nova York foi a presença de ombros marcantes. Em Londres, os ombros surgiram envoltos em tecidos volumosos, com estruturas elegantes e extravagantes, conferindo um ar teatral e refinado às peças. “Em relação aos comprimentos, Londres seguiu a tendência de saias e casacos no meio da canela, consolidando esse visual sofisticado e imponente”, destaca Paula. As calças, por outro lado, apareceram menos do que em Nova York, mas tiveram presença notável na coleção da Burberry.
Mesmo sendo uma semana menor em comparação a outras grandes capitais da moda, Londres provou mais uma vez sua capacidade de surpreender. “A temporada mostrou que o experimentalismo ainda tem espaço, mas que a moda londrina está buscando um equilíbrio entre conceito e comercialização. Com intensidade e fantasia, a cidade reafirmou sua identidade e trouxe novas reflexões sobre o futuro da moda”, completa a especialista em moda, design e comportamento do consumidor.

