O novo luxo da geração Z: Os “dupes”
Podem ser considerados moda sustentável ou consumo inconsciente?
Cada vez que uma nova polêmica surge nas redes sociais, vários portais de notícia e criadores de conteúdo se unem para discutir o tema. A recente onda dos dupes de bolsas e acessórios de luxo não é exceção, e já vem repercutindo na internet há algum tempo. Inicialmente, a discussão estava centrada em maquiagens, mas a situação se intensificou, e agora existem até mesmo sites dedicados a encontrar dupes de acessórios, sapatos e roupas de grife, tudo a um clique de distância.
O que são Dupes?
Os dupes, abreviação de “duplicates“, são versões inspiradas em produtos de luxo, como bolsas e acessórios, que imitam o design e a aparência dos originais, mas a um preço significativamente mais baixo. Ao contrário das falsificações, que tentam replicar a marca e enganar o consumidor, os dupes geralmente não carregam o nome ou logo da marca original, mas ainda assim se assemelham bastante aos produtos de grife. Essa tendência tem ganhado força na internet, especialmente entre consumidores que desejam estar na moda sem comprometer o orçamento, embora também levante debates sobre originalidade e direitos de propriedade intelectual.
A Geração Z e o consumo consciente na moda
Mas será que a Geração Z está realmente tão comprometida com a sustentabilidade? Quando o assunto é moda, o que parece falar mais alto é o apego ao consumismo e à ostentação, alimentado por criadores de conteúdo que, muitas vezes, não têm uma preocupação genuína com responsabilidade e sustentabilidade.
É aquela velha história: você não precisa daquela peça, não está realmente preocupado com exclusividade e qualidade; você só quer fazer parte da massa. Na sua perspectiva, faz sentido gastar menos para ter acesso a uma peça que está em alta, para se sentir acolhido e completo. Mas, no fundo, você sabe que isso é pura ilusão e não agrega nada de verdadeiro à sua vida.
Falsificações e Dupes: onde está a vantagem?
E quando falamos em “gastar menos” em uma bolsa falsificada, por exemplo, é importante destacar que os preços desses itens muitas vezes se aproximam dos das grifes autênticas. Uma bolsa Gucci que você compraria por R$5.000,00 em um outlet com desconto, nesses lugares que vendem a chamada “linha italiana”, custa entre R$3.000,00 e R$4.000,00 por uma réplica. Onde está a vantagem? Se a questão é apenas “ter por ter”, não faz sentido pagar esse preço em uma peça falsa e sem qualidade.
Aqui, podemos encontrar de maneira muito simples e didática como reconhecer uma Hermès Birkin falsa e o passo a passo para conseguir a sua dupe perfeita. Além disso, já existem até mesmo páginas no Instagram de vendas de dupes, não só de luxo mas também de marcas populares como Zara.
Moda Sustentável: investindo em peças autênticas e acessíveis
Às vezes, é preferível investir em uma peça clássica de uma marca que está em alta nas redes sociais e que realmente faz sentido para o seu estilo de vida, do que optar por comprar uma bolsa falsificada que você usará no máximo três vezes, apenas por estar no hype. Ou ainda, escolher uma peça inspirada naquela bolsa dos sonhos; hoje em dia, o que mais vemos são marcas de fast fashion oferecendo essas alternativas a um preço muito mais acessível. Mas, se o que você deseja é uma peça autêntica e de qualidade, existem várias marcas nacionais de acessórios incríveis que valem o investimento.
Quando falamos sobre sustentabilidade na moda, a crescente popularidade dos dupes de bolsas e acessórios de luxo levanta questões importantes. Embora os dupes ofereçam uma alternativa mais acessível aos produtos de grife, seu impacto ambiental e ético merece uma análise cuidadosa. Muitas vezes, os dupes são produzidos em condições semelhantes às das falsificações, com pouca ou nenhuma preocupação com práticas sustentáveis.
A produção em massa desses itens pode contribuir para o aumento do consumo e o desperdício, contradizendo os princípios da moda sustentável. Em vez de optar por dupes, consumidores conscientes podem considerar investir em marcas que promovem práticas sustentáveis ou escolher peças autênticas que têm um menor impacto ambiental ao longo do tempo. A verdadeira moda sustentável vai além de economizar dinheiro; ela envolve uma escolha consciente por produtos que respeitam tanto o meio ambiente quanto as condições de trabalho.
A democratização da moda tem transformado o cenário do consumo, trazendo maior acessibilidade a tendências e estilos para um público mais amplo. Nesse contexto, os dupes de bolsas e acessórios de luxo desempenham um papel significativo, permitindo que mais pessoas experimentem o glamour das grifes a preços reduzidos. No entanto, a ascensão dos dupes também destaca a importância da moda nacional como uma alternativa viável e sustentável.
Marcas de moda brasileiras estão cada vez mais oferecendo peças de alta qualidade e design inovador a preços competitivos, desafiando o domínio das grifes internacionais e promovendo uma moda mais inclusiva. Optar por peças da moda nacional não só apoia a economia local, mas também reduz o impacto ambiental associado à produção e transporte de itens importados. Assim, enquanto os dupes democratizam o acesso à moda de luxo, a moda nacional oferece uma alternativa que valoriza a autenticidade e a sustentabilidade.
Propriedade Intelectual, falsificações e democratização da moda: impactos e desafios
A propriedade intelectual é crucial para proteger as criações originais no mundo da moda, abrangendo patentes, marcas registradas e direitos autorais. Essas ferramentas garantem que os designers possam salvaguardar suas inovações e evitar a apropriação indevida de seus designs. No entanto, a falsificação e a produção de dupes representam um grande desafio para a proteção da propriedade intelectual. Os dupes imitam o design e a marca de itens de luxo a preços reduzidos, prejudicando não apenas as grifes, mas também a economia global e a integridade do mercado de moda. A falsificação desvaloriza o trabalho criativo, reduzindo a receita das marcas legítimas e afetando a sustentabilidade e a inovação no setor.
Para aprofundar essa questão, entrevistamos a advogada Thays Toschi, especialista em fashion law, que foi presidente da Comissão de Direito da Moda da OAB SP (2012/2021) e fundadora do projeto Direito da Moda. Segundo Thays, a propriedade intelectual desempenha um papel fundamental na proteção das criações no setor, sendo regulada por leis específicas que abrangem tanto os direitos autorais quanto a propriedade industrial. Ela explica:
“Essas questões que envolvem infrações aos direitos intelectuais encontram respaldo na legislação brasileira e em tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, que visam assegurar aos detentores desses direitos que eles sejam respeitados.”
Thays também aborda a questão das falsificações e pirataria, explicando que a contrafação é uma reprodução não autorizada que pode ser categorizada como pirataria ou falsificação. A pirataria ocorre quando o consumidor sabe que está comprando um produto falso, enquanto na falsificação, o consumidor é enganado, acreditando que está adquirindo um produto original. Ela alerta:
“Essas peças podem sim vir a ser enquadradas como produtos contrafeitos, e há uma extensa previsão legal das sanções civis e penais cabíveis contra as violações e crimes contra direitos autorais e propriedade industrial.”
Quando questionada sobre o consumo de produtos falsificados pela geração Z, Thays ressalta a contradição dessa tendência. Apesar de ser uma geração que se preocupa com questões socioeconômicas e ambientais, o consumo de falsificações vai contra esses valores, resultando em um impacto negativo em várias esferas, incluindo o aumento do descarte e lixo devido à baixa qualidade dos produtos. Ela enfatiza:
“É necessário demonstrar e ensinar que o consumo desses produtos traz prejuízos gigantescos à sociedade como um todo, seja sob o aspecto econômico, ambiental e social. Todas as esferas são atingidas e todos perdem.”
Por fim, Thays sugere que a conscientização sobre o verdadeiro valor do luxo deve ser promovida através da educação de consumo. Ela conclui:
“A busca de um produto deve levar em consideração inúmeros outros aspectos além do preço e da qualidade. A compra de produtos inferiores para simulação de status ou para um falso impulsionamento de imagem não é uma opção condizente com pessoas inteligentes.”
Assim, a proteção efetiva da propriedade intelectual é essencial para promover um mercado de moda mais justo e sustentável. Valorizar a autenticidade e a ética no design não só apoia as marcas legítimas, mas também contribui para uma moda que respeita tanto os criadores quanto os consumidores.
A discussão sobre os dupes e a moda sustentável é um reflexo das complexas dinâmicas que regem o consumo na atualidade. Enquanto a democratização do luxo parece uma conquista, ela vem acompanhada de desafios significativos, tanto para a propriedade intelectual quanto para a sustentabilidade. Embora os dupes ofereçam uma aparente acessibilidade, eles também carregam implicações éticas, legais e ambientais que não podem ser ignoradas.
No final, o verdadeiro luxo não está apenas na posse de um item de grife, mas na valorização do processo criativo, na autenticidade e no impacto positivo que nossas escolhas podem ter na sociedade e no meio ambiente. Assim, é fundamental que a geração Z, e todos os consumidores, reflitam sobre o verdadeiro custo de suas compras, optando por um consumo consciente que valorize a originalidade, a ética e a sustentabilidade na moda.
O luxo na moda: muito além do preço
O conceito de luxo na moda vai muito além do simples ato de adquirir peças caras. O verdadeiro luxo se manifesta em uma série de valores e experiências que enriquecem nossa vida e nossa identidade de maneiras profundas e significativas.
Primeiramente, o luxo é muitas vezes definido pela exclusividade e pelo artesanato excepcional. Peças feitas sob medida, com atenção meticulosa aos detalhes e técnicas de alta qualidade, oferecem uma experiência única e pessoal que não pode ser comprada apenas com dinheiro. A exclusividade dessas peças reflete um nível de sofisticação e dedicação que transcende o preço.
Além disso, muitos itens de luxo carregam uma rica história e herança cultural. Essas peças são mais do que simples produtos; são símbolos de tradições, histórias e legados que perduram ao longo do tempo. O valor sentimental e cultural dessas peças proporciona uma conexão emocional que vai muito além do custo.
No mundo moderno, o luxo também é definido por práticas sustentáveis e éticas. Investir em marcas que priorizam a sustentabilidade e o respeito pelos direitos humanos reflete um compromisso com um futuro mais consciente e responsável. O luxo sustentável representa uma escolha que respeita tanto o meio ambiente quanto as pessoas envolvidas na produção.
Outro aspecto fundamental do verdadeiro luxo é a personalização e a experiência exclusiva. Seja através de um serviço de atendimento personalizado ou de uma experiência de compra sob medida, o luxo é frequentemente encontrado na atenção aos detalhes e na capacidade de oferecer algo único e especial. Essa experiência única torna a aquisição ainda mais significativa.
Por fim, o luxo é sobre a apreciação do que é verdadeiramente valioso. Em vez de se concentrar apenas no preço, o verdadeiro luxo se reflete na capacidade de reconhecer e valorizar a qualidade, a autenticidade e o significado das peças que escolhemos. O luxo não é apenas uma questão de custo, mas sim uma jornada de descoberta e apreciação de valores que enriquecem nossa vida e nossa maneira de nos expressarmos.
Assim, o verdadeiro luxo na moda vai muito além do preço. É uma celebração da qualidade, da exclusividade, da herança e da responsabilidade, transformando cada peça em algo verdadeiramente especial e significativo.
A questão que fica é: você está realmente adquirindo esses produtos para satisfazer um desejo pessoal ou é apenas para alimentar uma falsa sensação de pertencimento ao universo da elite e do glamour, talvez até mesmo influenciado pelo fashion TikTok?
Uma réplica não concretiza o verdadeiro sonho de possuir uma bolsa da sua grife favorita ou que está “no hype” do momento. Em vez disso, ela apenas alimenta o ego de quem deseja ser visto com uma peça de luxo, sem se preocupar com o que essa peça realmente simboliza. Para que uma aquisição de alto valor (e não apenas de preço) seja significativa, ela precisa ressoar com você de forma integral, e não ser parte de uma fantasia que distorce a realidade. Consumir por impulso ou desejo, sem um verdadeiro apreço pelo que está sendo adquirido, esvazia o significado do consumo consciente e autêntico.
Escrito por: Caroline Menis | Editado por: Mafê Bazalia e Flávia Pereira