Casa dos Criadores: o grande evento simbólico
Você já ouviu falar sobre a Casa dos Criadores? Venha conhecer um pouco sobre sua história
Em 1997, um grupo de jovens estilistas, com parceria com André Hidalgo, decidiram iniciar um evento com propósito de divulgar e expressar suas interpretações sobre moda. Além disso, visava de lançar novos nomes ao mercado da moda. Mas quem é André Hidalgo e porque foi tão importante? Vamos desde o início destrinchar essa história.
Jornalista, idealizador, empresário e imerso no mundo da cultura. André Hidalgo trabalhou por 4 anos no Jornal da Folha de São Paulo, como repórter e editor. Até que, em 1997 – com seu estilo curioso, sede por descobrir novos talentos e ânsia de ajudar a dar visibilidade para estes – criou a Casa dos Criadores. A criação foi dedicado exclusivamente à moda autoral. Atualmente, também é considerado o principal revelador de novos talentos da moda brasileira. No começo era nomeada “Semana de Moda”, mas, com o tempo, passou a ser denominada “Casa dos Criadores”.
“Havia um grupo muito interessante de jovens surgindo no cenário, entre eles Alexandre Herchcovitch e Lorenzo Merlino, e que estava mudando a cara da moda brasileira. Até então, era tudo muito baseado em cópia do que vinha de fora, o que dava o maior trabalho e custava um bocado, porque não havia internet, então as pessoas viajavam, compravam peças de marcas renomadas, traziam para o Brasil e desmontavam para poder reproduzi-las”, conta.
Sobre o evento
A Casa dos Criadores é realizado no início e no final do ano. Ele busca abarcar bastante a sustentabilidade, identidade e diversidade tanto cultural, quanto de gênero. É uma plataforma emblemática e inclusiva, onde os estilistas levam debates e provocam reflexão sobre suas existências e raízes; além de trazer a arte conceitual as passarelas, e não apenas o comercial.
O grande objetivo é mostrar seu fazer artístico, a beleza, o diferencial, a afronta à sociedade. Em uma época de imagem e produção desenfreada sem propósito, o lúdico é algo desejável e necessário; apenas refletimos e admiramos.
Esse ano não foi diferente, aconteceu nos dias 12 a 16 de julho (de quarta-feira a domingo), no Centro Cultural São Paulo, a 52a edição da Casa dos Criadores e teve a participação de 48 marcas, sendo oito estreantes – Guilherme Valente, Lucaz Roberto, Fel Lara, Letícia Côrtes, Raphael Aquino, Rafazildo e Giba Duarte (Plataforma Açu), Gledison de Souza (Sou Jê) e Sherida Livas. Confira alguns destaques dessa semana.
UMS 458
Em primeiro lugar, vamos começar com a segunda marca a se apresentar: UMS 458, de Lucas Lyra. Já causou grande impacto na audiência com sua apresentação sombria e brutal – se tivermos que remeter um cenário para a UMS 458, certamente seria a cultura punk. Foi interpretado por meio das roupas escuras, com estampas de fobias e shape ríspido, o trauma e medo que as pessoas carregam consigo. Nessa coleção trouxe uma estética futurística, a evolução é notória.
Not Equal
Not equal, originado por Fábio Costa, fez jus a palavra diversidade e trouxe a primeira modelo com atraso neuro motor às passarelas. Além disso, o criador da marca apresentou as roupas de um jeito único e certeiro; fez uma peça se transformar em outra ao vivo, por exemplo, uma calça em uma jaqueta. “Eu peguei uma coisa ultra futurista e a construí de forma extremamente manual”, diz. Isso mostrou, ainda mais, sua capacidade, apreço e conhecimento em técnica e modelagem, além, é claro, de explorar a funcionalidade de peças-chaves do cotidiano e mostrar como é possível, por meio da criatividade, transfigurar algo básico e desgastante em algo novo.
Dario Mittmann
Logo em seguida, tivemos o famoso Dário Mittmann, estilista por trás do icônico look vermelho verniz que a Linn da Quebrada usou na final do BBB 2022. Sem dúvida, dessa vez seguiu o fluxo do imaginário e juntou três grandes pilares em seu desfile: a moda, o jeans e o mundo gamer. Essa interpretação maximalista de estampas patchwork de denim juntamente com a influência gamer, trouxe combinações que saiu do gasto e altamente consumido, para algo especial. É nesse sentido que o fashion designer propõe uma estética que mistura o streetwear com o colorido dos desenhos, além de sobrepor essas referências à realidade turbulenta e fascinante do urbano.
Dellum
E quem aí não adora um jogo de luz e sombra? O mix de polaridade foi o ponto chave do desfile de Dellum. Teve o uso do preto e branco, nos quais quando emitidos nas roupas trazem o ar de solitude e escuridão, ao mesmo tempo reflexão e existência. E o street wear (moderno) junto do artesanato (técnicas manuais), que só confirma como podemos ser futuristas e modernos, mas sem abandonar o legado, as raízes e as tradições. Isso que Bruno Dellum quis passar com sua coleção, por meio de alfaiatarias bem feitas, acompanhadas do manuseio artesão, trouxe uma coleção rica e atualizada.
Rober Dogni
Por fim, o destaque dessa semana na Casa Dos Criadores foi para Rober Dogni, que fez um desfile em agradecimento a sua mãe, falecida no começo deste ano em decorrência de um câncer. “É um desfile de trás para frente”, diz o estilista. Ao se virar de costas, tinha-se uma máscara de látex na parte de trás da cabeça e duas mãos entrelaçadas, do mesmo material, na cintura. “É para simbolizar o outro lado”, explica Rober. Ao propósito, essa ideia repercutiu o desfile todo, que foi encenado de forma teatral e emocionante.
Foi uma mistura entre looks pretos e brancos, faria quase uma alusão ao luto da perda, junto com os anjos e a esperança. A noiva teve grande simbologia para o designer, pois, além de ser o primeiro croqui que desenhou, aos quatro anos de idade, representou também, por meio das espinhas dorsais, a fase em que o câncer de sua mãe propagou.
Só para ilustrar, o show encerrou com uma Nossa Senhora Aparecida em luto. E assim, finalizou um grande desfile que comoveu a todos, além de que conseguiu transmitir sua dor e pensamentos de uma forma inovadora e especial. Em resumo, o mais importante e mágico é que toda a renda das vendas vai ser doada ao Grupo de Apoio aos Portadores de Câncer da cidade de Fartura, em São Paulo.
Estúdio Cena
Uma semana rápida, porém intensa, turbulenta e cheia de artistas promissores no mercado. Ao mesmo tempo, todas as marcas tiveram seu toque extraordinário. Estúdio cena, estreante, que por meio do storytelling remeteu a obra Orlando, de Virginia Wolf, e fez o desfile denominado “Entreato”. Como resultado, Vittor Sinistra criou uma perfomance que questionava o preconceito religioso da comunidade LGBTQIAPN+. Jal Vieira Brand partiu de seu adoecimento em 2022, quando desenvolveu uma tromboembolismo pulmonar , para fazer sua coleção.
Cozonosan
Por fim, tivemos também a moda wearables, que consisti em algo como “dispositivos de tecnologia para vestir”, no show da Cozonosan, na qual foi apresentada a coleção “Fantasy” feita de LEDs. Entre muitas outras marcas, esse evento abarca cultura, empoderamento e questões que são importantes ficar por dentro, ademais merece o reconhecimento necessário.
Escrito por: Maria Eduarda Regis Cândido | Editado por: Flávia Pereira