
Ansiedade digital e autoestima: o papel das redes sociais na nossa saúde mental
Com um simples deslizar de dedo, é possível acompanhar a vida de centenas de pessoas, conhecer destinos exóticos, corpos padronizados, rotinas de sucesso e relacionamentos “perfeitos”. Mas por trás da tela, o que parece apenas entretenimento pode esconder um gatilho silencioso: a ansiedade digital.
Do mesmo modo, com o crescimento do uso das redes sociais, especialmente entre jovens, a saúde mental tem enfrentado um novo tipo de pressão. Ansiedade, comparação constante, baixa autoestima e sensação de inadequação tornam-se sintomas cada vez mais comuns.
Segundo uma pesquisa da Royal Society for Public Health, do Reino Unido, sete em cada dez jovens entre 14 e 24 anos afirmam que o Instagram afeta negativamente sua saúde mental, principalmente em relação à autoimagem. No Brasil, uma pesquisa da TIC Domicílios (2023) mostra que mais de 90% dos jovens entre 16 e 24 anos acessam redes sociais diariamente, sendo que 43% relatam se sentir pressionados a se manter sempre atualizados e “interessantes” online.
Além disso, o excesso de tempo diante das telas tem reduzido o convívio social presencial, comprometendo habilidades sociais, afetivas e de empatia. Para adolescentes, esse efeito é ainda mais acentuado, já que estão em fase de formação da identidade e autoestima.

Ansiedade digital e seu impacto
Para compreender de forma mais profunda como as redes sociais impactam a construção da autoestima, sobretudo entre adolescentes e jovens adultos, conversamos com Marina Leal, estudante do 7º período de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Integrante de um grupo de pesquisa dedicado ao estudo dos efeitos da cultura digital na saúde mental, Marina observa de perto o impacto dessas plataformas no bem-estar emocional dos jovens.
“A comparação social nas redes é uma armadilha constante. As pessoas compartilham apenas seus melhores momentos, viagens, conquistas, corpos idealizados, e isso cria uma ilusão de realidade perfeita. Quem vê de fora tende a se sentir para trás, inadequado, como se nunca fosse bom o suficiente”, analisa Marina.
Segundo ela, essa dinâmica alimenta sentimentos de frustração e inferioridade, contribuindo diretamente para a queda da autoestima.
“Existe uma pressão silenciosa para estar sempre atualizado, produtivo e interessante. Essa exigência constante esgota a mente e mina a saúde emocional. A pessoa sente que precisa ‘performar’ o tempo todo, mesmo quando não está bem.”
Educação emocional digital
Primeiramente, diante desse cenário, especialistas vêm defendendo a criação de espaços educativos sobre o uso consciente das redes. “Falta educação emocional digital. As escolas falam de bullying, mas ainda ignoram os efeitos do Instagram, TikTok e afins na saúde mental dos alunos”, comenta Marina.
A estudante acredita que é preciso reconectar com a vida real, resgatar vínculos fora da tela e entender que a validação externa não pode ser o termômetro da autoestima.
O fenômeno da ansiedade digital está ligado à dependência emocional e comportamental gerada pelas redes. É a inquietação ao ver que alguém não respondeu uma mensagem, o medo de perder algo importante (FOMO — fear of missing out) ou o impulso de checar o celular a cada cinco minutos.
A psicologia já reconhece esse padrão como prejudicial. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) define o uso excessivo de redes sociais como um fator de risco para transtornos de ansiedade e depressão, especialmente entre jovens em fase de desenvolvimento emocional.
Diante de tantos estímulos digitais, cultivar uma relação mais consciente com as redes sociais tornou-se um verdadeiro desafio e também uma necessidade. Aprender a reconhecer os próprios limites, desconectar-se sem culpa e valorizar experiências reais são passos importantes para proteger a saúde mental. Em um mundo onde tudo parece medido por curtidas e seguidores, resgatar o valor do que é genuíno e imperfeito pode ser o primeiro passo para reconstruir a autoestima e reencontrar o equilíbrio. Afinal, cuidar da mente é também saber quando é hora de silenciar o feed e ouvir a si mesmo.
Escrito por: Luélly Valle | Editado por: Flávia Pereira

