Aluguel de Luxo – A moda pegou!
Além de ser mais democrático e versátil, o aluguel de luxo também pode ser uma estratégia sustentável. Mas, afinal, quais são as vantagens desse sistema? Fundadoras do Closet BoBags, All Mine Club e jornalista de moda da Bazaar falam sobre o tema
No mundo da moda, as bolsas de luxo sempre foram consideradas ícones de status e elegância, reservadas para aqueles que podem pagar o alto preço de possuí-las. No entanto, uma nova tendência está mudando esse paradigma: imagine uma jovem mulher urbana e extremamente fashionista passeando por São Paulo e levando sua mais nova aquisição, uma bolsa Yves Saint Laurent, para tomar um vinho numa sexta à tarde. Ao ver uma cena como essa, você, assim como eu, deve pensar: “Uau, que luxo!”. Mas, e se eu te contar que ela, na verdade, optou pelo aluguel inteligente sem comprometer o próprio orçamento?
Baárbara Martinez é jornalista e escreve sobre moda e beauté para a Bazaar. Ela nunca teve uma Yves Saint Laurent e ainda não tem. Mas, em janeiro, ela teve a oportunidade de possuir, por alguns dias e pela primeira vez, a bolsa de luxo por meio de um clube de assinatura, a All Mine Club.
Para ela, a proposta desse negócio representa a oportunidade de ter a bolsa tão sonhada sem precisar investir muito:
Eu sempre quis ter uma Yves Saint Laurent, ainda não tenho e espero ter algum dia. Obviamente eu já tinha visto peças de luxo, por conta do meu trabalho. Mas se não fosse isso, esse seria meu primeiro contato com a grife. E aí você entende o valor daquilo, você consegue ver o acabamento e o material. É uma justificativa que vai além de marca e então, você entende o valor que tem, explica.
Até no cinema…
Em países da América do Norte e da Europa, o aluguel de luxo já era algo comum quando esse estilo de negócio chegou ao Brasil. Lançada em 1998, nos Estados Unidos, a série Sex and the City exemplificou muito bem como esse sistema funciona na prática: na ocasião, a assistente de Carrie (Sarah Jessica Parker), participa de uma entrevista de emprego usando uma bolsa Louis Vuitton que era alugada.
Com o tempo essa moda pegou! Entusiastas enxergaram em seu acervo pessoal de luxo uma oportunidade lucrativa de empreender, como foi o caso do Closet BoBags, pioneira do negócio no Brasil, e da All Mine Club, que oferece uma proposta diferente por meio do clube de assinatura.
Quando o hobby vira lucro
Criado em 2009, o Closet BoBags foi o primeiro e-commerce de aluguel e venda de itens de luxo no Brasil. E tudo começou a partir de um hobby, já que a Bel Braga, fundadora da marca, sempre foi consumidora de second hand e acabou criando um acervo pessoal que logo virou negócio:
Eu tinha essas peças, e eu sabia que eram itens caros e eu via que eles ficavam parados a maior parte do tempo. Já tinha uma visão de que se a gente tivesse uma forma de compartilhar essas coisas boas com mais gente, seria fantástico. Eu comecei a olhar [o acervo], e ver que não fazia sentido ter essas coisas paradas. Fazia mais sentido tê-las circulando e talvez ganhando dinheiro com isso, conta a empreendedora.
Hoje o Closet BoBags possui mais de 10 mil peças (entre bolsas, roupas e demais acessórios) disponíveis para aluguel ou compra no site on-line. Mas, nem sempre foi assim. Bel explica que no começo, em 2009, todo o negócio se resumia em um blog:
Era um blog com peças para eu testar e entender como isso seria recebido pelas pessoas. De lá para cá mudou muito, no começo era algo meio chocante. Não só comprar, mas alugar também era algo muito distante da realidade das pessoas. E só em 2016, colocamos o site no ar e aí virou um negócio digital com uma plataforma que possibilita todas essas transações em rede, afirma Bel.
A economia circular da BoBags
Para Bel Braga, a economia circular é uma vantagem no aluguel de luxo, já que é uma medida sustentável:
Precisamos criar uma nova geração de consumo mais responsável. O caminho do consumo, e principalmente, o consumo por impulso não é a única saída para acessar uma peça. Temos um grande inimigo aí: o single use, que é esse pensamento da roupa descartável. Como podemos criar novos ciclos? Novas visões de ciclos via compartilhamento, via economia circular para que a gente não tenha mais esse pensamento de: produzir, consumir e jogar fora?, questiona.
Yves Saint Laurent, Gucci, Prada, Balenciaga, Chanel, Hermès… afinal, quem compra essas marcas? Peças que variam de US$3.500,00 a milhões de dólares, verdadeiros símbolos de status. Qualquer mulher quer ser a poderosa da capa de revista usando uma Louis Vuitton, por exemplo, mas são poucas as que conseguem, já que exclusividade é o foco dessas grifes.
Na contramão dessa realidade, o mercado de moda circular acaba criando oportunidades que antes eram impossíveis.
O mundo do aluguel de luxo vem com uma possibilidade mais leve de acessar coisas. Ao invés de comprar uma peça, eu posso acessar 20 peças pelo mesmo valor, por exemplo, afirma Bel Braga.
Um universo de possibilidades no aluguel de luxo
Criado em 2016, o clube de assinatura All Mine teve início em Salvador, na Bahia, e depois de 8 anos de sucesso, em 2023, foi a vez de São Paulo receber uma unidade do empreendimento.
Paula Frank, que é apaixonada por moda e é idealizadora do clube, conta que constantemente emprestava itens do seu acervo pessoal para pessoas a sua volta que tinham necessidades específicas, e que, com isso, teve a ideia de criar o clube.
Eu já levanto, há alguns anos, essa bandeira da moda circular que, na verdade, é um braço do aluguel. Muitas clientes me pediam bolsas específicas para ocasiões especiais, uma viagem de navio, de neve ou um casamento. E queriam uma bolsa para aquele momento em particular. Não eram bolsas que seriam muito úteis para a vida delas. E então, eu vi um nicho de mercado que poderia ser explorado, explica.
A All Mine Club possui mais de mil bolsas de luxo disponíveis para utilização por assinatura, e a loja oferece produtos novos e seminovos das marcas mais famosas e cobiçadas do mundo da moda como Gucci, Hermès e Prada, por exemplo. E as vantagens são muitas.
Outras vantagens do aluguel de luxo
Para Paula, a principal vantagem do uso compartilhado, ou do aluguel, é a de evitar o risco de se arrepender ao comprar um item que pode ficar parado no closet.
O clube é baseado no uso compartilhado com a ideia de que a pessoa possa usar a bolsa sem ter a necessidade de comprar, por exemplo. Ela vai ter uma experiência pessoal completa com a bolsa, sem o investimento e sem o risco de se arrepender [da compra], diz a CEO da All Mine.
Outra vantagem apontada por ela é a de explorar novos modelos. “Imagine só: você está num mood super over e quer uma bolsa colorida, mais cool. Na semana seguinte você quer algo mais praia. Então, essa coisa de poder escolher e variar sem acumular bolsas no seu closet, é uma vantagem. Pode ser que você tenha muito dinheiro e ame colecionar, mas porque colecionar coisas que você não vai usar?”, questiona.
Uma jornada de experimentação
Assim como Paula Frank, Baarbara Martinez também enxerga no uso compartilhado de bolsas de luxo uma oportunidade de experimentação e autoconhecimento. A Yves Saint Laurent num tom caramelo foi a primeira bolsa escolhida por ela. Diferentemente do habitual, no entanto, a escolha foi a forma ideal para testar novas opções:
No aluguel você se arrisca mais. Eu sempre estou de preto e branco e é muito difícil eu usar uma bolsa de uma cor, por exemplo. Mas, a minha primeira escolha não foi preta, era meio caramelo. E foi muito doido como isso também influenciou as minhas escolhas de roupa durante os dias em que a bolsa estava comigo. Na semana que eu a usei eu percebi que eu estava indo para um tom mais terra, um tom mais marrom que, ainda assim, no meu universo de preto e branco é algo muito diferente, explica.
Além de sair da rotina e inovar nos looks, Baárbara conta que a experimentação da assinatura deu à ela a segurança de uma futura possível compra. “Quando eu usei a bolsa eu pensei: ‘Agora tenho certeza que eu quero uma YSL e essa provavelmente vai ser a minha primeira compra’”, diz a jornalista.
Por fim, enquanto minha Chanel não chega – se é que ela vai chegar -, fico aqui sonhando com o hit ‘Ropa Cara’ de Camilo:
Primera vez en la tienda de Louis Vuitton (Louis Vuitton)
Buscando un blazer y un cinturón (cinturón)
Toda la noche cuidando pa' no romperlo
Pa'l otro día devolverlo
Escrito por: Carolina Duque / Revisado por: Clara Molter Bertolot