Alessandro Michele à frente da Gucci

Em 2015, dávamos boas vindas ao novo diretor criativo da Gucci, Alessandro Michele

Michele já era da casa, ele trabalhava como assistente de Frida Giannini e após dez anos neste posto, Alessandro assumiu a posição da direção criativa, depois de sua antecessora abrir mão do cargo.

A versatilidade de Alessandro Michele

Suas estampas, que poderiam representar facilmente os anos 1950 e 1980, desafiavam os espectadores quanto à sua versatilidade.

Porém, esses olhares de estranheza são o que torna Alessandro Michele autêntico, a sua perspicácia em criar sem rotular gêneros, padrões e até o “tempo”, faz com que suas criações sejam atemporais e para qualquer idade.

O anúncio aconteceu em janeiro de 2015 , e logo após, em fevereiro, a coleção de estreia ready-to-wear feminina, de Alessandro, nos dizia o que ele viria a fazer na marca.

Explorando a estampa floral, as pregas e a transparência, ele trouxe para a passarela uma mulher Gucci ingênua que não perdeu seu lado excêntrico e cheio de si.

O que se diferenciava das criações de Frida, fazendo com o que a moda ficasse curiosa e ansiosa esperando o que mais ele traria em suas próximas coleções.

Alessandro sempre brincou com cores, estampas, modelagem e acessórios. Nas coleções masculinas ainda trazia um detalhes de androginia, não seguir regras é o padrão do design.

Eu tento seguir minhas próprias regras, não as diretrizes da moda, disse Alessandro à GQ Magazine.

Isso, com certeza, torna suas criações ainda mais interessantes.

Choques nas passarelas

Partindo desta narrativa, da androginia, Alessandro Michele sempre trouxe questionamentos nas passarelas. A “brincadeira” de gêneros abriu espaço para serem retratados com frequência, dentro e fora dos desfiles.

Harry Styles e Alessandro são amigos desde 2017. Quando Harry começou sua carreira solo, uma união duradoura nasceu, o cantor que tem um estilo único, marcante e nada básico se tornou embaixador da Gucci.

Não teria uma parceria que caísse tão bem quanto a deles, afinal, as roupas de Harry são o que o diretor criativo nos expunha nas passarelas, e ficavam por semanas em nossos pensamentos.

Em 2020, quando foi o primeiro homem a estrelar a capa da Vogue e apareceu de vestido, diga-se de passagem assinado pela Gucci, Harry dividiu opiniões, já que foi um momento marcante para a revista americana, seus assinantes e admiradores.

“Quando você tira ‘há roupas para homens e há roupas para mulheres’, depois de remover quaisquer barreiras, obviamente você abre a arena na qual pode jogar”, contou Harry à Vogue.

A parceria de Alessandro Michele com Harry Styles

Em novembro de 2022, Alessandro e Harry lançaram uma coleção de roupas intitulada “Gucci HA HA HA”.

O objetivo da campanha era registrar momentos do desejo humano pela transformação masculina, e o local de desembarque de uma jornada criativa de duas pessoas, nascida de um laço de amizade profundo.

A coleção contou com jaquetas de alfaiataria, ternos formais, casacos e a saia kilt. As estampas remetem ao estilo boêmio dos anos 1970. E claro, a coleção contou com acessórios, sendo eles malas, bolsas, óculos, chapéus e boinas.

Última coleção de Alessandro Michele à frente da Gucci

Apresentada na semana de moda em Milão, Alessandro Michele apresentou a última coleção à frente da marca, na coleção primavera-verão 2023. Um espetáculo composto por 68 gêmeos.

Usando as mesmas roupas, os irmãos desfilaram em duas salas separadas, até o momento final quando a tela que os dividia foi levantada e os modelos deram as mãos.

Só para ilustrar, Alessandro dedicou o desfile intitulado por ele “Mães Gêmeas”, a sua mãe e tia Eralda, que são gêmeas.

Uso a passarela como palco teatral, e a moda fala fortemente com as ideias de alteridade. Eu sei que tenho um outro lado de mim, eu o conheço quando vou ao meu terapeuta. Todos nós, e às vezes encontramos essa pessoa e damos as mãos”, falou Michele em entrevista à Vogue.

Alessandro Michele tinha como missão, quando assumiu o cargo da direção criativa da Gucci, de atualizar e levar a marca de volta ao mapa de desejos de consumo.

Isso ele o fez: a marca alcançou um ótimo volume de vendas e quebrou padrões com suas criações. Porém, Alessandro vinha sendo pressionado para seguir um outro caminho criativo, o que pareceu não dar certo.

Relação de Alessandro Michele com a Fendi

A relação de Alessandro Michele com a Fendi não é inexistente. O designer já trabalhou na grife italiana, antes de fazer parte do time da Gucci.

A Fendi tem como diretor criativo, Kim Jones, que está à frente da linha feminina desde 2020. Jones trabalha bem, não podemos negar.

A mulher Fendi que Kim nos apresenta é elegante, neutra e não abusa de acessórios. O que deve agradar ao público discreto da marca e a diretoria do grupo LVHM, da qual a marca faz parte.

Porém, Kim se mantém em uma posição segura e sem muitas surpresas para nós. As peças tem boas modelagens e caimento, mas, na moda precisamos correr riscos.

Embora, possa não ser uma alternativa viável neste momento, já que as vendas vão bem, a despedida de Kim na direção feminina da marca, não podemos deixar de imaginar uma Fendi diferente da clássica que vemos hoje.

O que esperar do futuro da Fendi?

Mas, não podemos deixar de imaginar uma Fendi mais ousada, mais conectada com seu público jovem, com estampas, texturas e acessórios mais visíveis, essa “brincadeira” que amamos ver nas passarelas.

E quem poderia trazer essa identidade a marca? Claro, Alessandro Michele com suas criações que nos tiram o fôlego!

O DNA que Michele poderia levar a Fendi, nos impactaria se ele seguisse uma linha parecida com a que víamos na Gucci.

Por fim, ainda não sabemos qual caminho Alessandro irá seguir, mas não temos dúvidas que onde quer que ele vá, seu trabalho irá nos impactar.

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Escrito por: Raquel Gomes | Editado por: Clara Molter Bertolot