Afroempreendedorismo
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Afroempreendedorismo marcado por inovação

Atravessando desigualdades raciais, sociais e econômicas a população negra encontra alternativas no mercado de trabalho de existir e resistir através do empreendedorismo.

O Afroempreendedorismo é marcado por criatividade e inovação, e muda a história e transforma a vida de gerações de brasileiros. Além disso, fortalece o PIB nacional, trazendo o protagonismo negro no mercado de trabalho. Para saber mais, acompanhe o primeiro capítulo da série de reportagem: “Afroempreendedorimos e moda nacional“.

Segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020, realizada no Brasil pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ, a população negra adulta é a que mais sonha em ser dona do próprio negócio. Desse modo, dados recentes da pesquisa revelam que os negros representam 51% dos empreendedores brasileiros. Mas, ainda são os que mais enfrentam dificuldades para gerir seus negócios.

Vânia Rego, analista do Sebrae e Mestra em Educação pela UnB, na área de confluência Gestão e Políticas Públicas afirma que “empreender é um ato de libertos!” em artigo para o veículo. Essa reflexão aponta porque, no Brasil, o maior motivo para o empreendedorismo é a necessidade. Realidade essa que foi acentuada no período da pandemia. 

O estudo realizado pelo Sebrae, utilizando dados da PNADC de 2021, demonstra que há diferenças significativas entre empreendedores negros e brancos:

  • Os negros foram os mais prejudicados/afastados de sua atividade, com a crise da pandemia da Covid-19;
  • Eles também tiveram recuperação mais modesta, após a crise da Covid-19;
  • Os empreendedores negros são os mais jovens do mercado.

O crescimento do afroempreendedorismo

Apesar desse cenário, a comunidade negra marcada por resistência e inovação possui um crescimento expressivo no empreendedorismo com 24% de participação no PIB nacional. Visto que empreender foi uma forma da comunidade negra abrir espaço no mercado de trabalho e sobreviver. 

O crescimento ocorre porque os afroempreendedores vem disponibilizando produtos e serviços pouco ofertados normalmente no mercado brasileiro. Talvez provavelmente, conhecem melhor e se interessam mais as necessidades da população negra, atendendo especificidades de consumo e da experiência de ser uma pessoa negra.

Ponto que se destaca em um mercado centrado nas necessidades de pessoas brancas, a oferta de produtos e serviços que atendam às características culturais mais plurais e diversificadas que sempre foram menores aqui no Brasil, consegue ganhar mais espaço no mercado.

No entanto, esse movimento vem sendo construído desde o Brasil Império, quando as mulheres negras se lançaram às ruas saindo da senzala para sustentar suas famílias e tentar comprar sua alforria através da troca e venda. Nesse sentido, as conhecidas negras de ganho perceberam que ao utilizar sua indumentária tradicional de terreiros para vender seus quitutes nas ruas, lucravam mais que as outras.

Então, o ofício das que hoje conhecemos como baianas do acarajé surgiram dessa iniciativa, usavam sua vestimenta para homenagear seus orixás, entidades, se proteger espiritualmente e promover suas vendas. A inovação delas foi tão grande e necessária que vemos até hoje gerações de famílias que dão continuidade ao trabalho ou são sustentadas pelo ofício das baianas. 

Afroempreendedorismo muda a história e  transforma a vida de gerações de brasileiros.

Foto de Barbara Paula – Pelourinho, SSA 2023

No afroempreendedorismo a moda passa além do conceito de consumo, ela torna-se acessibilidade, oportunidade e identidade.

Empreendedorismo por necessidade

Dona Suzana, baiana proprietária e fundadora do conhecido Ré Restaurante na comunidade da Gamboa, vem transformando sua história através da culinária e cultura afro-brasileira, com a fama internacional de fazer a melhor moqueca do Brasil. Receptiva e muito grata, Dona Suzana atende á todos, utilizando seus trajes típicos e expressa o que é ser baiana:

“Não tenho nem palavras para explicar. Baiana é uma coisa tão boa. Eu sou baiana da gema, nós lutamos pra sobreviver, baiana é amor, que luta pra viver, é uma pessoa que tem coragem pra trabalhar.”

Ela e seu marido sustentam toda a sua família, com o restaurante que mesmo com a fama, por participar do cenário em clipe da cantora Anitta e sendo retratada na plataforma de streaming Netflix na série ‘Street Food’, continua com preço acessível a comunidade, turistas e com uma qualidade inquestionável.

Afroempreendedorismo em Salvador, Bahia.

Foto de Barbara Paula – Comunidade da Gamboa, SSA 2023

Assim como no passado, ainda hoje as mulheres têm grande participação no mercado nacional, rompendo diversas barreiras e ainda sem o reconhecimento e garantia de direitos. Outro exemplo foi a Copa de 2014 em que o Brasil sediou os jogos, apesar de muitas críticas sofridas sobre a estrutura e as condições, foram personalidades como baianas contratadas para servir e vender nos estádios da Bahia. 

Afroempreendedorismo: Fortalecendo a economia e rompendo barreiras

O acesso à educação digital, a educação financeira, a educação como um todo e a inserção no mercado de trabalho são áreas que estão relacionadas para se compreender o espaço da população negra no mercado de trabalho brasileiro.

O antropólogo Lucas de Oliveira Santos aponta que vem aumentando o número de negros ingressos no curso superior, graças a programas como as cotas raciais, mas dentro desse cenária favorável ainda há um desafio para essa população na permanência do curso e para a conclusão da formação acadêmica. Por isso no mercado de trabalho brasileiro os negros atuam em maior número no mercado informal.

Na última revista da Agenda Notícia do IBGE de 2019, mostra que 13% da população preta brasileira estava em desocupação, enquanto a população branca correspondia a 9% da taxa de desocupação.

Conheça algumas iniciativas do afroempreendedorismo e sua luta por representatividade:

  • A 1ª edição da African Fashion Week (AFW Brasil) – Que trouxe a importância internacional da moda e gastronomia africana para o empreendedorismo, com exposição de produtos e serviços nas áreas de vestuário, decoração, beleza, turismo e gastronomia.
  • Alma preta de jornalismo – Agência de jornalismo na qual se busca valorizar a cultura negra, levantar discussões sobre o racismo.
  • Freira preta – O maior evento de empreendedorismo e cultura negra da américa latina, reúne diversas iniciativas de pesquisa, mapeamento e aceleração do empreendedorismo e consumo. 
  • Livraria Africanidades – Especializada em literatura afro-brasileira e feminina, em busca de representatividade.
  • Movimento Black Money – Black Money é um hub de inovação para a isenção e autonomia da comunidade negra no mundo digital, conectando empreendedores a empresários e consumidores por meio de um marketplace. 

Uma geminiana apaixonada por poesia, que encontrou voz e caminhos na comunicação. De muitas escolhas, torna-se agora jornalista, poeta e humanista. Acesse meu portfólio: https://barbarapaula97.wixsite.com/website/in%C3%ADcio

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