Comportamento,  Moda

A Moda é somente sobre o “look do dia”?

A cada semana que passa, os conteúdos de Moda conhecidos como “Fashion Content“, se tornam ainda mais consumidos pelos atuantes, profissionais e admiradores da área. Esses que, também estão migrando para a produção de postagens nesse nicho.

De acordo com Neil Patel (um dos maiores nomes do Marketing Digital), são mais de 60 milhões de fotos postadas diariamente no Instagram. Especificamente, a Moda está inserida diretamente nessa criação dos conteúdos feitos pelos usuários. 

Descrição: @fitsbycherry (Reprodução/Instagram) / Perfil no Instagram que se define como um “estilista de moda virtual”.

No entanto, esse crescimento midiático pode superficializar o consumo do que seria a Moda – conjunto de opiniões, gostos, modos de agir e viver. Na contramão da etimologia, nem sempre a expansão desse comportamento traz consigo o valor da unicidade.

Para Nathalie Páiva, especialista em comunicação e produção de moda, muitas pessoas ainda não perceberam que as tendências devem estar relacionadas ao estilo pessoal. A jornalista acredita que observar o consumo dos costumes expostos por outras pessoas, baseando-se no reflexo da própria personalidade, é um passo para quem quer se vestir e comunicar Moda. 

“Procurar por meios que representem elementos próximos de quem somos, é um diferencial na construção da identidade de estilo”, diz Nathalie

O poder da influência no ideal de consumo 

Se antes as modelos responsáveis pelas exposições dos lançamentos eram vistas apenas como “cabides”, hoje, a realidade não depende unicamente delas. Inegavelmente, a crescente criação de conteúdos de Moda gera uma repetição do que se vê e inicia-se um marketing de influência, a modo que o usuário também passa a se vestir igual, ou semelhante, ao influenciador que expõe a tendência específica. Por exemplo: a “calça de shopping”, uma espécie de jeans com pernas largas (mais conhecida como wide leg). 

Descrição: fashionista usando a calça jeans wide leg em um “Reels” para o Instagram 

Após chegar às passarelas, bombar nas mídias digitais e retornar às vitrines, a influência foi além, pois os detalhes mais comentados a partir do uso coletivo foi sobre a modelagem da calça mostrada anteriormente favorecer o sentir-se confortável.

Ao contrário da calça skinny (modelo mais comum de calça jeans), que costuma apertar as pernas e não proporciona o conforto que muitas pessoas procuram – exclusivamente, pós-pandemia. Do mesmo modo, quando surgem levantamentos como esse, a pessoa passa de influenciável (que vê e compra) para cliente (que pensa em comprar com base na identidade ou escolha). 

Ainda assim, segundo Nathalie Páiva, quando se trata da nova geração (ou geração Z) a influência é direta. Ela afirma que os jovens não querem estar fora do que está sendo mais usado, se os mesmos vêem, sentem a necessidade de vestir. 

A linha tênue entre o “look do dia” e a construção de identidade 

Quando se fala sobre vestimenta é válido relacionar com a forma de expressão pessoal, e isso se dá, porque a construção da identidade de estilo surge a partir da singularidade, culturalidade e lifestyle (estilo de vida) que cada pessoa possui, sendo proveniente da observação do que somatiza com a personalidade. 

Portanto, citar sobre o look do dia também é exercitar a visão crítica de que existem vários tipos de corpos, vivências e experiências. Essas que partem de perguntas, como: “Essa tendência tem a ver com a minha imagem?”; “Me sentirei confortável?”; “A influenciadora X pensa numa Moda que vai além do uso de grifes?”… e outros questionamentos que podem fazer do consumo um caminho mais fluído. 

Como explica Sara Brunelli, comunicóloga do Moda Crônica, em seu perfil no Instagram, “Nesse processo a gente se esbarra (…), pega um aesthetic emprestado, acerta aqui e erra ali, mas segue com um objetivo só: se expressar.”

Imagem: @modacronica (Reprodução/Instagram) 

Moda como representatividade

Um dos desfiles mais comentados na última semana do SPFW foi da Marca Meninos Rei, com coleção titulada de “Pop Ancestral” os responsáveis frisaram a ancestralidade, ocupação e inclusão como os três pilares principais para a materialização de um vestir mais acessível. Em entrevista para a Forbes, foi exposta a missão de “popularizar a vestimenta”

Diante do grande desejo da Marca, houve uma satisfação em poder tornar o olhar atento unido ao vestir-se, transmitiu a mensagem da valorização ao fazer consciente e reafirmou a relevância de uma Moda democrática às centenas de pessoas que estavam ali presentes, ou às que acompanham e seguem o caminho da autenticidade. 

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