A história da alta costura: o começo de uma potência
Você sabia que Hitler possui conexão com o surgimento da alta costura? Conheça a origem da alta costura.
Origem histórica
A alta costura é uma indústria que resistiu ao tempo. É muita história que caminha ao lado dessa semana turbulenta. Do seu início, em 1858, até os tempos modernos, se tornou um segmento altamente conhecido e respeitado por suas técnicas de design, costura e artesanato. Mas, antes de tudo, para se entender a alta costura, é preciso entender quem foi o importante nome por trás da genialidade de sua criação.
No ano de 1825, nasceu o homem que mudou o mundo da moda, principalmente em Paris: Charles Frederick Worth, conhecido como “pai” da alta costura. Aos 20 anos, ele foi para Paris e começou a trabalhar em uma empresa têxtil, o que lhe permitiu refinar seus conhecimentos. Além disso, teve a oportunidade de abrir um departamento de costura, como forma de ampliar os negócios da empresa.
Quando tudo começou
Charles abriu sua própria loja em 1858 – a primeira casa de luxo e alta costura -, Maison de Worth, localizada na 7 Rue de La Paix. Seu papel era o de confeccionar peças únicas para a alta sociedade, e uma de suas clientes foi a esposa de Napoleão III, Eugenia de Montijo. Ele destacava por ser visionário à época. Anteriormente, as roupas eram feitas de acordo com a necessidade de cada cliente; com a chegada do costureiro inglês essa dinâmica foi alterada, visto que ele criava as coleções para depois apresentá-las. Ademais, ele colocava etiquetas em suas peças, algo nunca antes visto.
Além disso, em 1860, Worth utilizou, ao invés de manequins, modelos para exibir suas coleções no Hipódromo de Longchamp em Paris, sendo denominado desfile de moda. Fotógrafos e imprensa não podiam entrar na sala, somente os compradores, isto é, não era algo popularizado. Apenas após a Segunda Guerra Mundial é que os desfiles se tornaram mais “acessíveis” e populares, a fim de atrair clientela.
Logo após dez anos da criação da casa, ele decidiu se sindicalizar, e um dos grandes motivos era já possuir um considerável número de funcionários. Em 1868, nasce então a Câmara Sindical da Costura, Fabricantes de Roupas e Alfaiates para Mulheres. Logo após sua morte, em 1895, seus filhos – Gaston-Lucien e Jean-Phillipe Worth – foram os responsáveis por continuar o legado do pai. Contrataram o assistente Paul Poiret, que ficou de 1879 a 1903. Ele que em 1910, criou, à parte, a Câmara Sindical da Costura Parisiense, período no qual já havia construído sua própria marca.
As regras da alta costura
As marcas devem seguir diversos critérios para que possam realizar alta costura:
- Os membros devem criar roupas sob medidas, feitas à mão e únicas, que devem passar por pelo menos por três provas;
- O ateliê deve empregar quinze funcionários em tempo integral;
- A casa deve ser projetada com um estilo arquitetônico reconhecido e possuir no mínimo 5 andares, com um salão para o atendimento dos clientes que não frequentam os desfiles – como a realeza – e um andar exclusivo para desfiles;
- Ter vinte trabalhadores técnicos em tempo integral em uma de suas oficinas;
- Apresentar pelo menos duas coleções de alta costura por ano, com no mínimo 35 looks.
Essas regras são obrigatórias para os membros permanentes, que todo ano fazem desfiles, mas também existem outras duas categorias de membros: representantes e convidados. Uma curiosidade é que toda Maison deve ter ao menos um perfume para venda. Isso se deve ao simples fato de que os itens que sustentam essas casas não são a alta costura, mas sim itens de menor valor, como perfumes, bolsas, maquiagens e o prêt-à-porter. Boa parte dos clientes da alta costura é formada por colecionadores; e possuir esses itens é um sinal de status, dentro de um grupo que possui alto poder aquisitivo.
Primeira regra
Agora, vamos falar sobre a primeira regra da alta costura e o porquê de sua criação. Tudo aconteceu no período da Segunda Guerra Mundial, durante a ocupação dos nazistas na França. Hitler viu o potencial de Paris nos quesitos cultural e econômico e, por isso, quis levar a sede da Câmara para Berlim. Lucien Lelonn, presidente da Câmara Sindical da Alta Costura de 1937 a 1947, teve a ideia de impedir esse ato de forma indireta, sabendo que fisicamente era impossível em razão da força do exército nazista.
A norma criada em 1940, consistia no fato de que a alta costura só poderia ser produzida em Paris, mais especificamente no Triângulo de Ouro, delimitado entre três avenidas: Champs-Élysées, Montaigne e Georges V. Era a única regra existente à época, justamente para estabilizar a cultura e o patrimônio da França, mas, com o passar do tempo as outras surgiram. O objetivo era tornar o trabalho da alta costura único, valorizado e centralizado, por ser caro, original e de qualidade. Além disso, visava estabelecer a França como o principal polo de moda.
A alta costura nos dias atuais
Atualmente, a alta costura abrange diversas casas permanentes, como Schiaparelli, Jean Paul Gaultier, Chanel, Dior e Iris Van Harper. Em uma época de imagem, internet, visibilidade, na qual tudo é gravado e documentado, a alta costura se tornou um grande polo de marketing e posicionamento da marca, a fim de criar sonhos e estimular desejos.
Apesar de ser estratificada em valores, rituais e códigos, ultimamente os designers estão se preocupando mais com a modernização. “Mercados, tendências e clientes estão em constante evolução, junto com seus hábitos de consumo”, diz Tamara Ralph, designer da marca de alta costura Ralph & Russo. “Ao longo dos anos, vimos os mercados emergentes se interessando pela alta costura e as gerações mais jovens também. Houve um ressurgimento real na apreciação do verdadeiro artesanato, abrangendo todas as origens e idades”, ela adiciona.
Alta costura é a forma como os designers se expressam; é por meio da arte do fazer artesão que se têm algo mágico e encantador. Muitas vezes, essa forma de se expressar traz a reflexão ao olhar de quem vê, principalmente no momento conturbado que Paris está sofrendo, com protestos e revoltas perante o governo.
Escrito por: Maria Eduarda Regis Cândido | Editado por: Carolyne Ferreira
2 Comentários
amanda
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