Arte,  Cultura,  Sociedade

A chuva torrencial de cultura e arte na África do Sul

Se você ama viajar e conhecer novas culturas, a África do Sul é o destino ideal para você mergulhar numa imensidão de festivais e arte.

Peço desculpas de ante-mão, afinal, esse texto não possui 30% de todas as informações que eu gostaria de colocar aqui. Três semanas de experiências incríveis na África do Sul não poderiam caber em apenas uma publicação.

Lembro-me exatamente o momento que decidi que o país seria palco da minha primeira viagem internacional. Vez ou outra, algumas pessoas torceram o nariz ou fizeram careta. Mesmo assim, eu mantive minha decisão, e descobri que a arte na África do Sul estava viva e prosperando.

Minha ida para o país envolve uma série de decisões, burocracias e inseguranças, mas isso tudo é história para outro dia. Quando pisei meus pés para fora do Aeroporto Internacional de Cape Town pude sentir o primeiro baque. O dia estava quentíssimo no meio do verão, e isso acontece exatamente pelo clima do país ser temperado, o que quer dizer que no verão as temperaturas sobem bastante, e caem na mesma intensidade durante o inverno. O vento por lá é surreal. É muito forte, do tipo que carrega guarda-sóis pela areia das praias, ou que bate sua janela aberta incontáveis vezes para te assustar.

Camps Bay Beach, Cape Town, África do Sul.
Camps Bay Beach, Cape Town, África do Sul – Foto: Letícia Virgínia/Arquivo Pessoal

A paísagem é belíssima, e eu passei por algumas zonas bem secas e esparsas, repletas de gramíneas, onde montanhas cercam a sua vista o tempo todo. Um amontoado de árvores e arbustos em pequenos grupos caracteriza a vegetação do lugar, e ainda costura uma ponta a outra do céu mais azul que eu já vi.

A história da África do Sul, o Dia da Liberdade e o Dia da Não Liberdade

É impossível falar da cultura de um país sem puxar um recorte, mesmo que breve, sobre sua história, principalmente quando esse país é a África do Sul, que tem sua cultura fortemente marcada pelo apartheid, um regime de segregação racial que separava os brancos dos negros, instaurado em 1948 e que só teve fim em 1994, com a eleição de Nelson Mandela para presidente do país.

Iniciava-se então, o começo do fim do regime totalitário de extrema direita baseado no racismo. De acordo com o governo do país, o Dia da Liberdade marca o fim de mais de 300 anos de colonialismo e governo da minoria branca, estabelecendo a democracia liderada por Mandela, com um novo Estado e uma nova Constituição. 

Em contrapartida, a África do Sul tem um movimento também popular, chamado Dia da Não Liberdade, uma Marcha de protestos contra a desigualdade social que é gigantesca no país. O movimento, organizado por moradores de favelas cobra promessas não cumpridas após o fim do apartheid.

Os festivais e vilarejos culturais e as comidinhas

Além de quadros pintados por artistas locais em tecidos, o país é repleto de festivais acontecendo dentro de bares e mercados. O NightMarket, está no espaço Oranjezicht City Farm, que abre quarta à noite como um festival de comidas. Lá tem música, gente de todo lugar do mundo, comidas gostosas, bebidas incríveis, e muitos cachorrinhos passeando com seus donos.

Os vilarejos culturais também se espalham pelo país, e eu tive a sorte de conhecer um. Durante uma mini road trip que passa por Muizenberg (a praia de tubarões e casinhas coloridas), Simon’s Town (que possui um restaurante local que serve um delicioso fish and chips) e a Boulders Beach (uma praia cheia de pinguins!), nós pudemos conhecer o The Farm Village, um vilarejo saído diretamente de um filme de época. Cercado de flores, docinhos e comidinhas locais, o vilarejo conta com lojas artesanais para você levar lembrancinhas do dia com você. 

Agora, falando em comida, a África do Sul possui um leque enorme de possibilidades. Por lá você encontra variedade – existe comida americana, mexicana, italiana, portuguesa e até brasileira! Mas fique atento, se você não gosta de pimenta, tome cuidado quando fizer o pedido. As comidas por lá são naturalmente mais apimentadas do que estamos acostumados. O meu lugar favorito para comer era uma pequena padaria chamada Dolce Bakery localizada na 38 Lower Rochester Rd, há poucos metros do Curiocity (um hostel moderno e repleto de cultura, com a tradicional noite da fogueira e contação de histórias), onde fiquei hospedada durante as três semanas de aventura pela África do Sul. 

Os museus, galerias de arte e as ruas da Cidade do Cabo 

Caminhar pela Cidade do Cabo, por si só, já é um ato, afinal, você descobre mercados, farmácias, lanchonetes, feirinhas de artesanato, e muito mais! A propósito, uma parada obrigatória para os brasileiros é a loja do Martins, um moçambicano que adora o Brasil. Sua loja fica no African Craft Wholesale Market, e ele é conhecido por ter os melhores preços da região, além de dar dicas incríveis sobre a cidade.

Outro espetáculo a parte são os museus, onde cada um conta um pedacinho da história do país, tornando estes passeios tristes e pesados, mas completamente necessários. O Museu do Apartheid, por exemplo, procura expor o racismo que o país enfrentou. A Robben Island é uma ilha, onde Nelson Mandela ficou preso durante 18 anos. O Iziko Slave Lodge Museum era um depósito onde os escravos foram amontoados e o District Six Museum mostra o lugar onde milhares de pessoas negras foram despejadas para embranquecimento do país. O Iziko Bo-Kaap Museum é dedicado aos fundadores mulçumanos do bairro Bo-Kaap, famoso por suas casinhas coloridas.

Passeando pelo bairro, descobrimos a First Thursday, que é uma festa de rua igual o nosso carnaval! Consiste na avenida principal fechada, mas os bares, restaurantes e galerias de arte funcionam até tarde, enquanto as pessoas festejam. Para uma experiência completa, eu visitei a galeria Youngblood-Africa, que expõe trabalhos de artistas locais desconhecidos para o grande público.

As praias, montanhas e reservas naturais na África do Sul 

Quando visitei cênica estrada Chapman’s Peak Drive, considerada uma das mais bonitas do mundo, fiquei impressionada, mas quase perdi o fôlego. A estrada serpenteia toda a costa da península e proporciona uma vista deslumbrante do mar, afim de arrancar-lhe suspiros.

Senti o mesmo ao subir a pequena trilha até o farol do Cabo da Boa Esperança e sentir os 238 metros acima do nível do mar. Aquele é o ponto mais ao sul de todo o continente africano e é impossível não se emocionar, porque é puro privilégio ver o encontro entre os oceanos Atlâtico e Indíco.

As praias são impecáveis com areia branca e piscinas naturais, mas a água é a mais gelada que eu já enfrentei na vida. Apesar disso, suas piscinas naturais na encosta são incríveis para mergulhar. Hout Bay, entretanto, tem um mar calmo, quase sem ondas, com a água quente em comparação às praias da região.

As montanhas possuem a vista mais bonita de Cape Town. Qualquer trilha que decida encarar vale a pena: seja mais leve como a Kloof Corner ou radicial como a Lions Head ou Table Mountain, o por do sol perfeito é garantido.

Além das vinículas que você pode visitar e a garden route que pode percorrer, os safaris são imperdíveis. Isso porque o país possui os famosos big five – o leão, o leopardo, rinoceronte, búfalo e o elefante. Estes são os cinco animais africanos mais dificeis de se encontrar, mas estar “cara a cara” com eles, não tem preço.

Obrigada por tanto, África do Sul. Sinto sua falta o tempo todo.

6 Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *