Se Gaspar Noé Tivesse Vittor Sinistra, Climax Seria Cheio de Liberdade

No desfile de Vittor Sinistra para a Casa de Criadores 56, ninguém saiu ileso e nem era pra sair mesmo. “Clímax” foi mais que um nome provocante de coleção. Foi um estado de espírito, um curto-circuito estético, um gozo coletivo no meio do caos cotidiano.
Nada ali era gratuito. Do primeiro ao último passo na passarela, cada look parecia sussurrar (ou gritar, dependendo do som da sua consciência) “Estamos vivos. E gostamos disso.”
Inspirada pelo universo das festas e das liberdades que a noite permite, a coleção beija a boca da política com batom borrado e brilho na cara. É homenagem, é celebração, é resistência com salto 20 e lace colorida. A comunidade LGBTQIAPN+ não foi referida. Foi convocada, exaltada, vestida para a guerra e para o amor.



E se a moda é linguagem, Vittor escreveu poesia de rave e manifesto de glitter. A presença de Katy da Voz e As Abusadas transformou o desfile em transe. Não era só sobre ver, era sobre sentir. Sobre se permitir tremer um pouco por dentro.
Nada careta, tudo carnal. Ombros marcados, peles à mostra, tecidos com textura de delírio. Modelagens que não pedem licença. Ocupam. Looks que não agradam avó conservadora. Excitam.
Vittor entende o corpo como território e como trilha sonora. Um corpo que dança, que reivindica, que goza politicamente. Porque o clímax, como ele nos lembra, não é o fim. É o estopim.
E ali, entre a luz estroboscópica e o suor compartilhado da passarela-manifesto, ficou claro. Viver intensamente ainda é o gesto mais radical da moda.
Escrito por: Gilson Tavares | Editado por: Ana Carolina Gomes