Tendências

Entre linhas e respiros: como hobbies manuais estão ajudando jovens a desacelerar

Crochê, miçangas, flores e receitas caseiras viram aliados de um novo estilo de vida mais calmo, bonito e presente: o soft living

Sabe aquele momento em que a gente simplesmente se desliga do mundo? Quando a gente fecha aquela aba do navegador mental, esquece o celular de lado e mergulha de cabeça em um gesto simples, quase automático, mas cheio de significado. Pois é exatamente isso que tem acontecido com uma porção de jovens (e alguns nem tão jovens assim), que tem redescobrindo nos hobbies manuais uma forma de dar um tempo na correria e voltar pro agora.

Costurar, cozinhar com calma, plantar temperinhos na varanda ou fazer pulseiras coloridas como nos tempos da escola, tudo isso entrou no radar do chamado soft living, um estilo de vida que vem ganhando força nas redes sociais e que tem se tornou mais sobre bem-estar do que com estética.

A ideia é muito simples, porém bastante poderosa, pois ao cultivar um jeito mais gentil consigo mesmo, de forma que esse novo (ou velho) estilo de vida, tem efeito com que muita gente tenha colocando a mão na massa, literalmente.

Entre fios, pontos e afetos

Foi no meio do isolamento da pandemia da Covid-19, que Carolina Oliveira, 22 anos, estudante de moda e crocheteira de mão cheia, descobriu o universo encantador das agulhas. “Eu tava no ensino médio quando aquele cardigan colorido do Harry Styles virou febre. Quis fazer um igual, comecei no tricô, mas foi no crochê que me encontrei”, conta ela, com emoção.

O primeiro projeto demorou, foi no olho, tutorial aqui e ali. Mas bastou o tempo passar pra paixão virar hábito e o hábito a estilo de vida. “Hoje eu não me vejo mais sem o crochê. Ele me ajuda muito com a ansiedade, me acalma, me organiza por dentro”, diz Carolina.

Mas engana-se quem pensa que o crochê dela é só para tapetes e paninhos. Nada disso. “Minha avó fazia toucas, eu faço tops e bolsas pra sair à noite”, brinca. E não é exagero: seus projetos ganham formas inusitadas, modernas e até autorais. “Gosto de me desafiar, sair do básico. Hoje, incorporo o crochê nas minhas criações de moda, virou minha marca registrada”, afirma com orgulho.

A estética da calma

No embalo do que se vê no TikTok e no Instagram, vídeos com luz natural, mãos delicadamente trançando fios ou plantando violetas em vasinhos de barro, o termo soft living caiu na boca do povo. Mas por trás da estética tranquila, tem algo bem mais profundo rolando.

“Acho que é uma forma da gente reencontrar o tempo das coisas. O mundo tá rápido demais, e esses hobbies manuais meio que obrigam a gente a desacelerar”, explica Carolina. E não é que ela tem razão? Num tempo em que tudo é imediato, cultivar um hobbie é quase um ato de resistência. Requer paciência, dedicação e, principalmente, presença. E talvez por isso mesmo seja tão necessário.

Da moda à memória viva

Carolina conta que o crochê, além de ser terapêutico, também é criativo. “Tem algo de meditativo quando a gente tá ali, no ritmo dos pontos. Mas, ao mesmo tempo, é um momento de invenção. Me inspiro muito nas cores, nas texturas… e é claro, trago isso pro que estudo e crio como estilista”, diz.

Ela também acredita que estamos, sim, resgatando hábitos antigos só que com um novo olhar. “Eu brinco que faço crochê pras it girls. É o mesmo saber das nossas avós, mas reinventado. Tem afeto, tem estilo, tem identidade.” E se engana quem acha que para por aí. “Eu também gosto muito de desenhar e pintar. Essas coisas sempre fizeram parte de mim. Mas hoje, o crochê é o meu lugar de sossego”, completa.

Pequenos rituais, grandes mudanças

No fim das contas, esse movimento todo é sobre encontrar beleza nos detalhes. Romantizar a rotina, sim, mas sem pressão. É sobre aquele café feito com calma, o cheirinho de bolo assando no forno, a alegria de ver uma planta crescendo no parapeito da janela.

E se você tá pensando em começar, aqui vão algumas ideias simples pra dar o primeiro passo rumo a uma vida mais leve:

Crochê ou tricô: comece com peças pequenas, como uma bolsinha ou um porta-copo. Tem muito vídeo bom na internet!

Bijus de miçanga: uma tarde montando pulseiras pode ser mais terapêutica do que você imagina.

Cozinha afetiva: resgate aquela receita de vó, teste um pão caseiro, invente um bolo só seu.

Jardinagem: uma muda de manjericão ou suculenta já muda o astral do ambiente.

Desenho livre ou aquarela: não precisa ser artista, o que vale é se expressar.

No fim, o importante não é o resultado, mas o processo. E, convenhamos, trazer mais cor, calma e cuidado pros nossos dias não faz mal a ninguém. Afinal, como bem mostra a geração que redescobriu o crochê, às vezes, o que a gente precisa mesmo é de um fio, uma agulha e um pouco de tempo pra si.

Escrito por: Ana Luiza Barreto | Editado por: Flavia Cavalcante

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *