Após escândalo e cancelamento, Balenciaga está de volta e de cara nova
Quando a Balenciaga lançou sua controversa campanha em Novembro do ano passado, se viu envolvida em uma crise e o futuro de Demna na moda foi questionado. Afinal, ele foi acusado, e com razão, de glamorizar abuso sexual infantil.
O baque foi intenso. A marca que estava sempre entre as top três mais influentes da moda, na plataforma de e-commerce e pesquisa de moda The Lyst Index, caiu para a 11ª posição no último trimestre de 2022. Certamente, não demorou muito para a marca reformular toda a sua estratégia e apresentar uma nova fase pós cancelamento. Balenciaga é agora sem excessos e focada no design das peças.
A linha do tempo
Roupas excepcionais definem o gênio Cristóbal Balenciaga, o criador da Maison francesa. Hoje, entretanto, sob a direção de Demna, a marca não é estranha à controvérsia, suas criações são famosas tanto por se tornarem sucessos comerciais, como pelas campanhas e desfiles polêmicos. Cada lançamento era maior, mais selvagem e mais ousado do que o anterior. Embora sempre tivesse feito roupas brilhantes, as peças em si quase se tornaram secundárias em relação ao espetáculo que ele apresentava em cada temporada.
Assim sendo, o escândalo que levou Balenciaga a ser cancelada por todo o mundo decorre de duas campanhas publicitárias separadas. A primeira, lançada em 16 de novembro para apresentar a Gift Shop, uma nova linha de presentes para o fim de ano. Em algumas das fotos, crianças aparecem segurando ursinhos de pelúcia com acessórios de BDSM, imersas em um cenário de sexualização infantil.
Então, em 21 de Novembro, a marca lançou sua campanha Garde-Robe. Na foto em que a bolsa Hourglass está colocada sobre um monte de papéis foi descoberto que os mesmos se tratavam de páginas da decisão da Suprema Corte de 2008 nos EUA, que determinou uma lei federal que proíbe o favorecimento de pornografia infantil. Em outra foto, há um livro disposto sobre a mesa, em que a atriz Isabelle Huppert apoia seus pés. É do artista Michael Borremans, o trabalho do pintor inclui pinturas de crianças nuas brincando. As críticas voltaram e #CancelBalenciaga registrou milhares de compartilhamentos.
Certamente, se os documentos foram propositadamente colocados na campanha ou não, há uma controvérsia. Como coisas como essas conseguem passar por muitos departamentos até chegar ao seu, enfim, lançamento?
O pedido de desculpas
Logo após retirar as campanhas do ar, a Balenciaga ficou um longo tempo em silêncio e só então deu as caras para pedir desculpas, recorrendo à sua conta de Instagram. Assim sendo, o feed da marca foi deletado, com exceção do pedido de desculpas.
No dia dois de dezembro, o diretor criativo da Balenciaga, Demna, publicou um comunicado em sua conta no Instagram se desculpando pelas imagens produzidas para a campanha Gift Shop e atesta comprometimento com medidas de conscientização e responsabilização pelos materiais com teor pedófilo. “Por mais que, às vezes, eu queira provocar algumas reflexões como meu trabalho, NUNCA tive a intenção de fazer isso com um assunto tão terrível como o abuso infantil, que condeno”, escreveu o estilista.
No dia seguinte foi a vez do CEO da maison, Cédric Charbit, se manifestar. Na conta da Balenciaga no Instagram, o executivo também pediu desculpas pelo ocorrido e listou uma série de ações que devem ser tomadas em breve para evitar falhas futuras, educar seus colaboradores e contribuir para o respeito e proteção dos direitos das crianças e, principalmente, pela luta contra o abuso infantil.
Num ato altruísta, Balenciaga divulgou a sua primeira ação concreta após apagar as campanhas e se desculpar. A marca fará uma parceria de três anos com a National Children’s Alliance (NCA), ONG internacional que presta apoio jurídico e psicológico para crianças vítimas de abuso. De acordo com o comunicado, será uma via de mão dupla. A organização ministrará pequenos cursos sobre proteção infantil para os funcionários da Balenciaga, já a marca se comprometeu a apoiar a NCA financeiramente e aumentar a conscientização pública sobre abuso infantil.
A nova Balenciaga
Embora a marca tenha se redimido perante a Internet era necessário reformular toda a estratégia e deixar de vez as polêmicas para trás. No entanto, a solução inicial foi cortar os excessos, limpar a imagem e voltar a fazer o que a Balenciaga e Demna sempre fizeram: roupas excepcionais. Só elas, sem distrações, sem choque, sem polêmica.
Balenciaga 360° Show Winter 22 Collection
Balenciaga Summer 23 Collection
Só para ilustrar, nas coleções seguintes não havia respingos de lama, nem bainhas esfarrapadas, modelos desfilando por trincheiras lamacentas e nevascas artificiais. Demna e Balenciaga pareciam dizer: nada para ver aqui! Apenas pessoas comuns fazendo coisas comuns em roupas comuns.
Em uma entrevista à Vogue, o estilista explicou que voltou a sentar em uma máquina de costura e realmente fazer roupas e conta que traiu seu verdadeiro valor, “Me senti um pouco frustrado porque senti que traí meu verdadeiro valor, que é fazer roupas, porque as pessoas não viam mais as roupas, só viam a cenografia e falavam sobre isso. Nesse sentido, a ideia realmente é ir para a estaca zero para mim, que é fazer roupas e colocar isso em foco.” Desde então, as últimas coleções foram sem surpresa, um período de reflexão e renovação.
A coleção mais recente da marca, lançada a três semanas, foi sobre construção e silhuetas. Uma verdadeira expressão de quiet luxury. Por outro lado, Demna voltou às suas raízes de criar roupas brilhantes e comuns para as ruas de Paris, apresentada por meio de um curta-metragem ambientado nas ruas da Avenue George V, onde fica a maison da marca.
Balenciaga Spring 24 Collection
Do mesmo modo, essa nova fase oferece uma chance de redefinir os valores da marca e se reconectar com o legado de Cristóbal Balenciaga.
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