Comportamento,  Moda

A ascensão e a queda do fenômeno “It girl”

It-girl é um termo que surgiu a partir de 1927, para designar mulheres de grande influência e personalidade autêntica, tem ditado estilos e tendências por décadas, mas será que da mesma forma até hoje?

As “it-girlsnão são jovens, exclusivamente; O mesmo acontece com um senso de estilo. Um trabalho não é um requisito. Acrescente um pouco de mistério: se ninguém consegue descobrir o que você faz, melhor.

A Wikipédia define a “It girl” como mulheres que alcançaram um alto nível de popularidade com a sua personalidade. Ainda diz que, sua característica mais determinante é a de ser incomum, de destacar-se das pessoas comuns e provocar interesse, a ponto de outras pessoas passarem a copiar seu jeito de vestir, falar e/ou agir.

Se comportando de maneira irreverente e despertando a curiosidade das pessoas sobre o seu modo de vida.

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Reprodução: @wolfgangwesener / Instagram

“As pessoas nunca sabem como me descrever – ou o que eu sou”, Sally Randall, uma “it-girl” dos anos 1980, disse ao The Cut em 1985.

O posto de it-girl não foi definido por ela mesma – mas por cronistas, redatores de revistas, colunistas de jornais, fotógrafos. Essa pessoa é alguém “por quem todos são atraídos – alguém sobre quem as pessoa querem fofocar”, diz Patrick McMullan, o fotógrafo da vida noturna que por quase 40 anos tem sido um elemento fixo da cena de Nova York.

Em contrapartida, do uso popular, o termo, requer não apenas um grau de fama, mas também a dose certa de desconhecimento e obscuridade. Uma celebridade inegável – ou uma influenciadora, não é uma “It-girl”.

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Reprodução: @divinefemmefatal / Instagram


A definição pode ser redutora, humilhante e sexista. Mas também pode ser que uma “It-girl” torne tudo menos sexista, fazendo uma categoria criada para mulheres por mulheres.


Pois, talvez a maior mudança no uso coloquial da frase desde suas origens na década de 1920, seja sua surpreendente segregação do olhar masculino.

Enquanto o termo já tenha sido definido como um tipo de magnetismo sexual, no uso atual é sobre um tipo de carisma inefável, conforme determinado por mulheres e a comunidade LGBTQ+.

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Reprodução: @silenceisplatinum / Instagram

Quando surgiu o termo It-girl?

O uso do termo é originalmente creditado a um filme de 1927, por Elinor Glyn, estrelando uma ruiva chamada Clara Bow. No filme, ela interpreta Betty Lou Spence, uma corajosa vendedora da loja de departamentos de Waltham que claramente tem tudo para ser chamada de “It-girl”: “Aquela qualidade orgânica que atrai todos as outras pessoas com sua força magnética”.

Visto que o seu magnetismo é tão grande que arranca o herdeiro da loja, Cyrus T. Waltham, de sua namorada — da alta sociedade e aprovada pela família do rapaz, para os braços da vendedora. Com seu charme atrevido, ela é, como qualquer outra persona memoravelmente comentada, uma “It-girl”.


O filme transformou Clara Bow em uma estrela, conhecida desde então como a “It-girl” (ela recebeu até 30.000 cartas por mês no final dos anos 1920, algumas endereçadas simplesmente como “The ‘It’ Girl, Hollywood, EUA”).

Mas enquanto Bow permaneceu no topo por alguns anos, ela teria um reinado curto, como os “reinados” de muitas garotas que teriam o título em seguida. Em 1931, casou-se e mudou-se para um rancho em Nevada. Sua última foto foi em 1933. Aparências, conexões, graciosidade — era tudo o que a mídia e os espectadores exigiam de uma “It-girl”.

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Reprodução: @ritidre2009 / Instagram


Em 1938, a Life colocou Brenda Frazier, uma debutante de Boston, em sua capa junto com a legenda: “Com seu cabelo comprido, sua vivacidade e sua figura esplêndida, ela é soberbamente fotogênica, e a publicidade é o sangue vital da nova sociedade.”


Seja como for, a fama pressionou Frazier. Ela lutou contra anorexia e bulimia, tentou suicídio e retornou às páginas da revista Life em 1963 para escrever “My Debut — a Horror”. À medida que ela envelheceu e “perdeu sua feminilidade”, o mundo seguiu em frente.

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Reprodução: @vintagephotostories / Instagram


Em seguida, o termo “It” girl (em maiúsculas ou não, com ou sem as aspas), apareceu algumas vezes durante as décadas seguintes; quando apareceu nas palavras cruzadas do New York Times no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, suas pistas se referiam especificamente a Bow.

Do mesmo modo, os registros não desvincularam o termo de Bow até o final dos anos 1970, quando foi apresentado para descrever Diana Ross. Nesta revista, o termo começou a aparecer regularmente no início dos anos 1990, na época em que uma biografia de Bow estava sendo amplamente revisada para publicação.

Porém, as “It girls” nunca foram embora. É claro que o “boom” da internet mudou imensamente todo o cenário, mas durante os anos 1970 a 1990, as “It-girls” eram definidas como musas de artistas designers de moda.

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Reprodução: @muglerette54 / Instagram

“Saint Laurent na época me batizou como a “It-girl”, dos anos 1970. Sinceramente, não entendi. Quero dizer, ainda é um mistério para mim. Acho que provavelmente é uma faísca, algo muito mais profundo do que o que está do lado de fora, algo que vem de dentro e que faz você vibrar em um nível diferente”, disse Marisa Berenson para o Newsweek.

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Reprodução: @90s_models_ / Instagram

A “It-girl” era denominada “It girl”, pelas revistas lidas pelas “It-girls”. O sistema se auto alimentava. Pode ser difícil dizer quem estava observando quem.

“Eu fui a todas as festas que elas foram, e porque eu estava nessas festas — mesmo que eu fosse com meu caderno e com Perrier na minha taça de champanhe porque eu estava trabalhando — eu parecia ser uma delas”, diz Plum Sykes.

Como é ser uma It-girl?

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Reprodução: @girly.mags / Instagram

Portanto, a partir dos anos 2000, o que uma “It-girl” precisava fazer era chamar a atenção de fotógrafos e os blogs iriam publicar a partir daí. Uma vez que o Instagram chegou alguns anos depois, você não precisaria nem dele; uma “It girl” poderia simplesmente fazer sua “crônica” sozinha.


Por certo, ser definida como uma “It-girl”, também teve seus riscos, incluindo o súbito interesse de fotógrafos e jornalistas de meia-idade, como aconteceu com Frazer até à sua morte.

Enquanto a juventude tornava essas meninas vulneráveis, envelhecer apresentava seus próprios problemas. “Não sei como colocar isso com delicadeza, mas há uma coisa interessante em ser uma ‘It-girl'”, diz Roger Padilha, que escreveu vários livros sobre a cena do mundo da arte de Nova York. Elas sabem disso.

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Reprodução: @jloganhorne / Instagram

“É como uma temporada, e você está ciente disso”, diz Bonnie Morrison, que trabalhou como publicitária, sobre quando ela era uma “It-girl”. “Você olha para as mulheres cinco anos mais velhas e pensa: não quero ser como elas.”

Ela também lembra que depois que um perfil dela apareceu em um blog chamado Mocha Socialite, ela recebeu cartas e emails de jovens negras perguntando como elas poderiam seguir seus passos.

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Reprodução: @fashionaughts / Instagram

“Na minha época, as garotas eram totalmente dependentes de outras pessoas percebendo-as, gostando delas, escrevendo sobre elas. Gawker e ‘Page Six’ escreveram muito sobre mim e, na maioria das vezes, entenderam errado. Eu não tinha um publicitário naquela época, e entendo que eu era um alvo fácil, mas definitivamente me machucou e me assustou”, disse Tinsley Mortimer.

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Reprodução: Acervo Pessoal / Instagram

Imani Randolph também aponta as vantagens que vinham como privilégios do termo: “Refeições grátis, bebidas, roupa. Mas você não precisa aceitar todos os presentes que surgem em seu caminho. Você pode ser refinada da maneira como consegue esses itens”, ela diz.


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“Uma “It girl” é o que você faz. Não é algo tão profundo e elaborado. É divertido. É bobo. Estamos todos apenas fazendo coisas bobas, vestindo roupas. Não há pressão. Mas também há muita pressão”, Ella Emhoff, enteada de Kamala Harris, que tem desfilado para grandes marcas constantemente, explica.

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Reprodução: Acervo Pessoal / Instagram

“Eu não acho que você deve simplesmente sair e dizer: ‘Oh, eu vou me tornar uma “It-girl” de Nova York – ou de qualquer lugar que seja’. Diane Bril, musa dos anos 80, diz hoje.

“Talvez façam isso agora com o Insta, mas uma ‘It’ girl é realmente algo orgânico. É apenas algo que acontece. Acontece de uma necessidade – algo que você está dando e algo que você está recebendo. Sempre adorei isso em Nova York, que você pode dar e receber o quanto quiser. Nova York realmente apenas diz: ‘Dê para mim. Eu vou pegar, dê.’

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Reprodução: @girlblogging4ever / Instagram

A revolução dad It-girls

William Norwich, que escreveu colunas de fofocas para o New York Daily e New York Post, diz que sempre considerou o termo depreciativo. Além da perseguição da mídia e o sexismo, a fama desse termo oferece outra reflexão em relação à assuntos atuais.

De fato, não esperaríamos que as garotas dos anos 1930 hipnotizassem a cidade de hoje. Isso significa que ser uma “It-girl” reflete as ideologias e tendências do momento. Com toda a certeza, é por isso que a maioria delas eram, e continuam sendo, magras, brancas e, heterossexuais.

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Reprodução: @irisgrenadine / Instagram


As “It-girls” têm sido uma presença constante na cidade de Nova York, mas quando colocadas no contexto do nosso tempo, muitas vezes representam um encapsulamento perfeito de nossas preocupações sociais e culturais”, disse o vice-editor Alexis Swerdloff. “Ao conversar com dezenas de mulheres sobre as festas e as pessoas que as trouxeram para os holofotes, somos capazes de entender as maneiras como essas mulheres foram feitas e também obter um instantâneo único no tempo de uma cidade em constante mudança.”

Nessa era social, espera-se que as “It-girls” interajam, compartilhem e opinem. Nem toda
influenciadora é uma “It-girl”, mas toda “It girl” tem a possibilidade tentadora de ser uma
influenciadora — e as empresas apareceram para intermediar a transformação.

Suas roupas – certas vezes, milimetricamente planejadas por stylish´s de moda – parecem tão atemporais, porque podem ser facilmente recriadas (ou não) na era da moda atual. Alexa Chung, Bianca Jagger e Anita Pallenberg são alguns dos exemplos citados pela Varsity UK que ainda elevaram o estilo pessoal acima do estilo massificado por tendências, que vemos em 2023.

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Reprodução: Acervo Pessoal / Instagram

Jen Brill, que é chinesa, aponta que ela era uma das poucas garotas asiáticas que eram “It-girl” nos anos 2000. “Acho que é por isso que as pessoas ficaram animadas para me ver”, diz ela. Se o equilíbrio estava aumentando, ainda não estava nem perto do suficiente.

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Reprodução: @craftandcouture / Instagram


As garotas “It” da década de 2010 já não quiseram ser fotografadas ou faladas. Muitos queriam ser CEOs. Aquelas que chegaram ao topo foram aquelas que controlaram a situação: mulheres como Emily Weiss de “Into the Gloss” e “Glossier” e Audrey Gelman de “The Wing”. Ao contrário das histórias tristes das gerações anteriores, nesta época permaneceram as mulheres que usaram seu status para alcançar uma boa carreira e uma estabilidade financeira.

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Reprodução: Acervo Pessoal / Instagram

“Sinto que estou mais definida do que apenas uma “It-girl”. É uma qualidade inefável, mas sou realmente transparente sobre ser melhor em duas outras coisas: em ser atriz e escritora”, diz Hari Nef.

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Reprodução: @tastetreasury / Instagram

Dessa forma, elas sempre tiveram um ônus de influência, independentemente da década, (mulheres compraram vestidos sem alças para imitar Frazier, por exemplo). Por fim, hoje, qualquer “It-girl” que valha a pena seguir tem um stylish e um assessor, e o mistério e o nicho que já foram uma parte elementar das “It-girls” — estão em declínio.

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Reprodução: @girlblogging4ever / Instagram

Para o jornalista Matthew Schneier, do The Cut, a proeminência de uma “it girl” é muitas vezes temporária; algumas das crescentes “it girls” se tornarão celebridades, comumentes através de aparições em reality shows ou séries; além de que, certamente, sua popularidade desaparecerá.

Nesse sentido, vale reconhecer que, conforme a ciclicidade avança, novas influências surgem, adequadas ao contexto social e digital, como na era do TikTok, por exemplo.

Seja como for, a cultura mudou. Estamos todos compartilhando o tempo todo, fofocas de famosos em pequenos círculos de amigos, postando e ganhando seguidores.

Com toda a certeza a moda também passa por diferentes fases. Talvez provavelmente, à medida que as pessoas se autopromovem, perdem sua identidade, com o sucesso se tornando cada vez mais sobre um apelo popular em massa, não posso deixar de me perguntar: estamos na era post-it?

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