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Lady Gaga ressurge em Mayhem com estética sombria e teatral

O sétimo álbum de estúdio de Lady Gaga, Mayhem, foi lançado em 7 de março deste ano (2025). Ele marca o retorno de Lady Gaga, onde o destaque é uma estética sombria, teatral e conceitual, remetendo às suas raízes no dark pop, assim como à era The Fame Monster.  

Os figurinos ousados e performáticos não apenas reforçam sua identidade visual, mas funcionam como parte integrante da narrativa de suas músicas, que exploram temas como doença, feitiçaria, dualidade e renascimento. Através da moda, Gaga constrói personagens e atmosferas que expandem o universo lírico do álbum.

Tendências de Beleza e Figurino da Era Mayhem

Além de nos apresentar o arquétipo da Lady in Red como uma metáfora para as inseguranças e angústias que nos atormentam, Lady Gaga utiliza várias tendências de beleza e figurino para acentuar a mensagem que ela quer passar com o Mayhem. Temos, portanto, o hime cut, que tem referência à nobreza japonesa do período Heian e enfatiza a aura dark de Mayhem, assim como sobrancelhas descoloridas, pele com pouco blush, cabelos e figurinos em tons escuros, além de batons vermelho escuro. 

Gaga também usa um tom de rosa claro nos lábios, com acabamento tint, como também pedrarias e maquiagens suaves, com alguns brilhos, como em Die With a Smile. As unhas, em cores escuras e alongadas, estão sempre combinando com seus looks, além de delineados gráficos e maquiagens em tons quentes, nas cores vinho, marrom, rosa, dourado e vermelho. 

Também podemos observar franjas curtas, conhecidas como baby bangs e tranças, ou seja, Gaga transita entre visuais mais pesados, etéreos e angelicais. Em relação ao figurino, ela tem inspiração em roupas da era Vitoriana, além da estética da marca Thom Browne.

O visual como narrativa: símbolos, dualidades e a construção da Lady in Red

Para entender de maneira mais aprofundada a conexão entre a sua identidade, figurinos e a narrativa das suas músicas, conversamos com a consultora de moda (IFPR), que também é graduanda em Comunicação e Multimeios pela UEL – Campus Maringá, Lola Moura.

Jarina: Como você interpreta a estética da era Mayhem em termos de linguagem visual e simbologia?

Lola: A estética de Mayhem mergulha numa iconografia de colapso e reinvenção: é o caos como catalisador criativo. Visualmente, Gaga mistura ruínas industriais, fetiche futurista e ornamentos reciclados que evocam um apocalipse sensual, interno e externo.

A simbologia conversa com o excesso e a transgressão: é preciso destruir para reconstruir. Tudo sugere que a artista quer desestabilizar códigos tradicionais e questionar a ideia de pureza visual. A impureza do que já existiu um dia e agora é ressignificado é a maior simbologia encontrada na era Mayhem.

Jarina: Que elementos de design nos figurinos de Lady Gaga nessa fase você considera fundamentais para contar a história do álbum?

Lola: Acredito que dois pontos são os mais importantes nos elementos dessa nova era: o primeiro é a hibridização de materiais e o segundo é a silhueta maximalista. Os figurinos incorporam fragmentos como couro reaproveitado, metal retorcido, cristais desconexos, e formas voluptuosas, quase como relíquias de um mundo em colapso, unidos pelo styling. 

Essa montagem caótica traduz a narrativa de Mayhem como um manifesto de liberdade criativa. Os volumes exagerados e as estruturas que parecem armaduras contam a história de alguém que se protege e se expõe ao mesmo tempo.

Jarina: Quais referências de moda (épocas, estilos ou estilistas) você enxerga nas composições visuais de Mayhem?

Lola: A estética da era é um caldeirão de influências: a couture anárquica do Galliano dos anos 90, o techno-trash de Gareth Pugh, pinceladas de um certo fetichismo de Mugler, além de uma nostalgia clubber de final dos anos 80. Ao mesmo tempo, há ecos da estética DIY punk e do utilitarismo desconstruído de Rei Kawakubo. É como se a Gaga metabolizasse esses repertórios e os recriasse em uma nova gramática visual.

Jarina: Você acredita que a moda usada por Gaga nessa era comunica emoções específicas? Quais e como?

Lola: Com certeza. Os looks gritam urgência, insubordinação e um prazer quase erótico em desafiar convenções. O uso de proporções dramáticas comunica poder e demonstra força de quem surgiu das cinzas renovado. E os detalhes fetichistas como cintos, tiras e látex evocam uma sensualidade crua, de quem se apropria da própria vulnerabilidade para criar força.

Jarina: O uso de materiais reaproveitados e figurinos de impacto tem valor estético ou é também uma mensagem conceitual?

Lola: Ambos. Esteticamente, o reaproveitamento cria texturas únicas que podem apenas ser produzidas porque são dessa forma criadas, são únicas. Conceitualmente, é uma provocação contra o consumo descartável, uma metáfora para reconstruir identidade a partir dos restos. Gaga está dizendo que a beleza e a vida podem (e devem) nascer do caos e do imperfeito.

Jarina: Como os figurinos de Mayhem dialogam com o legado visual anterior de Gaga e com o cenário atual da moda pop?

Lola: Eles ampliam o DNA visual que a Gaga já consagrou: teatralidade, disrupção e fetiche. Mas Mayhem parece ainda mais cru, impuro, como já disse. É menos sobre perfeição e mais sobre honestidade visual. Em relação ao pop contemporâneo, é quase um contragolpe ao excesso de polidez: enquanto muitas divas poliram suas estéticas, Gaga abraça o desconforto e a imprevisibilidade, recolocando a moda no centro do debate cultural.

Do culto à persona ao impacto cultural: o Mayhem segundo os fãs

Para compreendermos também a importância da estética do Mayhem para o fandom de Lady Gaga, conhecidos como little monsters, entrevistamos Gustavo Gila, médico atuante em pediatria, formado pela UFMA.

Jarina: O que mais te chamou atenção nos figurinos da era Mayhem?

Gustavo: Pode parecer contra intuitivo quando se trata dos figurinos da Gaga, mas para mim o que se destaca é o senso de unidade que une os diferentes trajes que ela se utilizou para a era atual. Seja pelo estilo de roupa com cores mais fechadas, cortes mais angulosos ou a peruca preta em corte chanel, há algo em todas as fantasias até o momento que já nos permite identificá-la dentro da estética do Mayhem. Também senti esse senso de unidade durante a distribuição de Chromatica, seu álbum anterior.

Jarina: Você sente que os visuais desta fase ajudam a entender melhor o que Gaga quer transmitir com as músicas?

Gustavo: Sinto que a Gaga quis de alguma forma atender aos pedidos mais fervorosos dos fãs que gostariam que ela se reaproximasse de uma persona incorporada ainda no início da carreira, com duração até seu terceiro álbum, Born This Way, a partir do qual a artista decide seguir por outros estilos. Mayhem é um retorno a esse início, mas de maneira alguma se torna repetitivo ou nostálgico, ganhando identidade própria. Os figurinos realçam essa mensagem: há um ar rock´n roll, gótico e punk aqui, que conversam com sua identidade antiga, porém mantendo uma identidade única e nova.

Jarina: Algum look específico te marcou mais? Por quê?

Gustavo: Eu diria que o look com o qual ela promoveu o show em Copacabana há poucos meses, no qual foi apresentado em sua página no Instagram. Conseguiu homenagear a estética do álbum e exibir as cores nacionais construindo um visual fantástico, marcante e, novamente, sinalizando a antiga Gaga que todos aprendemos a amar. Como não se sentir respeitado enquanto fã tupiniquim da diva?

Jarina: Na sua opinião, o estilo de Gaga em Mayhem representa uma nova personagem ou uma volta às origens?

Gustavo: Para mim, o álbum se manteve como um retorno às origens. Não senti que desta vez ela necessariamente se propôs a construir um personagem à parte com mitologia própria, ao contrário do que vimos em seus álbuns anteriores Joanne e ARTPOP!, e até mesmo em seus álbuns compartilhados com Tony Bennett à luz do jazz. Com efeito, os próprios videoclipes lançados até o momento de Mayhem sinalizam e homenageiam momentos diferentes da carreira da artista, indicando essa intenção de resgate às raízes.

Jarina: Você acha que os visuais desta era mudaram a forma como o público percebe o álbum?

Gustavo: Com certeza, pois sedimentam e avolumam a percepção que a artista gostaria que o público apreendesse. Não é exagero afirmar que a maior publicidade do álbum possa ser sintetizada pela frase: ela voltou! E os looks ratificam isso.

Jarina: Como fã, você vê os figurinos como parte essencial da experiência artística de Gaga?

Gustavo: Absolutamente! Em entrevistas, a Gaga sempre mostrou extenso conhecimento acerca da composição de seus visuais, os designers por trás deles e o trabalho compartilhado pensando sobre cada um. Além disso, a Gaga já mostrou seu enorme conhecimento sobre moda e arte fashion. No que tange a figurinos, assim como todo o resto, nada que a Gaga faz é supérfluo ou impensado.

Todo esse esforço se traduz na marca e na originalidade de cada era. Com Mayhem não foi diferente. A cada lançamento, nós, enquanto público, nos perguntamos: quais serão os looks ousados que ela vai inventar para esse novo álbum?! Já esperamos nos surpreender. Por quantos outros artistas nutrimos esse sentimento de maneira tão sustentada ao longo dos anos? Na estética visual, a Gaga encontra seu forte e sua marca. 

Com Mayhem, Lady Gaga não apenas reafirma sua força como artista visual e sonora, mas redefine os limites da estética pop contemporânea. Em tempos em que a padronização reina, ela escolhe o caos, o grotesco e o imperfeito como forças criativas. Seus figurinos se tornam portais para novas leituras emocionais e simbólicas, abrindo espaço para interpretações que vão além do palco. O álbum representa um retorno às origens sem perder o frescor da reinvenção, uma prova de que, no “gagaverso”, a moda também é vestimenta, e não apenas manifesto.

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Escrito por: Jarina Milena | Editado por: Flavia Cavalcante

Estudante de Audiovisual, Redatora, Cientista Social e Fotógrafa gótica e indie que ama escrever, criar e estar antenada no mundo da moda, cinema e afins. Moda é comunicação, expressão e vinculação social, portanto ela ama utilizá-la como uma ferramenta para mostrar como está se sentindo no dia, com senso crítico e questionamentos. Ama um sorvete de casquinha mista, viajar e sair da rotina quando possível.

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