Fragments for Venus: quando a mulher negra ocupa o centro da tela
Alice Diop dirige o 30º filme da coleção Miu Miu Women’s Tales: um manifesto visual sobre o lugar da mulher negra na arte.

Contratada pela Miu Miu Women’s Tales, a cineasta francesa Alice Diop, diretora do longa-metragem Saint Omer (2022) – vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival Internacional de Veneza – retorna às telas dirigindo o curta-metragem Fragments For Venus (2025) onde debate de forma poética e contemplativa o lugar da mulher negra na Arte.
Dividido em duas partes, o 30° filme encomendado pela Miu Miu Women’s Tales – uma iniciativa que dá voz à diretoras para contarem histórias através de curtas-metragens – acompanha uma jovem negra num passeio pelo Louvre onde observa, calmamente, os quadros clássicos e suas descrições, reparando no protagonismo e representatividade do belo dado exclusivamente às mulheres brancas e o oposto representado ao retratar pessoas negras. Já a segunda parte acompanha a tarde de uma mulher no Brooklyn, que caminha pelo bairro e se vê representada pelas mulheres negras que atravessam seu caminho e a arte de rua, que não esconde mas exalta a beleza afro-americana.

Apesar de ser uma obra de ficção inspirada na vida da própria diretora, Diop também se inspirou no livro de poesia norte-americana “Voyage of the Sable Venus” (2015) da Robin Coste Lewis, vencedora do National Book Award for Poetry para criação de seu filme.
Fragments For Vênus, vai além de uma experiência pessoal, ele aborda uma lacuna racial e um vazio que se estende à todas as mulheres negras quando o assunto é apagamento, principalmente, seu apagamento na arte. A trama é construída em um ritmo lento, porém poético, onde grita sua mensagem justamente ao não abordar o assunto de forma explícita, mas guiando o olhar do espectador pela visão das personagens. A obra termina com uma mensagem de esperança e empoderamento ao retratar a beleza negra nas ruas e a arte nos muros do Brooklyn fechando o curta com obras de mulheres negras sendo exibidas.

A obra discute através das imagens mais do que apagamento, mas a narrativa colonial e como a arte considerada erudita ainda trabalha à favor de narrativas racistas e eurocentricas das elites e do estado. Como também a resistência no olhar mediante esse apagamento. O curta é um convite a direcionar o olhar para os lugares certos, porque, apesar do racismo estrutural e apagamento ainda presentes na Arte, há beleza e resistência em ser uma mulher negra.
Fragment For Vênus está disponível na MUBI e no Canal da Miu Miu no Youtube.
Escrito por Millena Santiago | Editado por Ana Carolina Gomes


