Capulana: um Must Have da Moda Moçambicana
A Capulana está na categoria must have no glossário da moda. Fui apresentada à ela em uma tarde de junho de 2023. No ônibus da faculdade, vi subir uma moça com umas roupas que pareciam típicas. Eu sabia que era uma gringa, por coincidência, ela sentou ao meu lado e curiosa, me apresentei, claro. Conversa vai, conversa vem, acabei convidada para participar de uma oficina que ela estava elaborando sobre o tecido.
O que eu não sabia é que esse convite, na verdade, me inspiraria a criar uma série de textos sobre peças que devemos ter e conhecer a depender do lugar que estivermos. Capulanas, Sáris, Kimonos, Hanboks, carregam em cada fio, a tradição e a cultura. E o que é a moda se não uma forma de representar ou contar a história através de tecidos, linhas e agulhas? Assim sendo, viajaremos ao continente africano e hoje falaremos sobre a capulana.
História da Capulana: A Ancestralidade
De acordo com estudiosos, a capulana chegou a África pela primeira vez por volta dos séculos IX a X por intermédio das trocas comerciais entre persas e árabes. Utilizada como moeda, o tecido foi por muito tempo um símbolo de poder e riqueza; ou seja, era acessível apenas à monarquia.
Para além dos jargões do mundo fashion, a peça carrega a cultura, as dores e alegrias, novos começos e a morte.
Originária de Moçambique, é praticamente impossível pisar no país e sair de lá sem uma capulana. De fato, todas carregam muitas histórias. Da capulana que envolveu o primeiro recém-nascido à usada para velar um ente querido. É impossível viver em Moçambique sem contato com uma. Afinal, ela é um elemento essencial na vida cotidiana
A Feminilidade
Uma peça essencial para a moda em Moçambique, especialmente para as mulheres, é um tecido que conecta ancestralidade, cultura e feminilidade. Assim, cria um jeito único de viver e se apresentar ao mundo. Não tem uma mulher por lá que não tenha pelo menos uma na gaveta. O pano é utilizado como um instrumento para um rito de passagem importante no país: o casamento. Portanto, é dado à noiva como forma de representar que agora ela é uma senhora adulta.
Como Usar Capulanas: As Mil e Duas Utilidades
História, antropologia, etnografia, sociologia, etnobotânica, zoobotânica, geografia, política, espiritualidade e o luto: para todos esses aspectos da vida humana, há uma capulana. Por exemplo, durante uma cerimônia de enterro, a viúva usa uma capulana branca e preta, a qual cobre seu rosto escondendo seu lamento.
Uma jovem moçambicana, ao chegar em casa após o trabalho, troca de roupa e amarra o tecido ao corpo como saia para terminar suas tarefas diárias. Em outra ocasião, amarrar na cabeça também é uma possibilidade. Aliás, na oficina, aprendi que essa é uma das principais utilidades. As mulheres quando precisam buscar água ou alguma outra coisa, mas principalmente água, amarram o tecido à cabeça para camuflar o peso. Certamente, facilita o trajeto.
Costurar o pano em sapatos, pulseiras e bolsas também é uma possibilidade, embora menos óbvia. Na Fashion Week Moçambicana é possível ver peças criadas a partir de capulanas. O designer natural de Moçambique, Nivaldo Thierry marca presença no evento trazendo no vestuário essa mescla ao tecido. Como resultado, os acessórios em capulana são sua trademarks.
A Casa Elefante
A meca das capulanas, a Casa Elefante é o lugar que você precisa visitar em Moçambique. “Império das Capulanas, desde 1919”, é assim que a casa se define em seu site e, afinal, quem somos nós para discordar, já que qualquer um que veja fotos do local percebe que por lá existe uma infinidade de cores e estampas.
Localizada em Maputo, na avenida 25 de Setembro, a loja é, inegavelmente, um dos pontos turísticos da cidade.
Dedico esse texto a minha querida amiga, Isabel. Moçambicana e intercambista, que me convidou para o evento no campus e mostrou as utilidades do tecido em sua cultura. No nosso último encontro antes dela retornar ao seu país, ela me presenteou, surpreendentemente, com uma capulana que ilustra a capa dessa matéria. Com carinho, eu guardo.
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Escrito por: Isabella Jacoud | Editado por: Ana Carolina Marinho